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Definição: É um exame que avalia diversas variáveis do paciente, expondo-o ao exercício físico incremental até seu ponto máximo de esforço, quando possível. Geralmente conduzido em esteira ergométrica, também pode ser realizado em outros aparelhos, como o cicloergômetro.
Trata-se de um exame com múltiplas finalidades, tendo em vista as diversas interpretações extraídas das diferentes variáveis analisadas.
Sinônimos:
Teste de exercício; TE; teste de esforço.
Depende da capacidade do paciente de realizar atividades físicas, o que pode limitar a execução do exame em obesos graus III e IV, pacientes com deformidades anatômicas ou deficiências físicas.
Dificuldade em medir a PA em grandes velocidades; possibilidade de desencadear síndrome vertiginosa; dificuldade de adaptação em pacientes com escalafobia (medo de escadas rolantes) ou esteiras rolantes; exames com risco potencial de queda (ex.: síncope).
Alterações eletrocardiográficas prévias, como bloqueio de ramo esquerdo, pré-excitação ventricular ou uso de marca-passo, podem prejudicar algumas interpretações (detalhes na seção Variáveis, abaixo).
Alguns medicamentos como betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e alguns antiarritmicos podem atrapalhar a interpretação do exame, reduzindo a frequência cardíaca e dificultando o alcance da frequência cardíaca máxima prevista, esse é um efeito que também ocorre com a digoxina, que apresenta ainda alterações na repolarização. O uso de nitratos pode mascarar sintomas isquêmicos. A decisão de manter ou suspender esses medicamentos cabe ao médico assistente que solicitou o exame.
O exame também depende da colaboração do paciente para que se atinja o esforço máximo, garantindo maior confiabilidade no exame.
Outros métodos:
Cicloergômetro de braço, esteira adaptada para cadeiras de rodas, remo ergômetro, piscina adaptada com corrente de água, etc.
Associação com métodos de imagem:
O
teste de esforço físico pode ser associado à cintilografia miocárdica ou ao ecocardiograma.
Variáveis clínicas: Durante a interpretação do teste ergométrico, as variáveis clínicas desempenham um papel importante. Embora a maioria dos testes seja interrompida por cansaço, quando o paciente atinge o esforço máximo, queixas como lipotimia, sensação de desmaio, dor incapacitante nos membros inferiores e palidez importante podem ser sinais de patologias vasculares ou arrítmicas e devem ser consideradas. Dor precordial típica é um critério de isquemia no teste ergométrico.
Pressão arterial: Durante o exercício, é normal que a pressão arterial sistólica aumente proporcionalmente ao esforço, enquanto a pressão arterial diastólica se mantém estável ou diminui. Define-se como resposta hiper-reativa ao esforço, o achado de valores de PAS > 220 mmHg e/ou elevação de 15 mmHg ou mais de PAD, partindo-se de valores normais de pressão em repouso. Caso a pressão arterial sistólica suba menos de 35 mmHg, pode-se suspeitar de doença isquêmica e dificuldade do miocárdio em contrair durante o esforço.
A queda da pressão sistólica durante o exercício é um sinal preocupante, relacionado a doença cardíaca grave. Após o exercício, é esperado que a pressão arterial retorne a níveis inferiores aos basais. A manutenção de níveis elevados ou um aumento da pressão durante a recuperação podem estar associados à doença isquêmica do coração.
Frequência cardíaca: A frequência cardíaca tende a aumentar com o incremento do exercício. O teste ergométrico é considerado satisfatório quando o paciente atinge mais de 85% da frequência cardíaca predita, calculada pela fórmula: FC máxima predita = 220 – idade (desvio padrão = 11 bpm).
Elevações exacerbadas da FC, desproporcionais à carga de trabalho, são frequentemente observadas em sedentários, em pacientes com ansiedade elevada, distonia neurovegetativa, hipertireoidismo, nas condições que reduzem o volume vascular ou a resistência periférica, anemia, alterações metabólicas e outras condições.
O uso de medicamentos com ação cronotrópica negativa, como betabloqueadores, antiarrítmicos ou bloqueadores de canais de cálcio, assim como bradiarritmias, hipotireoidismo e doença de Chagas, pode resultar em uma diminuição do incremento da frequência cardíaca durante o esforço. A redução da
frequência cardíaca induzida por medicamentos cronotrópicos negativos pode ser corrigida pelo índice cronotrópico.
Assim como na pressão arterial sistólica, a queda da frequência cardíaca durante o exercício é indicativa de doença cardíaca grave. Queda < 12 bpm no primeiro minuto de recuperação em relação ao pico do esforço indica baixa atividade vagal e está relacionada a maior mortalidade.
Alterações eletrocardiográficas: O teste ergométrico é o principal exame para detectar arritmias desencadeadas pelo esforço. É fundamental interromper o teste imediatamente diante de arritmias ameaçadoras. Em relação às alterações isquêmicas, elas devem ser interpretadas tanto durante o esforço quanto na recuperação. As modificações do segmento ST e da onda U são os principais parâmetros na detecção de isquemia miocárdica. As alterações do segmento ST incluem infra e supradesnivelamentos aferidos em relação à linha de base.
Os supradesnivelamentos do segmento ST, apesar de menos frequentes, podem indicar isquemia miocárdica grave, espasmo coronário ou discinesia ventricular, assim como no ECG de repouso, na síndrome coronária aguda com supra de ST. No teste ergométrico, o supra de ST pode ajudar a identificar a parede acometida pela isquemia.
Consideram-se anormais, mas inespecíficas para o diagnóstico de isquemia miocárdica: ocorrência de arritmias cardíacas complexas, bloqueios de ramo, dor torácica atípica, hipotensão e incompetência cronotrópica.
Em pacientes com bloqueio de ramo esquerdo completo, pré-excitação ventricular, ritmo de marcapasso, uso de digoxina, infra de ST > 1 mm no ECG basal, hipertrofia ventricular ou hipocalemia, têm sua interpretação do ECG no teste ergométrico prejudicada, a interpretação do ECG no teste ergométrico é prejudicada, sendo essa variável desconsiderada nesses casos.
Consumo de O
2
(VO
2
) e MET:
O MET (equivalente metabólico) é uma unidade que representa o consumo de oxigênio por unidade de tempo e quilo de peso. Um MET equivale a 3,5 mL/kg/minuto de consumo de oxigênio em repouso. O consumo de O
2
ou VO
2
é proporcionalmente equivalente à quantidade de METs. No teste ergométrico, o consumo de O
2
é estimado multiplicando o número de METs alcançados por 3,5 (a quantidade de METs consumida em repouso).
Na ergoespirometria ou teste cardiopulmonar, o VO
2
é medido diretamente. Essa variável tem relacão direta com a mortalidade, e valores baixos indicam prognóstico ruim, enquanto níveis elevados sugerem maior sobrevida. Valores muito baixos de VO
2
podem estar associados à doença isquêmica importante e pode ser definidor de condutas, inclusive em avaliações pré-cirúrgicas.
Autoria principal: Gabriel Quintino Lopes (Clínica Médica e Cardiologia).
Revisão: Eraldo Moraes (Cardiologia, Eletrofisiologia, com especialização em Marca-passo).
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