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Remoção de Corpo Estranho Nasal

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Definição: Descrição do procedimento de retirada de corpo estranho em cavidade nasal na Atenção Primária à Saúde. Mais comum em crianças.

Os corpos estranhos de nariz geralmente apresentam baixa morbidade, mas podem gerar danos à mucosa e infecção, evoluindo com epistaxe ou secreção nasal fétida unilateral.

Em raros casos, esses corpos estranhos podem ser aspirados ou até mesmo podem permanecer na fossa nasal por semanas, meses e anos. Neste último caso, podem se apresentar como rinolitos, com concreções calcáreas depositadas progressivamente ao redor do corpo estranho.

Corpos estranhos nasais são mais comuns em crianças e podem ser classificados como inorgânicos (comumente pedaços de brinquedos, miçangas e peças de plástico) e orgânicos (sementes, ervilha, feijão, madeira, borrachas e esponjas).

Em relação à localização, são comumente encontrados no assoalho nasal em contato com a concha nasal inferior (geralmente anterior ou medial a essa estrutura) ou anteriores à concha nasal média.

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O quadro clássico é de paciente apresentando quadro de secreção nasal mucopurulenta unilateral associado a mau odor. No entanto, acompanhantes que tenham presenciado a inserção do objeto frequentemente procuram atendimento médico antes do início dos sintomas.

No exame físico, deve ser realizada a rinoscopia anterior com a cabeça do paciente em posição neutra e, idealmente, iluminação com luz frontal (fotóforo). Uma boa exposição da fossa nasal pode ser conseguida com a elevação da ponta nasal com o 1° quirodáctilo do examinador ou com uso de um espéculo nasal.

No caso de uma primeira avaliação difícil e inconclusiva devido à hipertrofia de cornetos inferiores, um segundo exame pode ser facilitado pela aplicação de vasoconstrictor tópico nasal (ex.: Oximetazolina 0,05% ou Adrenalina 1:2000), retraindo estas estruturas e permitindo uma melhor inspeção.

Observação merece ser feita quanto à possibilidade de tal retração facilitar também a migração posterior do corpo estranho, o que não é regra, mas merece atenção. Um otoscópio também pode ser utilizado para a rinoscopia, permitindo magnificação e boa visão.

Caso o corpo estranho suspeito não seja visualizado, deve-se realizar uma minuciosa ausculta pulmonar para que seja avaliada a possibilidade de aspiração para a árvore traqueobrônquica (o corpo estranho pode reduzir o murmúrio vesicular).

  • Pacientes com corpo estranho nasal visualizado.
    As seguintes situações contraindicam a realização do procedimento na APS e indicam encaminhamento ao especialista (otorrinolaringologista):
  • Dificuldade em manter o paciente imobilizado (principalmente no caso de crianças);
  • Não visualização do corpo estranho nasal;
  • Epistaxe em atividade;
  • Ausência de materiais adequados para se realizar a remoção do corpo estranho;
  • Insucesso na tentativa de retirar o corpo estranho.
  • Espéculo nasal ou, na ausência deste, otoscópio;
  • Pinça anatômica ou pinça hemostática;
  • Gancho rombo atraumático de corpo estranho nasal;
  • Cateter nasal ou sonda urinária de alívio (se necessário);
  • Bomba de sucção com aspirador de nariz rombo (se necessário).

1. Mantenha uma boa iluminação no ambiente.

2. Realizar a inspeção nasal, inicialmente sem o espéculo nasal (elevação da ponta nasal).

3. Introduzir cuidadosamente o espéculo nasal para evitar empurrar ainda mais o corpo estranho.

4. Com a pinça (anatômica ou hemostática), pinçar o objeto e retirá-lo da cavidade nasal cuidadosamente. Pode-se utilizar o gancho rombo atraumático de corpo estranho nasal, entrando mais alto que o corpo estranho e realizando um movimento semelhante a uma curetagem - de maneira delicada para evitar lesão mucosa.

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5. No caso de o corpo estranho não ser visualizado, utiliza-se o cateter nasal (ou a sonda urinária de alívio) acoplado à bomba de sucção e tenta-se a expulsão do objeto.

6. Cuidadosamente, explorar a cavidade nasal em busca de outros fragmentos ou lesões.

Técnicas Alternativas

Remoção sob exalação forçada; em alguns casos em que o corpo estranho se encontra posteriorizado ou de difícil remoção, é possível tentar a técnica de exalação forçada.

Esta técnica pode ser realizada com um dispositivo bolsa-válvula-máscara ou com o auxílio de um dos pais, que irá obstruir a boca da criança com a própria boca e a narina contralateral com um dedo, realizando a seguir uma exalação forçada através da boca da criança, normalmente projetando o corpo estranho para fora da fossa nasal livre (técnica também chamada de parent’s kiss ).

A despeito de ser controverso na literatura e conduta de exceção, na experiência dos autores a lavagem nasal é uma opção para a remoção de corpo estranho.

Deve-se ter certeza do lado onde encontra-se o objeto e lavar a fossa nasal contralateral com soro fisiológico e dispositivos de alto volume (ex.: Seringa de 20 mL). O volume da solução, extruindo-se pela fossa nasal contralateral (onde situa-se o corpo estranho), tende a carreá-lo para fora.

Em caso de dúvidas quanto à lateralidade do corpo estranho, tal conduta está proscrita devido à possibilidade de broncoaspiração.

É importante realizar a procura de corpos estranhos adicionais, seja no nariz ou em outras cavidades do corpo.

Cuidado especial deve ser tomado durante a remoção para evitar traumatismo na mucosa nasal e para evitar que o corpo estranho se desloque posteriormente, com risco de aspiração.

  • A presença de corpos estranhos nasais pode gerar complicações como perfuração do septo nasal, tétano, epistaxe, ulceração da mucosa nasal, rinossinusite aguda bacteriana e suas complicações orbitárias/periorbitárias. Essas complicações estão diretamente relacionadas a alguns fatores, como tempo de permanência e as características do corpo estranho nasal.

Autor(a) principal: Renato Bergallo (Medicina de Família e Comunidade).

Revisor(a): Gabriel Caetani (Otorrinolaringologista).

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