Definição: Infecção da parte anterior da pálpebra, que não afeta a órbita ou outras estruturas oculares.
A maioria das celulites periorbitárias resulta da extensão de uma infecção em um sítio anatômico próximo (ex.: sinusite, dacriocistite), da presença de corpos estranhos locais, ou da ocorrência de traumas, picadas de insetos ou mordidas de animais. A disseminação hematogênica para a região da órbita é rara.
Os principais patógenos envolvidos são:
Staphylococcus aureus,
Streptococcus
do grupo A,
Streptococcus pneumoniae
, outros estreptococos e germes anaeróbicos. Em crianças menores de 2 anos e não vacinadas,
Haemophilus influenzae
tipo B deve ser lembrado como possível agente etiológico.
O quadro clínico é bastante sugestivo: Edema e hiperemia palpebral ipsilateral. História de sinusite prévia, picadas de insetos ou traumatismo local reforçam o diagnóstico.
Presença de dor durante a movimentação ocular, quemose (edema conjuntival), proptose, alterações visuais, diplopia e febre alta sugerem o diagnóstico de celulite orbitária, infecção mais grave e com maior taxa de complicações.
O diagnóstico é basicamente clínico. Exames de imagem podem ser necessários, principalmente para diferenciar a celulite periorbitária de uma celulite orbitária, quando há dúvidas no diagnóstico.
Exames de imagem (tomografia computadorizada [TC] ou ressonância magnética [RM] dos seios da face e da órbita): Devem ser realizados (1) em caso de dúvida entre o diagnóstico de celulite periorbitária e celulite orbitária, como em pacientes com edema palpebral acentuado, quemose, proptose, dor à movimentação ocular, turvação visual, diplopia ou febre alta; (2) na presença de leucocitose; e/ou (3) na ausência de melhora após 24-48 horas de antibioticoterapia. TC de órbitas também pode estar indicada em casos em que há história de traumatismo importante ou suspeita de corpo estranho intraocular ou intraorbital.
Hemocultura: Tem baixa sensibilidade, não devendo ser realizada em todos os pacientes. Em pacientes pequenos, com febre alta, ou em casos em que não se consiga excluir totalmente o diagnóstico de celulite orbitária, realizar coleta da hemocultura.
Obter Gram e culturas de qualquer ferida aberta ou drenagem.
Tratamento ambulatorial: Pacientes > 1 ano de idade com celulite periorbitária leve, sem sinais de toxemia e com garantia de acompanhamento podem realizar tratamento ambulatorial.
Tratamento hospitalar: Pacientes < 1 ano de idade, pacientes que não conseguem colaborar com o exame físico e pacientes que demonstrem sinais de toxemia devem ser hospitalizados. Pacientes com dúvida diagnóstica entre celulite periorbitária e celulite orbitária também devem ser hospitalizados. Todos esses pacientes devem ser conduzidos do mesmo modo daqueles com diagnóstico de celulite orbitária.
Tempo de tratamento: De 5-7 dias. Se ao fim desse período ainda houver edema e/ou eritema palpebral, manter tratamento até que haja resolução dos sintomas.
Tratamento tópico: Não há indicação para tratamento tópico em casos de celulite periorbitária.
Aplicar compressas quentes na área inflamada 3x/dia ou conforme necessidade. Realizar exploração e debridamento se houver abscesso ou corpo estranho retido.
Não há evidência suficiente para o uso rotineiro de corticoides para o tratamento da celulite periorbitária.
Autoria principal: Dolores Silva (Pediatria pela UERJ).
Revisão:
Gabriela Guimarães Moreira Balbi (Pediatria pela UFPR e Reumatologia Infantil pela UNIFESP).
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