' Choque Obstrutivo - Prescrição
Conteúdo copiado com sucesso!

Choque Obstrutivo

Voltar

Definição: Choque circulatório (desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio) caracterizado por uma obstrução extracardíaca ao fluxo sanguíneo por diversas etiologias.

  • Menos frequente que outros tipos de choque (2% dos choques nos pacientes de UTI);
  • Etiologia importante a ser considerada na abordagem inicial do paciente hipotenso e com choque de etiologia indefinida, pela possibilidade de rápida piora e elevada mortalidade;
  • Débito cardíaco é reduzido pela obstrução ao retorno venoso (tamponamento cardíaco e pneumotórax hipertensivo) com redução de pré-carga do ventrículo direito, e, por consequência, do ventrículo esquerdo. Também pode ocorrer obstrução ao fluxo sanguíneo na artéria pulmonar (tromboembolismo pulmonar), com redução da pré-carga somente do ventrículo esquerdo. Além disso, devido a restrição ao retorno venoso, a pressão venosa central geralmente está elevada (exceto se hipovolemia importante).
  • Tamponamento cardíaco;
  • Pneumotórax hipertensivo;
  • Hipertensão intra-abdominal;
  • Sobredistensão pulmonar (ex.: auto-PEEP);
  • Tromboembolismo pulmonar maciço.
  • Tromboembolismo pulmonar: A embolia pulmonar provoca um aumento na resistência vascular pulmonar (RVP), devido à obstrução física do leito vascular pulmonar por trombos. Além disso, ocorre vasoconstrição hipóxica no sistema arterial pulmonar. Esse aumento na RVP, por sua vez, dificulta a saída do fluxo sanguíneo do ventrículo direito e resulta na dilatação dessa câmara, levando ao abaulamento e retificação do septo interventricular. Esse fenômeno resulta na restrição do enchimento do ventrículo esquerdo, reduzindo o volume sistólico e, consequentemente, o débito cardíaco;
  • Pneumotórax hipertensivo: A entrada progressiva de ar na cavidade pleural por um mecanismo valvular unidirecional causa colapso do pulmão ipsilateral. Além disso, na medida em que a pressão intrapleural se eleva, ocorre em um desvio contralateral do mediastino. Isso causa colapso dos grandes vasos mediastinais, com choque obstrutivo por restrição do retorno venoso e ao enchimento das câmaras cardíacas;
  • Tamponamento cardíaco: O acúmulo de líquido no espaço pericárdico provoca um aumento na pressão intrapericárdica, com impacto variável, conforme o volume de líquido e a velocidade de instalação. Quando a pressão intrapericárdica atinge um nível significativamente superior à pressão intracardíaca, as câmaras cardíacas colapsam e ocorre uma restrição ao enchimento ventricular.
    Clínica:
  • Tromboembolismo pulmonar: Hipotensão, taquicardia, dispneia, dor torácica, dor pleurítica, tosse, sinais de trombose venosa profunda;
  • Tamponamento cardíaco: Hipotensão, abafamento de bulhas, turgência jugular (Tríade de Beck), pulso paradoxal (queda da pressão arterial sistólica > 10 mmHg durante a inspiração), turgência jugular patológica;
  • Pneumotórax hipertensivo: Dispneia, redução do murmúrio vesicular ipsilateral, hipertimpanismo na percussão, desvio contralateral da traqueia, turgência jugular patológica e dor pleurítica.
    Exame de imagem:
  • Tromboembolismo pulmonar:
    • Ecocardiografia: Dilatação das câmaras direitas com desvio paradoxal do septo interventricular (síndrome de Bernheim reverso), dilatação da veia cava inferior, sinal de McConnell (hipocinesia da parede livre do ventrículo direito com hipercontratilidade apical) e hipertensão pulmonar;
    • Angiotomografia de tórax: Falha de enchimento de ramos proximais da artéria pulmonar e relação ventrículo direito/ ventrículo esquerdo > 0.9;
    • ECG: Taquicardia sinusal, podendo estar presente o padrão S1Q3T3 sugestivo de sobrecarga ventricular direita.
  • Pneumotórax hipertensivo:
    • Ultrassonografia pulmonar: Padrão de linhas A, porém com ausência de deslizamento pleural e ausência de linhas B na região afetada. Achado de ponto pulmonar ( lung point ) é patognomônico;
    • Radiografia de tórax: Pode não identificar pneumotórax pequeno ("pneumotórax oculto" - só visto na tomografia). Pneumotórax volumoso pode causar colapso do pulmão ipsilateral e desvio do mediastino contra-lateral.
  • Tamponamento cardíaco:
    • Ecocardiografia: Derrame pericárdico volumoso, dilatação da veia cava inferior, colapso de câmaras direitas (durante sístole atrial e diástole ventricular), e aumento da variação respiratória dos fluxos transvalvares mitral (> 25%) e tricúspide (> 40%);
    • Eletrocardiograma: Baixa voltagem, alternância elétrica.
    O tratamento depende da etiologia do choque obstrutivo:
  • Tamponamento cardíaco:
    • Periocardiocentese (punção de Marfan) se parada cardioreespiratória ou iminência de PCR;
    • Drenagem pericárdica cirúrgica é preferível, sempre que possível;
    • Atenção! P acientes apresentam alto risco de hipotensão grave durante e após intubação orotraqueal.
  • Pneumotórax hipertensivo:
    • Tratamento imediato: Toracocentese de emergência (descompressiva) no 5º espaço intercostal na linha axilar média ipsilateral ao pneumotórax;
    • Tratamento definitivo: Drenagem pleural com dreno em selo d'água ou dreno pigtail com válvula de Heimlich.
  • Tromboembolismo pulmonar de alto risco:
    • Trombólise (Alteplase 100 mg IV em 2 horas);
    • Embolectomia cirúrgica (aberta ou percutânea) se houver contraindicação a trombólise, ou quando ocorrer piora, a despeito da trombólise;
    • ECMO veno-arterial em casos selecionados.

Autoria principal: Yuri de Albuquerque (Medicina Intensiva).

Revisão: Vinícius Zofoli (Medicina Intensiva).

    Equipe adjunta:
  • Rafael Arruda Alves (Emergencista com especialidade em Emergência Pediátrica e Medicina Intensiva).

Vincent JL, De Backer D. Circulatory shock. N Engl J Med. 2013; 369(18):1726-34.

Roy CL, Minor MA, Brookhart MA, et al. Does this patient with a pericardial effusion have cardiac tamponade? JAMA. 2007; 297(16):1810-8.

Vincent JL. Understanding cardiac output. Crit Care. 2008; 12(4):174.

Pich H, Heller AR. Obstruktiver Schock [Obstructive shock]. Anaesthesist. 2015; 64(5):403-19.

Sekhri V, Mehta N, Rawat N, et al. Management of massive and nonmassive pulmonary embolism. Arch Med Sci. 2012; 8(6):957-69.

Gottlieb M, Long B. Managing Spontaneous Pneumothorax. Ann Emerg Med. 2023; 81(5):568-576.

Henry S. ATLS - Advanced Trauma Life Support. 10th ed. Chicago: ACS American College of Surgeons, 2018.