' Dengue em Pediatria - Prescrição
Conteúdo copiado com sucesso!

Dengue em Pediatria

Voltar

Definição: A dengue é uma doença infecciosa febril aguda causada por vírus RNA do gênero Flavivirus.

    O que causa a dengue?
  • A dengue é causada por vírus RNA do gênero Flavivirus, que tem quatro sorotipos (DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4);
  • O principal vetor do vírus da dengue é o mosquito Aedes aegypti que, quando está contaminado pelo vírus e pica um humano, o transmite.
    Quais são os fatores de risco que contribuem para a proliferação do mosquito transmissor?
  • Falta de saneamento básico (ex.: falta de abastecimento de água e de coleta de lixo com lixo descartado de forma inadequada, aumentando os criadouros para o mosquito);
  • Altas temperaturas;
  • Maior índice de chuvas.
    Quais são os fatores de risco para o paciente evoluir com dengue grave/febre hemorrágica? [cms-watermark]
  • Cepa viral infectante extremamente virulenta;
  • Se for, pelo menos, a segunda infecção sequencial por sorotipo diferente de dengue em um período de 3 meses a 5 anos, o que geraria resposta imunológica maior a partir da segunda infecção;
  • Condição especial, risco social ou comorbidade:
    • Lactentes (< 2 anos); [cms-watermark]
    • Grávidas; [cms-watermark]
    • Idosos > 65 anos; [cms-watermark]
    • Hipertensos; [cms-watermark]
    • Pessoas com problemas cardíacos; [cms-watermark]
    • Diabéticos; [cms-watermark]
    • Pessoas com problemas renais; [cms-watermark]
    • Pacientes com doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme); [cms-watermark]
    • Pacientes com doenças gástricas como úlceras pépticas;
    • Pessoas com doenças do sistema imune (desregulação ou insuficiência da imunidade, predispondo a infecções e outras complicações).
    A dengue sempre é sintomática?
  • A dengue pode ser assintomática ou sintomática. Quando ocorrem sintomas, podem se manifestar de forma leve até grave, podendo ser letal.
    Quais são as três fases clínicas que a dengue sintomática pode apresentar?
  1. Fase febril:
    • Duração 2-7 dias, na qual ocorre febre alta (39-40ºC) abrupta;
    • Sintomas associados: Prostração, dor de cabeça, dor retro-orbitária, manchas na pele (em metade dos casos) difusas e progressivas, dor muscular, dor articular, diarreia (geralmente 3-4x/dia, pastosa), falta de apetite, náuseas e vômitos;
    • A maioria dos pacientes melhora após essa fase.
  2. Fase crítica:
    • Inicia com a interrupção da febre entre 3-7 dias da doença;
    • Atentar para os sinais de alarme : Desânimo com pouca responsividade e/ou irritabilidade; queda de pressão ao mudar de posição - deitar/sentar/levantar - e/ou lipotimia (sensação de desmaio); vômitos persistentes; sangramento de mucosa; serosites (acúmulo de líquido no abdome, na membrana que reveste o coração ou na membrana que reveste o pulmão, manifestando-se com aumento do volume abdominal com ou sem dor, dor torácica e/ou dificuldade para respirar); dor abdominal forte e contínua (relatada principalmente ao se comprimir o abdome); aumento do fígado > 2 cm abaixo da borda inferior da última costela à direita e concentração do sangue; [cms-watermark]
    • Pode ocorrer choque manifestado por sinais de baixos níveis de oxigênio nos tecidos: Com aumento inicial dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório, com possibilidade de redução dessas contagens se houver piora; redução da força dos pulsos; redução do volume urinário ou interrupção da micção; entrega do oxigênio e retirada do gás carbônico nos tecidos diminuídas; por último, quando o organismo já não consegue compensar mais o colapso cardiorrespiratório, evolui com queda da pressão arterial, tornando o quadro muito grave; [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark]
    • Pode evoluir com hemorragias (sangramentos) graves e disfunções orgânicas (mau funcionamento de órgãos).
  3. Fase de recuperação:
    • Após a fase crítica, os sobreviventes evoluem com reabsorção progressiva dos líquidos extravasados e melhoram progressivamente com melhora do volume urinário;
    • Pode ocorrer exantema, que pode ser pruriginoso (vermelhidão com/sem coceira), redução dos batimentos cardíacos e sobreposição de infecção bacteriana.
    Quais são as peculiaridades da dengue na infância?
  • As crianças podem ser assintomáticas ou sintomáticas, podendo agravar até mais rápido que os adultos;
  • Pode manifestar como:
    • Síndrome febril clássica;
    • Quadro inespecífico: Desânimo e debilidade, diarreia, vômitos, sonolência, recusa de líquidos e de alimentação;
    • Lactentes (< 2 anos): Irritabilidade, choro persistente e desânimo/debilidade.
    Como é feito o diagnóstico de dengue?
  • O diagnóstico é feito por meio de anamnese, exame físico e laboratorial específico para dengue, sendo que a detecção do antígeno viral (NS1) deve ser solicitada até o quinto dia dos sintomas. Já a sorologia (IgM e IgG contra dengue) deve ser solicitada a partir do sexto dia dos sintomas;
  • Na anamnese, atentar para dia do início dos sintomas, se ainda há febre, quais são os sintomas associados, se há sinais de alarme, gravidade, choque ou sangramento;
  • Fazer exame físico completo buscando se há sinais de alarme, choque ou disfunção orgânica.
    Como classificar a gravidade da doença?
  • Grupo A: Dengue sem sinais de alarme, sem condição especial, sem risco social e sem doenças associadas;
  • Grupo B: Dengue sem sinais de alarme, com condição especial/risco social/ comorbidades;
  • Grupo C: Sinais de alarme presentes, mas sem sinais de gravidade;
  • Grupo D: Dengue grave, com sinais de gravidade:
    • Sinais de dificuldade de troca de gases respiratórios em tecidos e órgãos: A umento ou redução da frequência cardíaca; extremidades frias; pulsos finos/discretos; enchimento dos vasos sanguíneos > 2 segundos; pressão arterial com diferença pequena entre a pressão sistólica (maior) e diastólica (menor) (diferença < 20 mmHg); aumento ou redução do ritmo respiratório; redução do volume da urina (< 1,5 mL multiplicado pelo peso por hora); redução da pressão arterial (fase tardia do colapso cardíaco e respiratório, com comprometimento de órgãos) e/ou azulamento das mucosas e da pele, principalmente da boca e das extremidades (fase tardia do colapso sistêmico); [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark] [cms-watermark]
    • Acúmulo de líquido no coração e/ou na membrana que envolve o pulmão, com colapso respiratório;
    • Sangramento grave e/ou disfunção dos órgãos.
    Como é feita hidratação oral?
  • Oferecer um terço do volume planejado (especificado abaixo) nas primeiras 4-6 horas de atendimento. A oferta de líquido deve ser feita 1/3 como Soro de Reidratação Oral (SRO) e 2/3 como água, soro caseiro, chás e sucos;
  • Estimular aumento da hidratação oral (deve ser iniciada já na sala de espera para atendimento clínico) durante fase febril da dengue até 24-48 horas após desaparecimento da febre;
  • O volume a ser oferecido deve ser escrito em prescrição médica e ressaltado para o paciente.
    Qual o volume a ser ofertado para as crianças na hidratação oral?
  • Baseado na fórmula de Holliday Segar (acrescentar reposição de perdas de 3% do peso, se ocorrerem):
    • Crianças com peso ≤ 10 kg: 130 mL multiplicado pelo peso por dia;
    • Crianças com peso de 10-20 kg: 100 mL multiplicado pelo peso por dia;
    • Crianças com peso > 20 kg: 80 mL multiplicado pelo peso por dia.
    Qual volume a ser ofertado para adultos?
  • 60 mL multiplicado pelo peso por dia.
    Quais as outras medidas para a hidratação oral?
  • Manter aleitamento materno em lactentes;
  • Manter alimentação.
    Qual acompanhamento que deverá ser feito com os pacientes?
  • Nos pacientes do grupo A (sem sangramento espontâneo ou provocado e sem condições especiais), acompanhar ambulatorialmente com hemograma a critério médico;
  • Nos pacientes do grupo B (com sangramento de pele espontâneo ou provocado por prova do laço positiva ou por condições especiais/fatores de risco, tais como lactentes, grávidas, hipertensos, cardiopatas, diabéticos, pneumopatias crônicas, pacientes com doenças hematológicas, como doença falciforme, pacientes com doença renal crônica, doenças autoimunes ou doenças acidopépticas), reavaliar clínica e laboratorialmente diariamente ou imediatamente, se sinais de alarme;
  • Os pacientes do grupo C (presença de sinal de alarme) ou D (presença de sinal de choque) devem ser internados.
  • Para mais informações sobre tratamento, acesse o link correspondente.
    Quais outros cuidados são necessários?
  • Evitar o uso de ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não esteroides;
  • Usar repelentes. Para mais informações, acesse o link correspondente.
    Quais são as situações de alarme que devem fazer o paciente retornar imediatamente ao Serviço de Pronto Atendimento (adaptado do Manual da Dengue: diagnóstico e manejo clínico – adulto e criança, de 2016, do Ministério da Saúde) [cms-watermark] ?
  • Sangramento oral ou nasal;
  • Diminuição repentina da febre;
  • Dor muito forte e contínua na barriga;
  • Vômitos frequentes;
  • Sangramento de nariz e boca (inclusive durante escovação dentária);
  • Sangramentos importantes;
  • Diminuição do volume da urina;
  • Tontura ao mudar de posição (deitar/sentar/levantar); [cms-watermark]
  • Dificuldade de respirar;
  • Agitação ou muita sonolência;
  • Suor frio.
    Como prevenir a dengue?
  • Não acumular água parada;
  • Eliminar os criadouros do mosquito;
  • Manter tampados caixa d'água, tonéis e barris d'água;
  • Encher de areia até a borda os pratos de plantas;
  • Manter as calhas limpas;
  • Jogar no lixo todo objeto inútil que possa acumular água e manter o lixo em sacos plásticos e a lixeira bem fechada;
  • Não deixar água acumular sobre a laje;
  • Acondicionar pneus em locais fechados para não acumular água;
  • Usar repelentes;
  • Colocar telas mosquiteiras.

Vacina contra a dengue:

A introdução da vacina contra a dengue no Calendário Nacional de Vacinação ocorreu pela primeira vez em fevereiro de 2024, atendendo inicialmente 521 municípios de 37 regiões de saúde do Brasil. Essa medida foi tomada devido à limitação da produção e fornecimento da vacina. Novos municípios serão contemplados em 2025.

Serão vacinadas as crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, faixa etária com maior número de hospitalização por dengue, seguido por idosos. Esse é um recorte que reúne o maior número de regiões de saúde. Serão realizadas duas doses, com intervalo de 3 meses entre elas. A inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunizações do SUS busca complementar as estratégias de controle da dengue, priorizando regiões com alta incidência da doença. A vacina é disponibilizada na rede privada. [cms-watermark]

Apesar desse avanço, o controle do vetor Aedes aegypti continua sendo a principal estratégia para prevenir a dengue e outras arboviroses urbanas, como chikungunya e Zika. Esse controle é realizado por meio de ações integradas de manejo de vetores e medidas preventivas nos domicílios.

Autoria principal: Renata Carneiro da Cruz (Pediatra pela UERJ e SBP).

Revisão: Gabriela Guimarães Moreira Balbi (Pediatria pela UFPR e Reumatologia Infantil pela UNIFESP).

Ministério da Saúde (BR). Nota Técnica nº 81/2024 CGIRF/DPNI/SVSA/MS [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2024 [citado em 19 dez 2024].

Ministério da Saúde (BR). Ministério da Saúde entrega nova remessa de vacinas da dengue [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2024 [citado em 19 dez 2024].

Ministério da Saúde (BR). Dengue: diagnóstico e manejo clínico – adulto e criança [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2024 [citado em 19 dez 2024].

Ministério da Saúde (BR). Dengue [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2024 [citado em 19 dez 2024].

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Fluxograma de classificação de risco e manejo do paciente com suspeita de dengue. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. [cms-watermark]

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.

Prefeitura da cidade de São Paulo (BR). Arboviroses: Dengue, Chikungunya e Zika. [internet]. (Acesso em 2 mar 2021).

Governo do Estado de São Paulo (BR). Diretrizes para a prevenção e controle das arboviroses urbanas no estado de São Paulo. São Paulo: Governo do estado de São Paulo, 2017.

Busato MA, Corralo VS, Guarda C, et al. Evolução da Infestação por Aedes Aegypti (Diptera: Culicidae) nos Municípios do Oeste do Estado de Santa Catarina. Rev Saúde Públ SC. 2014; 7(2):107-18.

Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Dengue: aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002.