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BAAR (Bacilos Álcool-Ácido-Resistentes)

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    Definição: Os BAAR (Bacilos Álcool-Ácido-Resistentes) são micobactérias que podem ser visualizadas em microscópio óptico após serem submetidas a um método de coloração específico. Eles são bacilos aeróbicos, imóveis, e podem assumir formas ligeiramente curvas ou retas.

Sinônimos: B.A.A.R.; Pesquisa de BAAR; Bacilos Álcool-Ácido-Resistentes; BAAR – Ziehl-Neelsen; Baciloscopia - BAAR.

    Possuem a característica de serem ácido-resistentes (devido a sua parede celular hidrofóbica), podendo ser divididos em:
  1. Os que fazem parte do complexo Mycobacterium tuberculosis (MTBC), que são os patógenos que causam a tuberculose humana ( Mycobacterium tuberculosis , Mycobacterium bovis , Mycobacterium africanum , dentre outros).
  2. Os que pertencem ao grupo conhecido como micobactérias não tuberculosas (MNT), como o Mycobacterium leprae (agente etiológico da hanseníase), Complexo Mycobacterium avium (MAC), Mycobacterium kansasii , Mycobacterium marinum , Mycobacterium szulgai , dentre outros.

Existem alguns métodos disponíveis de coloração para micobactérias (ex.: Ziehl-Neelsen, Kinyoum, auramina-rodamina, auramina-O), dentre os quais o mais conhecido e utilizado é o método de Ziehl-Neelsen (apesar de não ser o mais sensível). Esse método é capaz de dividir as bactérias em dois grandes grupos: as álcool-ácido-resistentes e as não álcool-ácido-resistentes.

O escarro é o material mais comum, por ser de fácil e rápida obtenção, porém esse método de coloração pode ser utilizado em outros tipos de materiais biológicos, tais como: Outras secreções respiratórias (ex.: aspirado traqueal, lavado bronco-alveolar), conteúdo gástrico, sangue, urina, líquor, fezes, líquido pleural, líquido pericárdico, líquido peritoneal, material de linfonodo, nervo periférico, medula óssea, abscesso etc.

Para o diagnóstico de hanseníase, podem ser utilizados o material de lesões cutâneas, linfa, muco nasal. Nesse caso, pode-se encontrar BAAR isolados e agrupados (globias).

Em nosso meio, com altas taxas de prevalência da tuberculose na população, a pesquisa de BAAR no escarro possui um elevado valor preditivo positivo (VPP), superior a 95%. Entretanto, ele apresenta uma sensibilidade relativamente baixa (25% a 75%).

Existem métodos que são utilizados para a descontaminação e concentração do material [ex.: N-acetil-L-cisteína (NALC)-hidróxido de sódio], que aumentam a sensibilidade da bacterioscopia e da cultura.

Técnicas como a cultura e teste de sensibilidade para micobactérias (o bacilo de Hansen ainda não pôde ser obtido em meios de cultura), histopatologia, o IGRA, testes moleculares e fenotípicos também estão disponíveis para o auxílio diagnóstico.

    Método de Ziehl-Neelsen:
  • Realiza-se um esfregaço do material em lâmina de vidro para microscopia, com posterior fixação com calor;
  • Adiciona-se a fucsina de Ziehl (corante avermelhado) à lâmina, aquecendo-a até a emissão de vapores, repetidamente por 5 minutos, (deve-se tomar o cuidado para não ferver o corante). Nessa etapa, todas as bactérias presentes na amostra são coradas em vermelho;
  • Lava-se o material, adicionando em seguida o material para descoloração (solução de ácido clorídrico 3% em álcool etílico), lavando-se a lâmina em seguida. Agora, as bactérias álcool-ácido-resistentes permanecem vermelhas (já que resistem à descoloração), enquanto as demais não retém o corante, ficando incolores;
  • Adiciona-se à lâmina uma solução de azul de metileno (corante azulado) por 3 minutos. Nessa fase, as bactérias que antes estavam incolores (não álcool-ácido-resistentes) coram-se de azul;
  • Lava-se o material, com posterior secagem. Em uma objetiva de grande aumento (1.000X) sob imersão em óleo, observa-se a lâmina a procura de bacilos ligeiramente curvados, avermelhados, com 0,2 a 0,6 micrometros de largura e 1 a 10 micrometros de comprimento, se mostrando como faixas, contas ou filamentos.
    Indicações:
  • Diagnóstico de tuberculose, hanseníase e de outras micobactérias não tuberculosas (MNT);
  • Acompanhamento do tratamento e de sua eficácia/controle de cura;
  • Avaliação auxiliar de resistência aos medicamentos.

Como solicitar: BAAR (especificar o material em que será realizado o exame).

  • Orientações ao paciente: Jejum não é necessário;
    • Escarro: Retirar próteses dentárias (se houver); lavar a boca abundantemente e bochechar com água antes da coleta; inspirar profundamente, e tossir várias vezes, de modo que o material coletado seja proveniente das vias aéreas inferiores; evitar a coleta de material salivar; coletar duas amostras, em dias consecutivos, de preferência pela manhã, antes do desjejum; [cms-watermark]
    • Observação! Para outros materiais, entrar em contato com o laboratório clínico para informações específicas. [cms-watermark]
  • Frasco de coleta: Frasco estéril, com tampa; [cms-watermark]
  • Material: Escarro, escarro induzido, lavado bronco-alveolar, aspirado traqueal, conteúdo gástrico, sangue, urina, líquor, fezes, líquido pleural, líquido pericárdico, líquido peritoneal, material de linfonodo, nervo periférico, medula óssea, material de lesões cutâneas, linfa, muco nasal, esperma, abscesso etc.;
  • Volume recomendável: 5,0 a 10,0 mL. [cms-watermark]

Negativo: Ausência de BAAR em 100 c.m.e. (campos microscópicos examinados).

    Modelo/interpretação de laudo para a bacterioscopia de BAAR (número de bacilos por campo, em 100, 50 ou 20 campos microscópicos examinados - c.m.e.):
  • A usência de BAAR em 100 c.m.e.: Negativo ;
  • São encontrados de 1 a 9 BAAR, em 100 c.m.e.: Relata-se a quantidade de BAAR encontrada ;
  • São encontrados de 10 a 99 BAAR, em 100 c.m.e.: Positivo + ;
  • São encontrados, em média, de 1 a 10 BAAR por campo, nos primeiros 50 c.m.e.: Positivo ++ ;
  • São encontrados, em média, mais de 10 BAAR por campo, nos primeiros 20 c.m.e.: Positivo +++ .

Existem métodos de coloração mais sensíveis que o de Ziehl-Neelsen, como a auramina-rodamina e auramina-O.

Apesar de possuir elevada especificidade, o método de Ziehl-Neelsen apresenta uma relativa baixa sensibilidade (25% a 75%).

Um resultado negativo não exclui, de modo definitivo, a possibilidade da infecção.

Métodos moleculares com base em PCR (ex.: Xpert MTB/RIF) possuem uma acurácia superior à baciloscopia, além de detectar concomitantemente uma possível resistência à Rifampicina.

Necessita de altas concentrações de bacilos no escarro (10 4 BAAR/mL) para sua detecção ao microscópio óptico.

De maneira geral, a observação dos BAAR ao microscópio óptico não permite a identificação à nível de espécie.

O diagnóstico de certeza da tuberculose é feito com o crescimento da bactéria em meios de cultura específicos (ex.: Lowenstein-Jensen, Ogawa-Kudoh), seguida da confirmação da espécie por provas bioquímicas ou moleculares.

Indivíduos com lesões cavitárias pulmonares apresentam uma probabilidade maior de apresentarem escarro positivo, em relação àqueles sem cavitações.

Resultados falso positivos (escarro positivo e cultura negativa) podem ocorrer por contaminação cruzada, organismos não viáveis, indivíduos em curso de tratamento, destruição das micobactérias, bactérias contaminantes, dentre outros.

Diferenças na qualidade dos corantes, coleta do material, fatores como o tipo de amostra (secreções respiratórias apresentam uma maior probabilidade de resultados positivos), bem como a experiência do microscopista influenciam na sensibilidade do exame.

Não se aplica.

Autoria principal: Pedro Serrão Morales (Patologia Clínica e Medicina Laboratorial).

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