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A analgesia e a sedação são pilares da terapia intensiva. Dor, ansiedade, agitação, desconforto e insônia são disfunções apresentadas pelos pacientes internados em centros de terapia intensiva (CTIs) de todo o mundo. Fornecer conforto e bem-estar ao paciente grave é um dever do médico. O uso das medicações analgésicas está amplamente difundido no dia a dia de todo plantonista de CTI. Deve-se conhecer, entretanto, o melhor meio de aplicar os conceitos de farmacologia para utilizar as medicações da maneira mais adequada possível.
A analgesia desempenha papel fundamental na terapia intensiva. O paciente crítico tem como companhia dor e desconforto decorrentes tanto de procedimentos cirúrgicos ou clínicos invasivos, como também de uso de medicações, infusões, aspiração de vias aéreas, cuidados de enfermagem, ventilação mecânica, drenos e suportes de monitorização.
Ademais, deve-se sempre recordar que se trata de um paciente restrito ao leito. A dor produz desequilíbrio do bem-estar, com alteração direta do ritmo de sono, estado hiperdinâmico, má adaptação respiratória, febre, agitação e desorientação. A avaliação da dor deve ser rotineira e diária. A analgesia não deve ser poupada.
Sempre avalie a intensidade da dor e a resposta do paciente à terapêutica administrada.
Atenção! Uma pontuação < 3, após a administração do fármaco, sugere sucesso no tratamento, respeitando-se o tempo esperado de ação da medicação empregada.
Em casos de pacientes em vigência de sedação profunda a avaliação na escala previamente descrita fica comprometida sendo uma outra ferramenta importante a escala comportamental de dor (
Behavorial Pain Scale
[BPS]).
A escala BPS, quando soma > 5, é indicação definitiva de analgesia. A maior controvérsia envolvendo essa escala é que os pacientes que mais se beneficiariam de sua aplicação seriam os mais sedados e, sendo assim, dificilmente pontuariam.
Em casos de traumatismo cranioencefálico (TCE), a sedação pode favorecer a indução do coma e o consequente "silêncio elétrico", que reduz a demanda metabólica cerebral.
O estado de agitação psicomotora associada ao
delirium
é comum na terapia intensiva. Para esse grupo de pacientes, não está indicada a sedação profunda. O uso de antipsicóticos é o mais recomendado (ex.: Haloperidol [típico] ou Risperidona [atípico]).
A sedação pode incluir ou não a hipnose, sendo mensurada, frequentemente, pelas escalas de
Ramsay e Richmon Agitation-Sedation Scale (
RASS).
Avaliação e monitorização:
O uso da sedação deve cumprir seu papel, fundamentalmente oferecendo conforto ao paciente. O uso excessivo, desnecessário e prolongado pode conduzir a diversas complicações. O emprego por mais de 1x/dia de escala de monitorizações e a realização do despertar diário (para os pacientes hábeis, clinicamente estáveis e sob vigilância intensiva) são recomendações atuais da boa prática médica. Duas escalas se destacam nesse processo de avaliação: (1) Ramsay, a mais utilizada; e (2) RASS, a mais completa. A escolha das escalas fica a critério de cada serviço.
| Ramsay | Condição |
| I | Paciente acordado e agitado, ansioso ou inquieto |
| II | Paciente acordado e colaborativo |
| III | Paciente dormindo, despertável com estímulo verbal, responsivo a comandos |
| IV | Paciente dormindo, despertável com estímulo verbal vigoroso ou leve toque da glabela |
| V | Paciente dormindo, despertável com estímulo álgico leve (compressão glabelar) |
| VI | Paciente dormindo, sem resposta à compressão glabelar |
| RASS | Referência | Descrição da resposta |
| +4 | Combativo | Violento com risco para todos |
| +3 | Muito agitado | Remove monitorização, agride verbalmente |
| +2 | Agitado | Movimenta-se excessivamente, mal adaptado à ventilação mecânica |
| +1 | Inquieto | Movimenta-se não excessivamente, sem agressividade |
| 0 | Alerta e calmo | Tranquilo e acordado |
| -1 | Sonolento | Dormindo, porém desperta ao chamado com abertura ocular > 10 segundos |
| -2 | Sedação leve | Desperta ao chamado |
| -3 | Sedação moderada | Ao chamado, movimenta-se ou apresenta abertura ocular sem contato |
| -4 | Sedação intensa | Movimenta-se ou apresenta abertura ocular ao toque |
| -5 | Não desperta | Não responde a qualquer tipo de estímulo |
Medicações utilizadas principalmente para facilitar a intubação orotraqueal (ex.: intubação em sequência rápida), bem como em pacientes com síndrome do desconforto respiratório grave com assincronias. Sempre utilizar associado a sedativos e analgésicos para complementação dos efeitos.
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