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Conjuntivites na Atenção Primária

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Definição: Principal causa de olho vermelho, a conjuntivite é o processo de inflamação da conjuntiva.

A conjuntivite é secundária a uma infecção viral, bacteriana ou a uma reação alérgica ou tóxica.

A etiologia bacteriana pode estar predominantemente associada às espécies Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, S. aureus, N. gonorrhoeae, e Chlamydia trachomatis.

    Quadro clínico:
  • Conjuntivite bacteriana: Secreção purulenta que se refaz rapidamente, conjuntivas inflamadas, pontos vermelhos, sem adenopatia pré-auricular;
  • Conjuntivite viral: Secreção aquosa, sensação de "areia nos olhos", folículos translúcidos circundados por vasos sanguíneos, com adenopatia pré-auricular e muitas vezes história de infecção de vias aéreas superiores;
  • Conjuntivite alérgica: Prurido predominante, ardência, secreção mucoide, edema, história de alergia sistêmica ou de exposição a alérgenos.

Deve-se descartar a presença de outras lesões oculares ou palpebrais (como hordéolo ou blefarite) que poderiam causar inflamação secundária da conjuntiva.

    Marcadores de gravidade: [cms-watermark]
  • Sintomas sem resolução após 1 semana;
  • Fotofobia;
  • Incapacidade de abrir os olhos;
  • Diminuição da acuidade visual;
  • Dor ocular;
  • Cefaleia forte;
  • Náuseas associadas. [cms-watermark]

O diagnóstico de conjuntivite é clínico, bem como a diferenciação entre suas etiologias (ver tópico anterior: Apresentação Clínica).

Usuários de lentes de contato: Em quadros leves de conjuntivite não infecciosa, deve-se suspender o uso das lentes de contato e aguardar 24-48 horas pela melhora. Caso não haja melhora ou o paciente tenha dor ocular ou embaçamento visual que não melhore com a lubrificação em algumas horas, o paciente deve procurar o oftalmologista. O uso de lentes de contato é fator de risco para a infecção microbiana.

  • Tracoma;
  • Ceratite;
  • Glaucoma de ângulo fechado;
  • Corpo estranho ocular;
  • Pterígio;
  • Hordéolo;
  • Blefarite;
  • Episclerite/esclerite.
    Orientações:
  • Orientar sobre higiene para os casos virais e bacterianos: Lavar as mãos com frequência, evitar o compartilhamento de toalhas e outros objetos. Passar álcool 70% nas superfícies compartilhadas da casa;
  • Evitar coçar os olhos;
  • Em casos de conjuntivite alérgica, suspender o uso de lentes de contato até a resolução do quadro;
  • A maioria dos casos tem resolução espontânea em 1-2 semanas (65% dos casos em 5 dias);
  • Afastar-se das atividades (trabalho, escola) por 7 dias ou mais, se necessário;
  • Orientar que, caso não haja melhora em 7-10 dias, o paciente deve procurar o oftalmologista para avaliar a possibilidade de uma das complicações das conjuntivites virais (infiltrado adenoviral, que cursa com embaçamento da visão, ou pseudomembrana, que cursa com sensação de corpo estranho).
    Encaminhar em caso de:
  • Conjuntivites que não melhoram em 1 semana;
  • Presença de fotofobia, incapacidade de abrir os olhos ou diminuição da acuidade visual;
  • Cefaleia forte com náuseas;
  • Suspeita de outros diagnósticos oftalmológicos;
  • Usuários de lentes de contato com hiperemia ocular, dor ou embaçamento visual.

A maioria dos casos tem resolução espontânea em 1-2 semanas (65% dos casos em 5 dias). O risco de complicações graves para conjuntivites não tratadas, mesmo bacterianas, é baixo. O tratamento deve ser realizado para os casos severos e para os pacientes que preferirem fazer uso do colírio após orientado sobre as limitações.

Deve-se realizar sempre as orientações não farmacológicas (ver tópico anterior: Acompanhamento).

Não existe tratamento curativo para conjuntivite viral. A prescrição de soluções oftálmicas com corticoides por médicos generalistas não é recomendada, em razão da dificuldade de se afastar outros problemas oftalmológicos que podem ser agravados por seu uso.

    Conjuntivite bacteriana :
  • Compressa de água gelada 4x/dia, por 15 minutos;
  • Tobramicina 0,3% solução oftálmica: 1 gota 4-6x/dia, por 7 dias;
  • Ciprofloxacino 0,3% solução oftálmica: 1 gota 4-6x/dia, por 7 dias;
  • Norfloxacino 0,3% solução oftálmica: 1 gota 4-6x/dia, por 7 dias.

Conjuntivite viral : Compressa de água gelada 4x/dia, por 15 minutos.

    Conjuntivite alérgica (vide prescrição específica):
  • Compressa de água gelada 4x/dia, por 15 minutos;
  • Loratadina (10 mg): 1 comprimido 1x/dia, até passarem os sintomas;
  • Dexclorfeniramina (2 mg): 1 comprimido de 8/8 horas, até passarem os sintomas.
    O que abordar na consulta de teleatendimento?
  • Pesquisar comorbidades, uso de lentes de contato, tempo de evolução do quadro, sintomas oculares, sintomas respiratórios associados;
  • Orientar sobre como evitar a transmissão para outros (limpeza de superfícies com álcool 70%, lavar bem as mãos, não compartilhar fronhas e toalhas, não colocar as mãos nos olhos);
  • Orientar sobre os sinais de gravidade.
    Como identificar sinais de piora do quadro?
  • Sensação de corpo estranho que não melhora (ou que volta a aparecer) ao longo da evolução pode ser sinal de formação de pseudomembrana;
  • Embaçamento da visão que não melhora (ou que volta a aparecer) ao longo da evolução pode ser sinal de infiltrado corneano adenoviral;
  • Quadro de dor ocular associada e embaçamento visual que não melhoram podem estar associados a quadros de ceratite.
    Quando procurar diretamente o serviço de saúde mais próximo para avaliação oftalmológica?
  • Usuário de lentes de contato com inflamação ocular;
  • Paciente que não melhora ou quando o quadro piora em 7-10 dias;
  • Paciente com dor ocular, embaçamento visual, cefaleia com náuseas, incapacidade de abrir os olhos.

Autoria principal: Renato Bergallo (Medicina de Família e Comunidade).

    Revisão:
  • Juliana Maria da Silva Rosa (Oftalmologia);
  • Raíssa M. Perlingeiro (Infectologia e mestrado em Pesquisa Clínica em Doenças Infectoparasitárias pelo INI/FIOCRUZ).
    Equipe adjunta:
  • ⁠⁠⁠⁠⁠Rafael Silva Duarte (Medicina e Microbiologia);
  • Philipp Oliveira (Medicina de Família e Comunidade);
  • Jéssica Borba Coutinho (Médica de Família e Comunidade e Paliativista);
  • Marcelo Gobbo Junior (Medicina de Família e Comunidade);
  • Isabel Cristina Melo Mendes (Infectologia).

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Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. Porto Alegre: Artmed, 2012.

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