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Remoção de Corpo Estranho de Conduto Auditivo

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Definição: Técnica para remoção de objetos ou pequenos seres vivos (insetos) do meato acústico externo. É uma situação comum na Atenção Primária à Saúde, principalmente entre crianças pré-escolares.

O atendimento a casos de corpos estranhos localizados no meato acústico externo (MAE) é delicado e por vezes desafiador, especialmente para os profissionais que não o realizam com frequência ou não possuem os instrumentais adequados para tal.

A remoção bem-sucedida depende de diversos fatores, entre eles o tipo de corpo estranho impactado, a localização mais lateral ou medial no MAE, o tempo de impactação, a colaboração do paciente, tentativas prévias de remoção e a apresentação clínica.

A otoscopia deve ser realizada em pacientes com relato de presença de corpo estranho na orelha, devendo ser identificado quanto à sua natureza e localização, bem como verificado a integridade da membrana timpânica e possíveis sinais de infecção secundária.

A técnica a ser empregada para a retirada depende das características do corpo estranho.

A maioria dos casos, que correspondem a pequenos objetos inorgânicos, podem ser retirados do conduto com irrigação de água morna (temperatura corporal, 36-37ºC), como na lavagem otológica para remoção de cerúmen.

É possível que sementes que estejam há muitos dias no meato acústico externo possam germinar. Nesse caso, assim como para fragmentos de algodão aderidos, a remoção pode ser realizada através de pinça delicada.

Insetos vivos devem ser imobilizados antes da sua remoção, utilizando-se substância oleosa (óleo mineral, vaselina) ou álcool no meato.

  • Pacientes com corpo estranho em meato acústico externo.
    As seguintes situações contraindicam a realização do procedimento na APS, devendo o paciente ser encaminhado para avaliação do especialista (otorrinolaringologista):
  • Ausência de otoscópio na unidade;
  • Perfuração de membrana timpânica;
  • Impossibilidade de visualização da membrana timpânica;
  • Objetos pontiagudos ou de natureza corrosiva;
  • Presença de larvas de insetos no meato (miíase);
  • Histórico de cirurgia otológica;
  • Presença de otorragia;
  • Ausência de materiais adequados para a remoção do corpo estranho;
  • Presença de otite (externa ou média) associada ao quadro.
    Para a remoção com técnica de irrigação:
  • Campo ou toalha;
  • Otoscópio e otocone;
  • Cuba rim;
  • Seringa (20 ou 60 mL);
  • Luvas de procedimento;
  • Scalp calibroso (> 19) cortado com aproximadamente 2 cm;
  • Tesoura;
  • Água aquecida (em torno de 30 segundos no microondas em potência máxima, objetivando uma temperatura de 36-37ºC).
    Para a remoção com técnica de irrigação:
  1. Manter o paciente confortável e sentado.
  2. Examinar a orelha, realizando tração da hélice da orelha posterior e superiormente, de maneira a retificar o meato.
  3. Utilizando-se o otoscópio, procura-se identificar o corpo estranho e visualizar a membrana timpânica em toda a sua extensão.
  4. Preparar o material: Cortar o scalp com a tesoura, deixando em torno de 2 cm de tubo extensor e aquecer a água até aproximadamente a temperatura corporal (em torno de 30 segundos na potência máxima do microondas).
  5. Colocar a água na cuba redonda ou em outro recipiente higienizado. Aspirar o soro com a seringa até completar.
  6. Acoplar o scalp à seringa.
  7. Posicionar o campo ou a toalha no ombro do paciente, abaixo do ouvido no qual será feito o procedimento.
  8. Posicionar a cuba rim sobre a toalha e abaixo da orelha do paciente, com leve inclinação da cabeça do paciente.
  9. Calçar as luvas.
  10. Introduzir na orelha onde está o corpo estranho a extremidade cortada do scalp com a concavidade voltada para frente (a fim de se evitar um jato laminar sobre a membrana timpânica).
  11. Instilar a água de forma contínua e firme, escoando-a na cuba rim.
  12. Após esvaziada a seringa, retirar o scalp e aspirar o soro novamente, repetindo a operação quantas vezes forem necessárias (caso não ocorra a saída do corpo estranho após diversas lavagens, considerar o uso de pinça fina ou encaminhamento ao otorrinolaringologista).
  13. Verificar a saída do corpo estranho e, por meio da otoscopia, se ainda há possíveis fragmentos a serem removidos.
  14. Interromper o procedimento em caso de dor, desistência do paciente, insucesso após inúmeras tentativas ou remoção completa do corpo estranho.

Para pacientes pouco cooperativos ou que estejam sentindo dor, é aconselhável a remoção em centro cirúrgico sob sedação e anestesia local.

Objetos impactados no meato ou muito próximos à membrana timpânica são removidos com maior segurança sob otomicroscopia ou videotoscopia.

Baterias não devem ser removidas com irrigação.

Em crianças, devemos sempre suspeitar de corpo estranho em outros sítios associados, por isso sempre examinar bem as fossas nasais.

Algumas complicações podem ocorrer, como a evolução para otite externa difusa aguda, medialização do corpo estranho, laceração/irritação/edema do MAE e até mesmo perfuração da membrana timpânica durante a tentativa de remoção.

Autor(a) principal: Renato Bergallo (Medicina de Família e Comunidade).

Revisor(a): Gabriel Caetani (Otorrinolaringologia).

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