A infecção ocorre quando há quebra da barreira da pele (traumas, cirurgias, outras lesões cutâneas) com consequente entrada de microrganismos e resposta inflamatória associada. Os membros inferiores costumam ser os locais mais acometidos.
Celulite, abscesso cutâneo e erisipela podem ocorrer em indivíduos saudáveis sem condições predisponentes, porém existem alguns fatores de risco associados.
Celulite: Lesões cutâneas eritematosas, quentes e com formação de edema, com pouca delimitação da lesão (limites pouco definidos). O quadro tem início mais indolente, com sintomas localizados que se desenvolvem ao longo de alguns dias. Pode haver drenagem de material purulento.
Erisipela:
Lesões cutâneas eritematosas, quentes, elevadas e com formação de edema (aspecto de "casca de laranja") e clara demarcação entre o tecido sadio e o acometido (limites bem-definidos). Início abrupto de quadro cutâneo e sintomas sistêmicos (febre e calafrios).
A celulite e a erisipela são quase sempre unilaterais, sendo os membros inferiores o local mais comum de acometimento.
Outras formas de celulite incluem celulite orbitária, celulite da parede abdominal (em pacientes com obesidade mórbida), celulite bucal (devido a S. pneumoniae e, antes da era da vacina conjugada, H. influenzae tipo b) e celulite perianal (devida ao grupo A estreptococo beta-hemolítico).
Raramente, as infecções envolvendo o terço médio da face (ou seja, as áreas ao redor dos olhos e do nariz) são complicadas por trombose cavernosa séptica, uma vez que as veias dessa região não têm válvulas.
Figura 1.
Região de perigo na face.
Créditos:
Pfctdayelise/Wikimedia commons
O diagnóstico é baseado nos achados clínicos. Em geral, não são necessários exames complementares e as culturas têm baixa positividade em casos leves.
Hemocultura e cultura de pus/exsudatos: Solicitar nos seguintes casos: envolvimento sistêmico ou extenso, comorbidades (linfedema, malignidade, neutropenia, imunodeficiência, pacientes esplenectomizados, diabetes), exposição especial (mordidas de animais, lesões relacionadas com água), celulite persistente/recorrente e celulite orbitária.
Radiografias locais: Podem ser úteis para excluir abscessos e osteomielites associadas.
Hemograma com diferencial: Realizar em todos os casos graves. Pode haver leucocitose com neutrofilia.
Tratamento ambulatorial: Quadros leves sem manifestações de doença sistêmica podem ser tratados e acompanhados ambulatorialmente, devendo ser reavaliados entre 2 e 4 dias após o início do tratamento.
Internação hospitalar: Quadros moderados a graves (grande extensão da lesão), rápida progressão do eritema, imunodeficiência, persistência ou progressão do quadro apesar de antibioticoterapia oral realizada por 48-72 horas, erisipelas com sinais/sintomas de doença sistêmica (febre, calafrios), pacientes toxêmicos. Realizar antibioticoterapia venosa.
Internação em CTI: Pacientes com sinais de toxemia e/ou de choque séptico.
Transição para antibioticoterapia oral: Pode-se trocar o esquema para oral nos casos de pacientes com celulites não complicadas que estão afebris e com melhora dos sintomas.
Drenagem cirúrgica: Resposta ruim ao tratamento antibiótico, evidências de abscesso, falha de resposta precoce ao antibiótico.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINE) podem ser utilizados para controle álgico. Alguns estudos sugerem que o uso desses medicamentos pode estar relacionado a uma melhora mais rápida do quadro (principalmente até o terceiro dia de doença), apesar das evidências heterogêneas e dos dados baseados apenas em pacientes adultos.
Na suspeita de infecções de repetição por S. aureus : Pode ser tentado um ciclo de descolonização com Mupirocina em regiões de dobras, principalmente nasal, axilas e perianal, de 8/8 horas por 7 dias.
Autoria principal: Dolores Silva (Pediatria pela UERJ).
Revisão:
Gabriela Guimarães Moreira Balbi (Pediatria pela UFPR e Reumatologia Infantil pela UNIFESP).
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