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Definição: Trata-se de uma ferramenta utilizada para melhorar o cuidado dos pacientes em ventilação mecânica que estão internados em centros de terapia intensiva (CTI). Contém seis passos cujo objetivo é coordenar os cuidados do paciente grave, permitindo uma alta precoce e com menos morbidades.
O "ABCDEF" refere-se a um acrônimo derivado do inglês, que significa: A ssess, prevent, and manage pain; B oth spontaneous awakening and breathing trials; attention to the C hoice of analgesia and sedation; D elirium monitoring and management; E arly mobility and exercise; and F amily engagement and empowerment (ABCDEF) bundle .
O autorrelato de dor do paciente usando uma escala de classificação numérica de 1 a 10 (EVA) é considerado o padrão-ouro.
Nos casos em que o paciente não pode relatar a dor, indicadores comportamentais e fisiológicos podem ser utilizados para a avaliação (ex.: expressão facial, movimentos corporais ou tensão muscular, complacência com a ventilação mecânica).
Para mais informações sobre controle da dor, acesse Analgesia e Sedação.
Protocolos de despertar espontâneo devem ser aplicados diariamente em todos os pacientes da CTI. Deve-se pausar a sedação diariamente e, se necessário, reiniciar com a metade da dose anterior, titulando conforme necessário.
É um passo muito importante uma vez que a utilização desses protocolos encurta a duração do tempo em ventilação mecânica e tempo de internação no CTI.
Caso o teste de despertar diário seja bem-sucedido, deve-se realizar um teste de respiração espontânea, visando a extubação precoce.
O fluxograma a seguir resume os passos a serem seguidos pela equipe, com os critérios de elegibilidade em verde e os critérios de falha em vermelho, para cada uma das situações.
A escolha da estratégia a ser utilizada com sedativos e analgésicos possui impacto no cuidado de pacientes críticos. Devemos evitar sedação excessiva para permitir ao paciente uma extubação precoce.
Atualmente, recomenda-se que sedações muito profundas sejam evitadas. O objetivo é a manutenção do RASS de -2 a +1.
Tentar evitar uso de benzodiazepínicos. Dois grandes estudos avaliaram benzodiazepínicos contra a Dexmedetomidina. O estudo SEDCOM (
Safety and Efficacy of Dexmedetomidine Compared
com Midazolam) mostrou uma redução na prevalência de
delirium
e na duração ventilação mecânica em pacientes sedados com Dexmedetomidina em comparação com Midazolam.
Para mais informações, acesse Analgesia e Sedação.
Pacientes no CTI possuem risco aumentado de delirium . Por isso, mesmo nos que estão em ventilação mecânica, essa complicação deve ser rastreada ativamente.
Para tanto, deve-se aplicar a escala de RASS a cada 2 horas após a suspensão da sedação. Se o paciente estiver com RASS ≥ 3, pode-se aplicar a escala do CAM-ICU a cada 8 horas.
Em caso de delirium pelo CAM-ICU, deve-se identificar os fatores relacionadas ao delirium e tentar minimizá-los, na medida do possível.
Para mais informações, acesse Delirium e as calculadoras disponíveis no Whitebook.
Exercícios físicos/mobilização precoces em pacientes no ambiente de terapia intensiva têm por objetivo minimizar a intensa sarcopenia que pode surgir em decorrência de longos períodos de imobilidade e de estados hipercatabólicos. Essa prática deve ser estimulada sempre que possível, com a ajuda de um fisioterapeuta com treinamento específico.
Em casos de falha, deve-se compensar o paciente e iniciar nova tentativa assim que possível.
A participação dos familiares na condução do caso de pacientes críticos deve ser estimulada.
Esse contato mais próximo com a equipe de saúde abre a possibilidade para que eles exponham suas preocupações, receios e dúvidas quanto ao caso de seu familiar.
Além disso, é importante destacar que a internação no CTI não impacta somente o indivíduo doente, mas toda a sua estrutura de suporte (familiares, amigos e outros cuidadores).
Autoria principal: Gustavo Guimarães Moreira Balbi (Clínica Médica e Reumatologia).
Revisão:
Mariana Sobreiro (Geriatria e Clínica Médica).
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