Definição: Infecção que acomete a parte interna da órbita (músculos orbitais e gordura), mas não acomete o globo ocular em si. É uma infecção grave, que pode gerar complicações importantes e pode ser potencialmente fatal.
A rota mais comum de infecção na celulite orbitária é a extensão regional de uma infecção de seios da face que se encontram intimamente relacionados com a órbita (seios maxilares, frontais e etmoidais). As veias orbitárias drenam diretamente para os seios cavernosos e são desprovidas de válvulas, o que possibilita a disseminação da infecção para estruturas intracranianas, justificando, assim, as complicações graves relacionadas com as celulites orbitárias.
A diferenciação entre a celulite periorbitária (ou pré-septal) da celulite orbitária é fundamental para definir a conduta. Em ambos os casos, os pacientes se apresentam com edema palpebral, eritema e dor ocular.
Os principais sintomas da celulite orbitária são: febre, edema, hiperemia e dor ocular; na celulite orbitária, a dor ocorre principalmente à movimentação ocular, e pode haver queixa de redução da acuidade visual e diplopia. Podem ocorrer, ainda, proptose (protusão do globo ocular) e oftalmoplegia (paralisia de um ou mais músculos da movimentação ocular).
Os pacientes também podem se apresentar com sintomas relacionados ao sistema nervoso central, como cefaleia, alteração de sensório, náuseas e vômitos, e sintomas mais sistêmicos, como febre, mal-estar, descarga nasal e tosse.
Observam-se edema e hiperemia da pálpebra do olho acometido. Pode haver quemose (edema de conjuntiva).
Os pacientes com celulite orbitária apresentam dor à movimentação ocular, proptose e oftalmoplegia com diplopia (esses achados nunca estão presentes na celulite periorbitária).
O paciente pode apresentar redução da acuidade visual e mesmo cegueira, devido ao comprometimento dos nervos ópticos.
É essencial avaliar diariamente a acuidade visual e os reflexos pupilares para pesquisar complicações associadas.
Complicações: Abscesso subperiosteal, abscesso orbitário, cegueira, tromboflebite de seio cavernoso e abscesso cerebral.
A suspeita de celulite orbitária é clínica e deve ser confirmada com a realização de exames de imagem (tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética de órbitas e seios da face). Esses exames também são utilizados para avaliação de complicações. Na suspeita de infecção de complicações intracranianas, deve-se também realizar exame de imagem do sistema nervoso central (TC ou RNM).
A ultrassonografia ocular pode ser utilizada para localizar e guiar a drenagem de um abscesso orbitário.
Indicações para exame de imagem: Proptose, limitação dos movimentos oculares, dor à movimentação ocular, diplopia, redução da acuidade visual, alterações dos reflexos pupilares, edema que se estende além das margens palpebrais, leucócitos > 10.000 células/micropoL, sinais e sintomas de envolvimento do sistema nervoso central (SNC), dificuldade para avaliação de acuidade visual (principalmente nas crianças < 1 ano de idade), ausência de melhora após 24-48 horas de tratamento com antibiótico endovenoso, avaliação para drenagem cirúrgica.
Outros exames: Hemocultura, hemograma completo, velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR), Gram e cultura de secreção ocular (quando for realizada a drenagem cirúrgica).
Todos os pacientes com suspeita de celulite orbitária devem ser hospitalizados para investigação e tratamento.
São indicadas avaliações oftalmológica e otorrinolaringológica.
Indicações para cobertura anaeróbica: Pacientes com suspeita de complicação com infecção do sistema nervoso central (SNC) ou pacientes que apresentem celulite orbitária associada à sinusite crônica ou a foco infeccioso odontológico.
Esquema indicado para cobertura anaeróbica: Nesses casos, acrescentar ao esquema anterior:
Período de tratamento: De 2-3 semanas.
O papel dos corticoides endovenosos para o tratamento da celulite orbitária é controverso, e seu uso não deve ser indicado rotineiramente.
Autoria principal: Dolores Silva (Pediatria pela UERJ).
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