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Dermatite Atópica em Pediatria

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Definição: Dermatite atópica (DA), ou eczema atópico, é um quadro inflamatório da pele, que cursa com coceira, tem curso crônico (prolongado), recidivante e tem lesões de pele com formas e distribuição típicas, principalmente nas áreas de extensão.

    Quais são as causas?
  • Genéticas/familiares;
  • Relacionadas ao sistema imune;
  • Não relacionadas ao sistema imune.
    Quais são os fatores de risco para DA?
  • História familiar de pais e irmãos alérgicos (atópicos), principalmente se tiverem DA;
  • Fatores relacionados a maior prevalência de DA: Tabagismo ativo e passivo, dieta pobre em peixes, frutas, vegetais e azeite;
  • Na história gestacional: Estresse materno e exposição ao fumo.
    Quais são as principais manifestações clínicas de DA?
  • O principal sintoma é a coceira (prurido);
  • O principal sinal é a inflamação da pele (eczema), que é caracterizada por lesões cutâneas inflamatórias como vermelhidão (eritema), lesões pequenas avermelhadas (pápula/seropápula), vesícula (lembra pequena bolha d'água), descamação, crosta e pele grossa (liquenificação). A pele ressecada (xerose) também é uma característica constante da DA.
    Quais são os critérios diagnósticos de DA usados pela ASBAI e SBP (Antunes, et al. 2017)?
  • É necessário ter característica essencial de prurido (coceira na pele) nos últimos 12 meses (ou relato dos responsáveis) mais ≥ 3 características clínicas:
    • História de xerodermia (pele seca) nos últimos 12 meses;
    • História pessoal de rinite ou asma (ou familiares de primeiro grau em crianças < 4 anos de idade);
    • Sintomas iniciados antes dos 2 anos de idade (considerando antes dos 4 anos);
    • História de lesões em regiões flexurais (lesões antecubitais, poplíteas, cervicais, periorbitais ou em tornozelos);
    • História do eczema em região extensora (< 4 anos, incluir região frontal, malar e regiões extensoras de membros).
    Como estratificar a gravidade clínica e psicossocial da DA?
  • Livre (sem sinais de DA no momento): Pele normal, sem sinais de dermatite, o que não impacta a qualidade de vida;
  • Leve: Regiões de xerodermia, pouco prurido e há pouco impacto nas atividades cotidianas, psicossociais e/ou no sono;
  • Moderada: Regiões de xerodermia, prurido frequente relacionado à inflamação (pode ter escoriações na pele e apresenta áreas de espessamento da pele) e há moderado impacto nas atividades cotidianas, psicossociais e/ou no sono;
  • Grave: Xerodermia difusa, prurido constante relacionado à inflamação (pode ter escoriações na pele e apresenta áreas de espessamento da pele com liquenificação, pigmentação alterada e sangramento) e há grande impacto nas atividades cotidianas, psicossociais e/ou no sono.
    O tratamento da DA é baseado na educação dos responsáveis e dos pacientes em três pilares:
  • Hidratação da pele;
  • Evitar os alérgenos (fatores) desencadeantes;
  • Usar corretamente as medicações anti-inflamatórias.
    Quais os sabonetes e xampus recomendados?
  • Sabonetes para pele seca e sensível:
    • Aveeno ® cabeça aos pés;
    • Epidrat ® sensi;
    • Fisiogel ® liquid;
    • Jonhson’s ® cabeça aos pés; [cms-watermark]
  • Sabonetes "sindets":
    [cms-watermark]
    • Atoderm ® gel de limpeza;
    • Avène ® barra de limpeza;
    • Cetaphil ® restoraderm;
    • Cethaphil ® sabonete;
    • Eucerin pH 5 ® ;
    • Lipikar ® surgras;
    • Nutratopic ® gel banho;
    • Stelatopia ® creme de limpeza;
    • Xemose ® ; [cms-watermark]
  • Xampu: [cms-watermark]
    [cms-watermark]
    • Cetaphil ® xampu;
    • Eucerin ® xampu;
    • Fisioge xampu;
    • Kerium ® neutron. [cms-watermark]

Atenção! O banho deve ser morno a frio, durando 5-10 minutos, sem bucha. Tomar banho com sabonete apenas 1x/dia.

    Como deve ser o procedimento de aplicação do hidratante?
  • Logo após o banho, secar a pele com suavidade e aplicar o hidratante imediatamente. Pode-se aplicar vaselina ou outros hidratantes. Existem diversas opções no mercado. Devemos verificar com qual delas a criança se adapta melhor e qual a família é capaz de comprar, mantendo boa adesão ao tratamento;
  • Hidratantes que contenham ureia ou lactato devem ser usados na fase de remissão, mas evitados nas lesões ativas por provocarem ardência. A seguir, citamos exemplos de produtos comerciais indicados no Guia Prático de Atualização em Dermatite Atópica – Parte II – Carvalho VO, et al.
    Quais hidratantes usar em períodos de exacerbação aguda?
  • Hidratantes com glicerina/aveia:
    • Aveeno ® loção;
    • Neutrogena ® body care pele extrasseca (frequentemente prescrito em ambulatórios públicos, por ter preço mais acessível);
    • Neutrogena Norwegian ® hidratante corporal;
    • Umiditá ® loção;
  • Hidratantes com ação sobre o prurido:
    • Fisiogel ® AI;
    • Lipikar ® AP+;
    • Nutratopic ® Rx;
    • Umiditá ® AI;
  • Hidratantes com ceramidas, colesterol, ácidos graxos, fosfolipídeos e manteiga de karité:
    • Atoderm ® creme/baume;
    • CeraVe ® creme/loção;
    • Cetaphil ® Advanced;
    • Cetaphil ® creme/loção;
    • Cetaphil ® Restoraderm;
    • Cold Cream ® ;
    • Epidrat ® Ultra;
    • Eucerin ® pH 5 loção;
    • Fisioativ ® creme/loção;
    • Fisiogel ® creme/loção;
    • Stiefel Hydracell ® creme;
    • Hydraporin ® loção;
    • Baume ® ;
    • Nutratopic ® creme/loção;
    • Saniskin ® loção;
    • Stelatopia ® creme;
    • Xeracalm ® AD creme.
    Quais hidratantes usar para pele seca e não escoriada?
  • Hidratantes com ureia :
    • Dardia ® loção/pomada 5% ureia micronizada;
    • Dermovance ® ;
    • Emoderm ® creme;
    • Eucerin ® 3% e Eucerin ® Complete repair 10%;
    • Hidrapel Plus ® creme/loção;
    • Iso-urea ® creme/loção 5%;
    • Nutraplus ® creme/loção;
    • Ureactiv ® creme/loção 3%, 5%, 10%;
    • Ureadin ® creme/loção 3%, 5%, 10%;
    • Ureadin ® Rx;
    • Urehidra ® creme gel;
    • Uremol ® creme/fluido 10%.
    Quais medicações anti-inflamatórias podem ser usados na DA?
  • Corticoides tópicos - em lesões limitadas;
  • Corticoides sistêmicos - quando há muitas lesões e em casos graves;
  • Inibidores da calcineurina;
  • Fototerapia;
  • Ciclosporina (em casos graves e resistentes de DA);
  • Imunomoduladores (DA grave).

Observação! Os preços dos produtos de hidratação e tratamento variam muito no mercado. É importante conversar com o paciente sobre produtos que realmente sejam viáveis e com preços que caibam em seu orçamento.

Importante! Para mais informações sobre tratamento e prescrição, acesse Condutas Pediátricas e prescrição de Dermatite Atópica em Pediatria.

    Qual medicação pode ajudar no controle da coceira?
  • Os anti-histamínicos clássicos e sedativos, como Hidroxizina VO, agem melhor na tentativa de diminuir o prurido, pois provocam sedação. Usar à noite, em dose única. Já nos casos de prurido muito intenso e incontrolável, usar de 2-4 mg/kg/dia VO, dividida em 3-4 doses. Observação! Anti-histamínicos tópicos estão contraindicados de forma absoluta devido ao risco de fotossensibilização.

A doença tem um curso crônico, com exacerbações e remissão, sendo necessário o acompanhamento pelo pediatra geral ou medicina de família. Enquanto nos casos moderados a graves, é importante o acompanhamento em conjunto por dermatologista e alergistas pediátricos.

Atentar para o fato de quanto mais precoce o início da doença, mais grave provavelmente será o curso da mesma. [cms-watermark]

    O que fazer para diminuir os fatores ambientais que desencadeiam dermatite atópica? Como fazer o controle do ambiente?
  • Para pacientes aeroalérgenos com dermatite atópica crônica moderada e grave e/ou associação com rinite alérgica e/ou asma e/ou sensibilizados a ácaros:
    • Evitar o uso de produtos perfumados como xampus, talcos, colônias e sabonetes. Priorizar o uso de pastas e sabões em pó para limpar o banheiro e a cozinha;
    • Evitar tabagismo passivo e ativo, inclusive no período gestacional;
    • Evitar varrer a casa e usar espanador de pó. Preferir passar pano úmido no chão diariamente e usar aspirador de pó com filtros especiais 2x/semana;
    • Animais de estimação não devem dormir no mesmo quarto nem na mesma cama que a criança. Os animais de estimação preferenciais para crianças atópicas são peixes e tartarugas;
    • Máximo de controle higiênico para evitar baratas e roedores em casa;
    • Não ingerir alimentos ou ter contato com substâncias que já provocaram alergia no paciente previamente;
    • Evitar ter bichos de pelúcia, tapetes, cortinas e almofadas;
    • Evitar estantes de livros, revistas ou acúmulo de objetos que predisponham à formação de colônia de ácaros;
    • Se houver tapetes de difícil lavagem em casa e não for possível se desfazer deles, aspirá-los 2x/semana e, se possível, expô-los ao sol;
    • Preferir cortinas do tipo persiana que possam ser limpas com pano úmido;
    • Trocar a roupa de cama e lavá-las com regularidade [cms-watermark] ;
    • Preferir travesseiro e colchão de espuma, fibra ou látex preferencialmente envoltos em material plástico (vinil) ou em capas impermeáveis aos ácaros;
    • Não justapor camas e berços à parede. Caso não seja possível, coloque a cama junto à parede sem marcas de umidade ou próxima à mais ensolarada;
    • Identificar e eliminar o mofo e a umidade. A solução diluída de água sanitária pode ser aplicada nos locais mofados, até sua resolução definitiva, mesmo porque são irritantes respiratórios;
    • O paciente atópico deve ser afastado do ambiente enquanto se faz a limpeza;
    • A água para tomar banho deve ter temperatura semelhante à corporal. Evitar banhos muito quentes ou muito frios. Evitar oscilação brusca de temperatura;
    • Limpar os filtros dos aparelhos de ar-condicionado mensalmente;
    • Evitar a exposição a temperaturas ambientes muito baixas ou a oscilações de temperatura.

Parágrafo de texto.

Autoria principal: Renata Carneiro da Cruz (Pediatria pela UERJ e SBP).

Revisão: Gabriela Guimarães Moreira Balbi (Pediatria pela UFPR e Reumatologia Infantil pela UNIFESP).

Antunes AA, Solé D, Carvalho VO, et al. Guia prático de atualização em dermatite atópica – Parte I: etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Posicionamento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e da Sociedade Brasileira de Pediatria. Arq Asma Alerg Imunol. 2017; 1(2):131-56

Ministério da Saúde (BR). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Dermatite Atópica. Portaria Conjunta SAES/SECTICS nº 34, de 2023 [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2023 [citado em 19 dez 2024].

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Conjunta SAES/SECTICS nº 34: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dermatite Atópica [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2023 [citado em 20 jan 2025].

Carvalho VO, Solé D, Antunes AA, et al. Guia prático de atualização em dermatite atópica – Parte II: abordagem terapêutica. Posicionamento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e da Sociedade Brasileira de Pediatria. Arq Asma Alerg Imunol. 2017; 1(2):157-82.

Abagge KT. Dermatite atópica – o que o pediatra deve saber [internet] [cms-watermark] . Sociedade Brasileira de Pediatria, 2012.

Neto HJC. Diretrizes da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e Sociedade Brasileira de Pediatria para sibilância e asma no pré-escolar Arq Asma Alerg Imunol. 2018; 2(2):163-208.

Rubini NPM, Wandalsen GF, Rizzo MCV, et al. Guia prático sobre controle ambiental para pacientes com rinite alérgica. Arq Asma Alerg Imunol. 2017;1(1):7-22.

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Takemoto CK. Pediatric & Neonatal Dosage Handbook 2018-2019. Lexicomp, 2018.

Cloridrato de hidroxizina. Jadir Vieira Junior. Juiz de Fora: Medquímica Indústria Farmacêutica Ltda, 2016. Bula de remédio.