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Sutura de Feridas

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Definição: Trata-se da aposição dos tecidos lesionados em camadas sem tensão ou compressão, com objetivo de facilitar o processo de cicatrização. Pode ser realizado primariamente (no momento da apresentação) ou tardiamente - terceira intenção.

Para mais informações, acesse Cuidados Iniciais com Feridas.

A sutura é o método mais utilizado para o fechamento de feridas cutâneas, tendo como objetivo a aproximação das bordas da lesão, visando restabelecer a anatomia, reduzir o risco de infecções, favorecer a cicatrização primária e obter um melhor resultado estético e funcional. A escolha da técnica, do fio e do instrumental deve considerar a localização, profundidade, tensão e vascularização da ferida, assim como o risco de infecção e características individuais de cada paciente.

  • Feridas traumáticas agudas sem contaminação grosseira ou infecção, com sangramento controlado (hemostasia), ausência de tensão para o fechamento, ausência de corpo estranho ou isquemia local;
  • Incisões cirúrgicas;
  • Lacerações com bordas viáveis e boa perfusão;
  • Feridas que necessitem controle hemostático e estética.
  • Tempo da ferida :
    • Até 6 a 8 horas (maior parte das feridas);
    • Até 10 a 12 horas em áreas de maior vascularização (face, couro cabeludo).

Observação! Alguns autores defendem o fechamento primário para sutura até 18 horas após o ferimento para lesões limpas, não infectadas, e em áreas bem vascularizadas, e em até 24 horas para face e couro cabeludo. [cms-watermark]

  • Contaminação grosseira da ferida;
  • Ferida infeccionada;
  • Perda muito grande de substância, havendo tensão para fechamento da ferida;
  • Retenção de corpo estranho;
  • Evidência de necrose ou isquemia local importante;
  • Ferimentos perfurantes por arma de fogo ou prego;
  • Feridas por mordidas humanas ou animais em áreas de risco (considerar fechamento por segunda intenção).
  • Tempo prolongado entre o trauma e a avaliação:
    • Acima de 6 a 8 horas (maior parte das feridas);
    • Acima de 10 a 12 horas em áreas de maior vascularização (face, couro cabeludo).

Observação! Alguns autores defendem o fechamento primário para sutura até 18 horas após o ferimento para lesões limpas, não infectadas, e em áreas bem vascularizadas, e em até 24 horas para face e couro cabeludo.

  • Equipamento de proteção individual (EPI): luvas estéreis, touca, máscara;
  • Pacotes de gaze estéril;
  • Campos estéreis;
  • Solução degermante e antisséptica;
  • Solução fisiológica a 0,9% ;
  • Anestésico local ( Lidocaína 1 a 2% ) ;
  • Seringas;
  • Agulhas;
  • Materiais cirúrgicos: porta-agulha, pinça dente de rato, pinça anatômica, tesoura;
  • Fio de sutura cirúrgica;
  • Material para curativo.

Fios de Sutura e Suas Propriedades [cms-watermark]

    Fios inabsorvíveis: [cms-watermark]
  • Náilon/Nylon: monofilamentar, com mínima reação tecidual. Uso: suturas dérmicas; [cms-watermark]
  • Algodão: m ultifilamentar, baixa reação tecidual, com boa tensão. Uso: ligaduras vasculares e mucosa oral; [cms-watermark]
  • Seda: multifilamentar, considerada não absorvível, mas perde resistência progressivamente em meses a anos devido a degradação enzimática.Baixa reação tecidual. Uso: ligaduras vasculares e mucosa oral; [cms-watermark]
  • Polipropileno (Prolene ® ): monofilamentar, mantém-se por tempo indefinido com tensão preservada por anos. Baixa reação tecidual. Uso: suturas vasculares, fáscia, hernioplastias.
    Fios absorvíveis: [cms-watermark]
  • Categute simples: grande reação tecidual. Vem sendo substituído por outros fios com baixo custo e melhores resultados. Pode ser usado em crianças em áreas corporais de difícil retirada de pontos; [cms-watermark]
    • Tempo de absorção: 7 a 10 dias;
    • Características: obtido da submucosa do intestino de ovinos e bovinos; multifilamentar; maior incidência de infecções;
  • Categute cromado: g rande reação tecidual. Uso semelhante ao simples;
    • Tempo de absorção: 21 a 28 dias;
    • Características: obtido de intestino de boi ou carneiro e tratado com cromo; [cms-watermark]
  • Poliglactina 910 (Vicryl®): m ínima reação tecidual. Uso: fechamento de aponeuroses e subcutâneo;
    • Tempo total de absorção: 50-70 dias;
    • Perda de força tênsil: 14-28 dias;
    • Características: fio sintético, trançado e com maior chance de infecções;
    • Vicryl Rapid : absorção mais rápida, perda de força em 7–10 dias e absorção completa em 30–40 dias.
  • Polidiaxona (PDS): mínima reação tecidual. Uso: anastomoses intestinais, urológicas, brônquicas/traqueais; os mais calibrosos podem ser utilizados em aponeuroses. Uso permitido mesmo se houver infecção;
    • Tempo total de absorção: 180 dias;
    • Perda de força tênsil: 4–6 semanas
    • Características: monofilamentar, incolor ou violeta; [cms-watermark]
  • Monocryl®: u so como sutura intradérmica;
    • Tempo total de absorção: 90-120 dias;
    • Perda de força tênsil: 7–14 dias;
    • Características: monofilamentar e absorvido por hidrólise.

Avaliação Inicial da Ferida [cms-watermark]

    Características: [cms-watermark]
  • Tipo de ferimento, margens, profundidade; [cms-watermark]
  • Tempo decorrido entre a lesão e a avaliação inicial; [cms-watermark]
  • Gravidade do sangramento; [cms-watermark]
  • Status funcional, perfusão (principalmente em lesões em extremidades); [cms-watermark]
  • Grau de contaminação e evidência de infecção; [cms-watermark]
  • Lesões associadas; [cms-watermark]
  • Pesquisa de corpos estranhos (vidro, resíduos, plástico, etc.); [cms-watermark]
  • Status vacinal contra o tétano; [cms-watermark]
  • Alergia medicamentosa; [cms-watermark]
  • Comorbidades. [cms-watermark]

Preparo [cms-watermark]

  • Informar ao paciente os procedimentos a serem realizados;
  • Uso de EPI;
  • Analgesia (parenteral ou oral);
  • Limpeza adequada da ferida :
    • Superficial: remoção de contaminantes e sangue coagulado com soluções fisiológica e antisséptica;
    • Profunda: irrigação sob pressão na profundidade da ferida com solução fisiológica (com auxílio de seringa);
  • Tricotomia: pode ser necessária em algumas lesões para facilitar o manejo (evitar na região do supercílio);
  • Hemostasia: normalmente garantida com compressão mecânica, podendo ser auxiliada com suturas, ligadura de vasos, garroteamento temporário, anestesia com vasoconstritor, clampeamento vascular;
  • Anestesia local ou regional: normalmente com Lidocaína, respeitando-se a dose máxima de 4,5 mg/kg - 300 mg (sem vasoconstritor) a 7 mg/kg - 500 mg (com vasoconstritor);
    • Recomenda-se evitar o uso de Lidocaína com Epinefrina em pacientes portadores de doenças vasculares periféricas primárias ou secundárias (diabéticos e tabagistas);
  • Desbridamento local: retirada de tecidos desvitalizados com auxílio de bisturi ou tesoura.
Fio de sutura X localização da ferida
Estrutura [cms-watermark] Tamanho [cms-watermark]
Couro cabeludo, faces plantar/ palmar
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3-0 ou 4.0 [cms-watermark]
Grandes lacerações ou áreas de tensão [cms-watermark] 3-0 ou 4.0
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Extremidades [cms-watermark] 4-0 [cms-watermark]
Face, supercílio, pálpebra [cms-watermark] 5-0 ou 6-0 [cms-watermark]

Principais pontos

    Ponto chuleio simples:
  1. Iniciar como um ponto simples, com nó firme em uma extremidade;
  2. Passar a agulha sequencialmente em movimentos alternados, ao longo da ferida, mantendo distância e profundidade simétrica;
  3. Ajustar a tensão de forma uniforme para não apertar demais/estrangular os tecidos;
  4. Finalizar a sutura com nó firme ou fixação em alça.
Texto alternativo para a imagem Figura. Chuleio simples - Ilustração: Rafael Guedes. [cms-watermark] [cms-watermark]
  1. Introduz-se a agulha de maneira perpendicular na pele, permitindo que a sua curvatura "abarque" a maior parte de tecido ao redor do ponto.
  2. [cms-watermark] Passa-se o fio pela lesão.
  3. [cms-watermark] Inicia-se a realização do nó, em três cruzadas do fio.
  4. [cms-watermark] A primeira cruzada tem a função de aproximar os bordos da lesão, evitando deixar espaços e, ao mesmo tempo, esmagamentos das bordas.
  5. [cms-watermark] A segunda cruzada dará a tensão ao ponto. Atenção para não aplicar pressão excessiva, para não gerar cicatrizes esteticamente indesejadas.
  6. [cms-watermark] Realiza-se a lateralização do nó, de modo a evitar que ele fique entre ou próximo demais às bordas da lesão.
  7. [cms-watermark] A terceira cruzada é realizada para garantir que o nó não se desfaça.
  8. [cms-watermark] Realiza-se o corte do fio, deixando cerca de meio centímetro para facilitar a posterior retirada do ponto.

Texto alternativo para a imagem Figura. Sutura Simples - Ilustração: Rafael Guedes. [cms-watermark]

Procedimento em Vídeo

  1. Mais utilizado para feridas mais profundas ou com bordas mais irregulares. [cms-watermark]
  2. Introduz-se a agulha como no ponto simples, mas com uma distância maior da lesão.
  3. Mantém-se o orifício de saída, do outro lado da lesão, equidistante da borda.
  4. Reintroduz-se o fio, no mesmo lado do orifício de saída, mais próximo da borda, de maneira a pegar menor quantidade de pele.
  5. Atravessa-se a lesão novamente, com o novo orifício de saída entre a borda da lesão e o orifício de entrada original.
  6. Conclui o ponto com nó sem aplicar muita tensão.
  7. [cms-watermark]

Texto alternativo para a imagem Figura 1. Ponto Donati - Ilustração: Rafael Guedes. [cms-watermark]

Texto alternativo para a imagem Figura 2. Ponto Donati - separado - Ilustração: Rafael Guedes.

Procedimento em Vídeo

    Sutura Intradérmica:
  1. Inserir a agulha na pele a uma pequena distância do ângulo.
  2. Introduzir a agulha paralela ao bordo, em movimentos alternados, apenas na derme, sem emergir na superfície.
  3. Percorrer toda a extensão da ferida de forma equidistante, testando se o fio está correndo após alguns pontos.
  4. Ao chegar no outro ângulo, sair com a agulha a uma pequena distância na pele, de dentro para fora e finalizar com nó em alça dos dois lados.
Texto alternativo para a imagem Figura. Ponto Intradérmico. Ilustração: Rafael Guedes.
Texto alternativo para a imagem Figura. Sutura Intradérmica - Ilustração: Rafael Guedes.

Procedimento em Vídeo

    Ponto Gillies: [cms-watermark]
  1. Mais realizado para lesões em ângulos. [cms-watermark]
  2. O ponto será realizado no plano horizontal, dentro da derme. [cms-watermark]
  3. Passa-se o fio pela extremidade do retalho a nível dérmico ou subdérmico. [cms-watermark]
  4. Cuidado para não transfixá-lo. [cms-watermark]
  5. Mantém-se simétricos os locais de entrada e saída do fio, de modo a evitar invaginação ou evaginação. [cms-watermark]
  6. Concluir com nó, sem muita tensão. [cms-watermark]

Texto alternativo para a imagem Figura. Ponto Gillies - Ilustração: Rafael Guedes. [cms-watermark]

Procedimento em Vídeo

    Avaliar a necessidade de antibioticoterapia. Se for prescrita a medicação, mantê-la por 3 a 5 dias (Cefazolina -> Cefalexina, Clindamicina, Amoxicilina + Clavulanato), nas seguintes ocasiões: [cms-watermark]
  • Tempo de ferida: mãos/pés > 8 horas; face > 24 horas; demais > 12 horas; [cms-watermark]
  • Tecido desvitalizado; [cms-watermark]
  • Contaminação extensa de difícil limpeza; [cms-watermark]
  • Mordeduras por mamíferos (incluindo humanos); [cms-watermark]
  • Sítios anatômicos vulneráveis (orelha, nariz, tendão, osso, articulação); [cms-watermark]
  • Opção por fechamento terciário; [cms-watermark]
  • Linfedema; [cms-watermark]
  • Comorbidades: imunossupressão, diabetes melito, quimioterapia, corticoide; [cms-watermark]
  • Doença valvar ou implantes ortopédicos, se feridas contaminadas; [cms-watermark]
  • Amputação; [cms-watermark]
  • Lesões multilantes/ complexas; [cms-watermark]
  • Risco de Staphylococcus aureus resistente à meticilina adquirido na comunidade (CA-MRSA, do inglês i nfections by community acquired Staphylococcus aureus ): atletas, indigentes, crianças, infecção prévia por CA-MRSA. [cms-watermark]

Atenção! Antibioticoterapia é formalmente indicada em feridas infectadas. [cms-watermark]

Orientações de Alta [cms-watermark]

  • Curativo: manter curativo oclusivo por 24 a 48 horas, com troca diária e limpeza da área com água e sabão antisséptico;
  • Analgesia ambulatorial por via oral por, no mínimo, 3 dias;
  • Profilaxia para o tétano, se necessária e quando não realizada no atendimento inicial;
  • Atentar para complicações, incluindo infecção local, ressangramento, hematoma, seroma, deiscência;
  • Orientar retorno aos serviços médicos em caso de dúvidas ou complicações;
  • Cuidados com a cicatrização, incluindo proteção contra radiação solar com uso de protetor solar no local por 3 a 6 meses.

Retirada dos Pontos [cms-watermark]

  • Couro cabeludo: 7 a 10 dias;
  • Face: 5 dias;
  • Orelha: 10 a 14 dias;
  • Tronco (face anterior): 8 a 10 dias;
  • Dorso e extremidades: 12 a 14 dias;
  • Mãos, pés e sola: 10 a 14 dias;
  • Adicionar 2 a 3 dias para superfícies extensoras;
  • Mesmo após a retirada dos pontos, se possível, manter curativo para aposição das bordas da ferida por mais 2 a 3 dias.
  • Infecção;
  • Hematoma;
  • Sangramento;
  • Necrose dos bordos;
  • Reação inflamatória ao fio;
  • Deiscência de sutura;
  • Prejuízo funcional;
  • Dor crônica.
  • Anormalidades de cicatrização (cicatriz hipertrófica, queloide ).
    Autoria principal: Caio C. B. de Castro (Cirurgia Geral e Torácica).
    Revisão:
  • Jader David Ricco (Cirurgia Oncológica e Geral);
  • Vanessa Nascimento (Cirurgia Pediátrica Geral e Cirurgia Pediátrica Oncológica). [cms-watermark]

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