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Definição:
E
xame seccional de imagem que auxilia o diagnóstico de inúmeras patologias abdominais, sobretudo quando somada à administração de contraste oral ou endovenoso em cada uma de suas fases específicas.
Sinônimos: TC de abdome superior e pelve; TC abdome total; TC de abdome e pelve.
Solicitação: TC de abdome e pelve ou TC de abdome total.
A indicação do exame deve estar clara e precisa, para que o radiologista tenha um ponto de partida clínico seguro e possa decidir adequadamente sobre a necessidade de contraste, bem como sobre as fases de aquisição mais relevantes.
Deve-se interpretar a solicitação de uma TC de abdome total (e qualquer outro exame de imagem) como um pedido de parecer ao colega médico radiologista, que muitas vezes se dispõe a discutir as imagens duvidosas em um importante processo de educação médica continuada.
Figura 1.
Tomografia de abdome sem contraste, plano axial. F: fígado; E: estômago; B: baço.
Créditos:
Dra. Elazir Mota - Rio de Janeiro/RJ.
Figura 2.
Tomografia de pelve sem contraste, plano coronal. F: fígado; E: estômago; B: baço; R: rim; P: músculo psoas; Be: bexiga.
Créditos:
Dra. Elazir Mota - Rio de Janeiro/RJ.
O
jejum de 4 horas
proporciona a adequada distensão da vesícula biliar e a administração mais segura de contraste venoso nos casos pertinentes.
Em mulheres em idade fértil, o limiar para a solicitação de beta-HCG deve ser muito baixo, tendo em vista que o diagnóstico de uma gravidez por esse método é altamente indesejado, em virtude do risco fetal na exposição à radiação.
A dosagem da creatinina com cálculo da taxa de filtração glomerular (ex., pela fórmula do CKD-EPI) é desejada nos estudos contrastados endovenosos, entretanto a nefrotoxicidade induzida pelos meios de contraste modernos, hipo-osmolares, é mínima e, talvez, ausente, de forma que, quando os exames contrastados são bem indicados e capazes de mudar a conduta de forma relevante, devem ser realizados.
| Metástases Hepáticas | |
| Hipervasculares | Hipovasculares |
|
Tumores neuroendócrinos
Carcinoma de células renais Melanoma Carcinoma de tireoide Carcinoma de mama (minoria dos casos) |
Adenocarcinoma:
colorretal, pulmonar, gástrico e pancreático. Carcinoma de bexiga e tumores uroteliais. |
Exame rápido (5-10 minutos) e relativamente disponível, não invasivo, indolor e com boa acurácia diagnóstica na maioria das patologias abdominais.
Protocolo sem contraste:
Utilizado quando o pedido médico solicita investigação de cálculos renais ou ureterais suspeitos, diverticulites e apendicites não complicadas, ou quando o paciente tem alergia que contraindique a administração do contraste iodado.
Os eventos de hipersensibilidade imediata, embora incomuns (0,3-1,4%), são potencialmente graves. A maioria das reações é leve a moderada, de forma que as fatalidades são raras (0,0006%). Toda clínica de radiologia deve observar os pacientes por tempo mínimo de 15-30 minutos após a administração do MCI e estar preparada para o tratamento da anafilaxia.
Contraste venoso em única fase: E stadiamento de tumores sabidamente hipovasculares, pancreatite aguda, pielonefrite aguda (para avaliação de complicações, como abscessos) e coleções abdominais.
Protocolo hipovascular: Em geral, utilizamos para acompanhamento de tumores hipovasculares, controle de hematomas e avaliação de massas abdominais.
Protocolo hipervascular: Avaliação de lesões neoplásicas com padrão hipervascular (ex.: avaliação de tumores neuroendócrinos, tireoidianos, metástases de melanoma e células claras renais).
Protocolo de nódulos hepáticos: Avaliação de qualquer lesão hepática, incluindo os carcinomas hepatocelulares (CHC), adenomas hepáticos, hiperplasia nodular focal e hamangiomas. É mais bem realizada por meio dos estudos trifásicos.
Urotomografia: R ealizada para avaliação de lesões renais e investigação de hematúria. A fase excretora proporciona a identificação de estenoses ou falhas de preenchimento pelo contraste, que podem representar lesões luminais, como carcinoma urotelial, coágulos, tuberculose urológica e doença por IgG4, por exemplo.
Protocolo de trauma abdominal:
Em geral, realizado um estudo contrastado em duas fases: fase portal, para avaliar lacerações nos órgãos, principalmente baço e fígado; e fase excretora (tardia), para avaliar lesões do trato urinário. Diante da suspeita de lesões vasculares associadas, deve-se estender o protocolo, realizando a fase arterial (traumas de alta energia ou pélvicos).
Protocolo de angiotomografia abdominal: Usado para avaliação de aneurismas, tromboses arteriais e outras lesões vasculares.
Protocolo de lesões adrenais: Lesões adrenais suspeitas, com densidade inferior a 10 UH, sabidamente são adenomas – nesses casos, somente a fase sem contraste é realizada. Nas lesões com densidade superior a 10U H, devem-se realizar fases mais tardias para adequada caracterização do nódulo, sendo o principal parâmetro a dinâmica de washout do contraste.
Protocolo de enterotomografia:
Avaliação de pacientes com suspeita de doença de Crohn ou outras patologias do intestino delgado, como sangramento gastrointestinal de sítio obscuro, neoplasias (sobretudo linfoma), tuberculose intestinal e semioclusão intestinal. Utilizada grande quantidade de contraste oral neutro (polietilenoglicol, hidroxietilamido ou manitol), geralmente 1 L de solução administrado dura a hora que antecede ao exame.
Protocolo de colonografia virtual: Consiste na avaliação focada do cólon, indicada especialmente como alternativa à colonoscopia no rastreamento de neoplasias colorretais quando a progressão do colonoscópio pelas alças intestinais não foi possível devido à presença de alças fixas ou lesões estenosantes. O exame demanda preparo intestinal com dieta, medicações laxativas e a insuflação colônica por meio de sonda retal, na ausência de sedação. As imagens são adquiridas em decúbitos ventral e dorsal.
Alergias leve, moderada ou grave ao contraste iodado. Sempre realizar uma boa entrevista médica, incluindo antecedentes alérgicos do paciente.
Surgimento de incidentalomas de significado clínico questionável e que podem provocar insegurança, ansiedade e medo no paciente, além de condutas médicas equivocadas.
Autoria principal: Elazir Mota (Radiologia, especialista em Radiologia Pediátrica).
Revisão:
Leandro Lima da Silva (Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva).
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