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Definição:
Conjunto de exames compostos de, pelo menos, triglicérides (TG), colesterol total (CT) e suas principais frações (LDL-c, HDL-c), além do cálculo do não HDL-c.
Sinônimos:
Lipidograma; lipidograma completo; TG + CT e frações; lipidograma sérico; lipidograma - sangue; perfil lipídico completo.
Os lipídeos, substâncias orgânicas insolúveis em água, apresentam importantes funções biológicas, como fonte de energia, constituinte das membranas celulares e funções hormonal e digestória.
Tanto o CT quanto o HDL-c e os TGs são dosados diretamente por métodos enzimáticos colorimétricos (usualmente). Para o CT e os TGs, essas metodologias apresentam boa correlação entre si, com baixo coeficiente de variação (CV).
Os resultados obtidos para o HDL-c podem, todavia, encontrar variações de até 15% entre os diferentes kits diagnósticos comerciais disponíveis.
A fórmula de Friedewald, que era frequentemente utilizada para o cálculo da estimativa do LDL-c, pode ser representada por: LDL-c = CT – HDL-c – (TG/5).
Devido, entretanto,
a algumas limitações, ela vem sendo substituída pela fórmula de Martin, que é mais acurada: LDL-c = CT – HDL-c – (TG/x). O "x" varia de 3,1 a 11,9 (o divisor "x" depende dos valores do não HDL-c e do TG, podendo ser encontrado em uma tabela específica).
A fração do colesterol não HDL é usada como estimativa do número total de partículas aterogênicas no plasma (VLDL-c + IDL-c + LDL-c) e refere-se também aos níveis de apo B.
O colesterol não HDL é calculado pela subtração do HDL-c do colesterol total (CT) pela seguinte fórmula: colesterol não HDL = CT – HDL-c.
Como solicitar: Perfil lipídico.
Figura 1.
Tubo para soro – tampa vermelha.
Ilustração:
Caio Lima
Figura 2.
Tubo para soro – tampa amarela.
Ilustração:
Caio Lima
| Valores referenciais e de alvo terapêutico, conforme avaliação de risco cardiovascular para adultos > 20 anos. | |||
|---|---|---|---|
| Lipídeos | Com jejum (mg/dL) | Sem jejum (mg/dL) | Categoria referencial |
| Colesterol total (CT)* | < 190 | < 190 | Desejável |
| HDL-c | > 40 | > 40 | Desejável |
| Triglicérides (TG)** | < 150 | < 175 | Desejável |
| Categoria de risco | |||
| LDL-c | < 130 | < 130 | Baixo |
| < 100 | < 100 | Intermediário | |
| < 70 | < 70 | Alto | |
| < 50 | < 50 | Muito alto | |
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Categoria de risco
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| Não HDL-c | < 160 | < 160 | Baixo |
| < 130 | < 130 | Intermediário | |
| < 100 | < 100 | Alto | |
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< 80
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< 80
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Muito alto
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*CT > 310 mg/dL indica probabilidade de hipercolesterolemia familiar (HF), se excluídas as dislipidemias secundárias.
**Quando os níveis de TG estiverem > 440 mg/dL (sem jejum), recomenda-se que o médico solicitante faça nova prescrição para avaliação do TG em jejum de 12 horas.
| Valores referenciais desejáveis para crianças e adolescentes | ||
|---|---|---|
| Lipídeos | Com jejum (mg/dL) | Sem jejum (mg/dL) |
| Colesterol total (CT)* | < 170 | < 170 |
| HDL-c | > 45 | > 45 |
| Triglicérides (0-9 anos)** | < 75 | < 85 |
| Triglicérides (10-19 anos)** | < 90 | < 100 |
| LDL-c | < 110 | < 110 |
*CT > 230 mg/dL indica probabilidade de HF, se excluídas as dislipidemias secundárias.
**Quando os níveis de TG estiverem > 440 mg/dL (sem jejum), recomenda-se que o médico solicitante faça uma nova prescrição para avaliação do TG em jejum de 12 horas.
Para valores de triglicérides > 400 mg/dL, com ou sem jejum, a fórmula de Friedewald não deve ser usada para o cálculo do LDL-c. Nesse cenário, a fórmula de Martin ou a dosagem direta do LDL-c podem ser utilizadas.
Na hiperlipoproteinemia tipo III, a fórmula de Friedewald também não é usada, já que, nessa condição, há a presença da fração beta-VLDL, interferindo nos resultados calculados do LDL-c.
A dosagem direta do LDL-c apresenta grande variação entre os ensaios disponíveis no mercado, podendo chegar a até 30%. Essa característica, além do seu custo maior, pode ser um fator limitador da ampla utilização da determinação direta do LDL-c na prática.
A mais recente Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose não estabelece valores de referência para a fração VLDL do colesterol, ficando a critério clínico a sua interpretação.
As lipoproteínas podem apresentar variações biológicas intraindividuais significativas. Por exemplo, CT, HDL-c e LDL-c têm um coeficiente de variação (CV) de aproximadamente 10%, enquanto os TGs podem chegar a 25%.
O uso prolongado do torniquete para a punção venosa pode levar a uma hemoconcentração, elevando falsamente as concentrações do CT (após 1 minuto, pode haver aumento de 5% e, após 5 minutos, elevação de até 15% é observada).
Embora a ultracentrifugação seja a metodologia de referência para a separação e a quantificação das lipoproteínas, é um método caro e demorado, sendo restrito à pesquisa.
Os resultados obtidos para o HDL-c podem encontrar variações de até 15% entre os diferentes kits diagnósticos comerciais disponíveis.
O LDL-c é determinado tanto diretamente, em kits diagnósticos específicos, quanto por meio de fórmulas matemáticas (ex.: Friedewald ou Martin), cada qual apresentando vantagens, desvantagens e limitações.
Autoria principal: Pedro Serrão Morales (Patologia Clínica e Medicina Laboratorial).
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