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Definição: O antígeno prostático específico (do inglês prostatic specific antigen [PSA]) é uma serina-protease secretada prioritariamente pelos ductos e células epiteliais do tecido prostático, sendo um dos marcadores tumorais de maior sucesso e mais amplamente disponíveis e utilizados em nosso meio (apesar de algumas limitações). Sua principal função biológica é liquefazer o líquido seminal, facilitando, assim, o processo de fecundação.
Circula pelo plasma principalmente na sua forma conjugada (PSA complexado), majoritariamente ligado à α1-quimiotripsina e, em menores proporções, à α2-macroglobulina, sendo que apenas uma pequena fração (cerca de 15%) circula isoladamente sob sua forma não conjugada (PSA livre).
Por sua vez, o PSA livre é composto do PSA intacto e de outras formas truncadas de PSA, uma das quais se mostra promissora clínico-laboratorialmente, a isoforma p2PSA (proPSA). Essa isoforma é utilizada em um cálculo matemático denominado índice de saúde da próstata (do inglês
prostate healthy index
[PHI])
, representado pela fórmula PHI = p2PSA/PSA livre x raiz quadrada do PSA total. Índices elevados sugerem adenocarcinoma de próstata e indicam maior agressividade tumoral.
O uso da relação PSA livre/total (%PSA livre = [PSA livre/PSA total] x 100) possui maior acurácia diagnóstica quando utilizada na faixa intermediária do PSA total (entre 4 e 10 ng/mL). Além da relação, outras informações importantes devem ser correlacionadas, como a velocidade do aumento, a densidade do PSA (relação entre o valor do PSA e o volume da próstata à ultrassonografia transretal) e as isoformas moleculares.
De maneira geral, pacientes com adenocarcinoma de próstata costumam apresentar menor porcentagem da relação PSAL/T quando em comparação com os indivíduos com hiperplasia prostática benigna (HPB).
Se a relação PSAL/T for < 10%, haverá um aumento de risco de adenocarcinoma com probabilidade de 56%; se a relação for > 25%, a probabilidade de adenocarcinoma será de somente 8% (se PSAT entre 4 e 10 ng/mL).
Como solicitar: PSA total e livre.
Figura 1.
Tubo para soro – tampa vermelha.
Figura 2.
Tubo para soro – tampa amarela.
Relação PSA livre/total: ≥ 15% (quando PSA total estiver entre 4 e 10 ng/mL).
Demora superior a 1 hora na centrifugação do tubo e a sua não refrigeração alteram a razão PSAL/T pelo fenômeno da auto-hidrólise (falsamente diminuindo a relação).
A relação PSAL/T deve ser utilizada quando o PSA total estiver entre 4 e 10 ng/mL.
Apesar de toda a sua importância, seu valor clínico é questionado pelo fato de apresentar baixa especificidade em níveis intermediários de PSA total, possuir baixa razão de verossimilhança positiva (RV+) e por condicionar o sobrediagnóstico e o sobretratamento, levando a um número excessivo de biópsias.
Embora, na prática clínica, seja considerado um marcador órgão-específico, o PSA pode ser encontrado, em baixas concentrações, em outros tecidos/órgãos (ex.: mama, rins, carcinomas das adrenais).
Seu resultado é muito impactado pela fase pré-analítica, podendo ocorrer aumentos transitórios devido a vários fatores (prostáticos e não prostáticos).
Recomenda-se a sua dosagem seriada, bem como a realização na mesma plataforma analítica e laboratório clínico para seguimento.
Suas concentrações podem ser influenciadas por idade, raça e volume prostático.
Não há um valor de referência de consenso definido clinicamente, podendo variar entre os diferentes laboratórios clínicos. Para melhor interpretação do resultado, deve-se levar em consideração, entre outros aspectos, idade, sexo, raça, volume prostático, velocidade de variação, fatores pré-analíticos.
Aumento: Adenocarcinoma de próstata e hiperplasia prostática benigna.
Aumento transitório: Relações sexuais, masturbação, ejaculação, biópsia prostática, RTU, ITU, prostatite, retenção urinária, massagem prostática, toque retal, ciclismo, hipismo, motociclismo, infarto, trauma perineal.
Diminuição: Fármacos (Finasterida , Dutasterida , terapia antiandrogênica), pós-prostatectomia radical bem-sucedida (geralmente permanece abaixo da sensibilidade analítica do teste, em níveis indetectáveis).
Autoria principal: Pedro Serrão Morales (Patologia Clínica e Medicina Laboratorial).
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