Orientações ao Prescritor
Abordaremos as principais drogas e sua utilização no paciente com DRC:
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O tratamento do diabetes tipo 2
é um desafio nos pacientes com doença renal crônica (DRC), pois algumas drogas não podem ser utilizadas a depender da taxa de filtração renal do paciente e, algumas até podem, mas necessitam de ajuste de doses;
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O ADA 2022
Standards Care
e a diretriz KDIGO 2022 recomendam, para a maioria dos pacientes:
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Início precoce da
M
etformina
;
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Um
inibidor de SGLT2,
em especial se paciente apresenta proteinúria, pensando em redução de risco cardiovascular e preservação de função renal
independente da hemoglobina glicada-alvo ou metformina;
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Agentes adicionais podem ser incluídos para otimização da meta glicêmica, sendo a primeira recomendada atualmente os inibidores de GLP-1.
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As
insulinas
podem ser utilizadas nos pacientes com doença renal crônica:
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Nos pacientes com DM1, é o único tratamento comprovadamente disponível;
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Como a meia-vida da insulina está aumentada nesse grupo de pacientes, deve-se iniciar com doses mais baixas, fazendo os ajustes conforme necessário.
Tratamento Farmacológico
Escolha uma das classes ou associe-as conforme necessidade clínica:
Classe A: Biguanidas
:
É recomendada como terapia de primeira linha em pacientes com eGFR ≥30 mL/min/1,73 m².
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Metformina
500-2.000 mg/dia (dose máxima: 2,5 g/dia).
Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 60 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose. Monitorar função renal pelo menos anualmente;
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ClCr 45-60 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose, mas atentar para função renal e acidose de 3-6 meses;
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ClCr 30-45 mL/minuto:
Se optar por uso, iniciar com 500 mg ao dia até no máximo, 1 g/dia. Se estiver em uso de doses mais altas, manter 1 g/dia por risco de acidose láctica;
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ClCr < 30 mL/minuto: Descontinuar o uso.
Classe B: Inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT-2):
C
om benefício renal e cardiovascular comprovado para pacientes com DM2, DRC e ClCr ≥ 20 mL/minuto/1,73 m
2
. Escolha uma das opções: Estudos como CREDENCE, DAPA-CKD e EMPA-KIDNEY demonstraram benefícios significativos desses medicamentos em pacientes com DRC.
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Dapagliflozina
Iniciar com 5 mg/dia e aumentar até 10 mg/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr >20 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose; uma vez iniciado, manter mesmo em níveis mais baixos de função renal.
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Canagliflozina
I
niciar com 100 mg/dia e aumentar até 300 mg/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 60 mL/minuto:
Sem ajuste de dose;
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ClCr 20-60 mL/minuto:
Utilizar no máximo 100 mg/dia;
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ClCr < 20 mL/minuto:
Não se recomenda o uso, porém, em pacientes que já faziam uso da droga, manter, no máximo, 100 mg/dia.
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Empagliflozina
Iniciar com 10 mg/dia e aumentar até 25 mg/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 45 mL/minuto:
Sem ajuste de dose;
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ClCr 20-45 mL/minuto:
Uso controverso (a maior parte da literatura não recomenda o uso);
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ClCr < 20 mL/minuto:
Não utilizar.
Classe C: Metiglinidas:
Promovem a secreção rápida e de curta duração de insulina em resposta às refeições, ajudando a controlar a hiperglicemia pós-prandial.
Escolha uma das opções:
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Repaglinida
0,5-4 mg/dia (dose máxima 16 mg/dia). Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 30 mL/minuto:
Não há necessidade de ajuste de dose;
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ClCr < 30 mL/minuto:
Iniciar com 0,5 mg e monitorar.
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Nateglinida
120 mg 3x/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 30 mL/minuto:
U
sar dose habitual;
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ClCr < 30 mL/minuto:
Iniciar com doses baixas (60 mg 3x/dia, antes das refeições); como metabólitos são excretados via renal, podem causar hipoglicemia.
Classe D: Inibidores dipeptidil-peptidase 4 (DPP-4) – gliptinas:
Escolha uma das opções:
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Linagliptina
5 mg/dia. Não há necessidade de ajuste na doença renal crônica, nem em pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal. A não necessidade de correção de dose transforma essa droga em opção bastante atraente;
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Sitagliptina
100 mg/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 50 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose;
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ClCr 30-50 mL/minuto:
Reduzir a dose para 50 mg/dia;
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ClCr < 30 mL/minuto:
Reduzir a dose para 25 mg/dia;
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Para pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal:
25 mg/dia.
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Saxagliptina
5 mg/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 45 mL/minuto:
Não há ajuste de dose;
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ClCr < 45 mL/minuto:
Reduzir para 2,5 mg/dia;
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Pacientes em hemodiálise:
2,5 mg/dia após HD;
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Sem dados suficientes para dosagem em pacientes em diálise peritoneal.
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Alogliptina
6,25-25 mg/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 60 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose;
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ClCr 30-60 mL/minuto:
12,5 mg 1x/dia;
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ClCr 15-30 mL/minuto:
6,25 mg 1x/dia;
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ClCr < 15 mL/minuto:
6,25 mg/dia;
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Sem dados suficientes para pacientes em diálise peritoneal.
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Vildagliptina
50 mg 2x/dia. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr > 50 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose;
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ClCr < 50 mL/minuto:
50 mg 1x/dia.
Classe E: Agonistas de GLP-1 (
glucagon-like peptide-1
):
B
enefício cardiovascular para pacientes com DM2 e DRC que não estão em meta glicêmica com Metformina e/ou um SGLT2i ou que não possa usar esses medicamentos. Escolha uma das opções:
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Liraglutida
Iniciar com 0,6 mg SC 1x/dia, por 1 semana. Aumentar para 1,2 mg/dia. Caso necessário, poderá ser aumentada para 1,8 mg/dia;
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Não há necessidade de ajuste para DRC;
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Em pacientes com DRC ou em hemodiálise/diálise peritoneal, o uso deve ser cauteloso devido às poucas evidências do uso da droga nessas populações.
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Lixisenatida
10-20 microgramas SC 1x/dia, sempre no mesmo horário. Dose de acordo com ClCr, conforme descrito a seguir:
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ClCr 30-89 mL/minuto:
Não requer ajuste de dose, porém monitorar efeitos adversos gastrointestinais como vômitos e diarreia, que podem levar à desidratação e piorar a função renal;
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ClCr 30-15 mL/minuto:
Não há dados suficientes para ajuste de dose nesses pacientes, e o uso deve ser feito com cautela;
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ClCr < 15 mL/minuto:
Uso não recomendado.
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Dulaglutida
0,75-1,5 mg 1x/semana SC. Não há ajustes para DRC, pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal, mas seu uso deve ser cauteloso;
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Semaglutida
0,25, 0,5 ou 1 mg SC 1x/semana. Não há ajustes para DRC, pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal, mas seu uso deve ser cauteloso.
Classe F: Tiazolidinedionas - Glitazonas:
Podem ser uma opção terapêutica em pacientes com DRC, mas há de se ponderar efeitos adversos, como a retenção de fluidos e o potencial agravamento da insuficiência cardíaca. A decisão deve ser individualizada, levando em conta o perfil de risco cardiovascular do paciente e a necessidade de monitoramento rigoroso.
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Pioglitazona
15-45 mg/dia. Não há necessidade de ajuste na DRC:
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Deve ser evitada em casos de DRC avançada, principalmente se houver insuficiência cardíaca já documentada, pelo risco de edema e agravamento da insuficiência cardíaca.
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Classe G: Sulfonilureias:
Glipizida e Gliclazida são consideradas mais seguras em pacientes com DRC, pois não são eliminadas pelos rins e não têm metabólitos ativos. No entanto, devem ser usadas com cautela devido ao risco de hipoglicemia.