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Ultrassonografia Abdominal

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Definição: A ultrassonografia abdominal é um exame de imagem amplamente disponível, operador-dependente e baseado na emissão de ondas de ultrassom emitidas por um transdutor.

Sinônimos: USG de abdome total, US abdome total ou ultrassom de abdome total; US de abdome superior, USG de abdome superior ou ultrassom de abdome superior; Ultrassonografia das vias urinárias, ultrassonografia do aparelho urinário, US aparelho urinário ou US de rins e vias urinárias.

A especificação da história clínica e hipótese diagnóstica no pedido médico é fundamental. Deve-se interpretar a solicitação como um verdadeiro parecer radiológico. A região abdominal alvo do estudo deve ser especificada. Na pesquisa de condições específicas (ex.: hipertensão portal; hipertensão renovascular), o estudo vascular com doppler deve ser considerado.

No que se refere a um exame operador-dependente, é aconselhável que os exames sejam realizados por profissionais experientes, com formação sólida e por meio de aparelhos de boa qualidade.

  • Dor abdominal aguda : O grande destaque do método é na avaliação da dor localizada em hipocôndrio direito (colelitíase, colecistite aguda, colecistite alitíasica, colangite aguda e abscessos hepáticos). Nas emergências abdominais não traumáticas, o US abdominal pode identificar sinais de apendicite aguda, diverticulite aguda abscedada, abscessos tubo-ovarianos e gravidez ectópica. Nas emergências traumáticas, a presença de líquido livre na cavidade ao FAST é compatível com hemoperitônio. É uma alternativa a TC de abdome em gestantes e aos exames contrastados entre os alérgicos;
  • Dor abdominal recorrente (cólica biliar): I nvestigação de colecistolitíase e coledocolitíase, bem como seguimento de pólipos de vesícula biliar; [cms-watermark]
  • Pancreatite aguda : A principal indicação do US de abdome nesse cenário consiste em avaliar a etiologia biliar da pancreatite aguda, a partir da identificação da colecistolitíase; pode surpreender complicações, como pseudocistos pancreáticos;
  • Icterícia: A investigação pode definir obstrução das vias biliares extra-hepáticas, lesões hepáticas focais difusas e indícios de hepatopatia crônica avançada. Nesse cenário, um exame normal sugere colestase intra-hepática (Gilbert, DILI) ou hemólise;
  • Ascite: A presença de abaulamento de flancos, macicez móvel de decúbito ou sinal do Piparote são sugestivos de ascite, mas devem ser confirmados ao US de abdome. Mais do que identificar a ascite, os seus mecanismos podem ser elucidados (veia cava inferior e vasos supra-hepáticos pletóricos na etiologia cardíaca; fígado serrilhado e com contornos rombos; esplenomegalia, dilatação da veia porta, com redução da velocidade de fluxo e mudança de sua direção para hepatofugal na etiologia hepática). O ponto mais sensível para a detecção de ascite é o hepatorrenal (Morison);
  • Inferência da cronologia da doença renal (aguda versus crônica): As alterações estruturais, caracterizadas pela redução dos diâmetros renais, perda da diferenciação corticomedular e redução da espessura do parênquima renal apontam para a cronicidade. No contexto da injúria renal aguda, a presença de hidronefrose é indicativa de mecanismo pós-renal. Ademais, é uma propedêutica útil na definição de pielonefrite obstrutiva e identificação de abscessos renais;
  • Investigação de visceromegalias e massas abdominais: A suspeita de hepatomegalia, esplenomegalia e massas abdominais ao exame físico deve ser complementada com estudo por imagem;
  • Rastreamento de carcinoma hepatocelular (CHC) e hipertensão portal clinicamente significativa: A indicação recai sobre os pacientes com doença hepática crônica avançada, hepatite B crônica, hemocromatose e MASLD com fibrose avançada (F4) identificada em biópsia hepática ou inferida por elastografia ou escores não invasivos (FIB4);
  • Rastreamento de esteatose hepática : Especialmente útil entre os pacientes com síndrome metabólica; [cms-watermark]
  • Rastreamento de aneurisma de aorta abdominal (AAA): Exame direcionado a homens entre 65 e 75 anos que sejam tabagistas ou que tenham histórico familiar entre parentes de primeiro grau seja de AAA reparado ou roto;
  • Monitorização de atividade de doença inflamatória intestinal;
  • Procedimentos ecoguiados: Paracentese; biópsias (fígado, rins, lesões focais); e punção e drenagem de abscessos.
  • Deve-se indicar jejum de 6 horas para a adequada avaliação da vesícula e das vias biliares;
  • A administração de Simeticona é útil para reduzir o meteorismo e melhorar a visibilidade;
  • Quando a queixa é urológica, a hidratação oral deve ser assegurada, com satisfatório enchimento vesical que permitirá a melhor avaliação de suas paredes.

Exame de baixo custo, boa acessibilidade e livre de radiação ionizante. O transdutor mais utilizado é o curvilinear, caracterizado por baixa frequência de ondas (1-6 MHz). A maior amplitude e energia das ondas permitem a penetração em tecidos profundos, como as estruturas intracavitárias e retroperitoneais.

A posição habitual é o decúbito dorsal, com o posicionamento do transdutor em diferentes regiões do abdome, ajustando a orientação conforme a estrutura avaliada, sempre com a utilização de meio viscoso interposto (gel).

As imagens são obtidas em tempo real no modo B (bidimensional). Estruturas líquidas apresentam-se anecoicas, enquanto órgãos sólidos apresentam ecogenicidade variável.

Exame operador-dependente. Limitação técnica na presença de obesidade, interposição de alças (aderências em ferida operatória ou síndrome de Chilaiditi) ou presença de enfisema subcutâneo. A avaliação de estruturas retroperitoneais é frequentemente limitada.

Não há contraindicações ao método. O exame pode ser um pouco difícil, especialmente para a avaliação de estruturas retroperitoneais, sobretudo entre obesos ou na presença de meteorismo.

A insonação em áreas específicas pode ser limitada por feridas, infecções de partes moles, feridas abertas e queimaduras extensas.

Exame isento de complicações. Com o advento da ultrassonografia à beira do leito, um dos maiores riscos do exame é a interpretação equívoca dos achados, desencadeando condutas potencialmente maléficas.

Os efeitos biológicos, como aquecimento tecidual e cavitação, são teóricos, e nas condições de uso clínico, não há evidências de dano significativo.

Os procedimentos ecoguiados podem apresentar complicações mais expressivas, como hematomas, lesão vascular, infecção (0,1%-0,2%) e lesão de órgãos adjacentes.

Autoria principal: Elazir Mota (Radiologia, especialista em Radiologia Pediátrica).

Revisão: Leandro Lima da Silva (Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva).

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