No cuidado de pacientes que apresentam retorno da circulação espontânea (ROSC) após parada cardiorrespiratória (PCR), existem três prioridades:
Estabilização hemodinâmica e respiratória para evitar nova PCR;
Identificação da causa da PCR e tratamento específico: exames que devem ser solicitados e descartar 5 H's (hipovolemia, hipóxia, hipotermia, H+ (acidose), hipo/hipercalcemia) e 5 T's (tensão do pneumotórax, tamponamento cardíaco, trombose pulmonar, trombose coronariana, toxinas);
Prevenção de lesão secundária de sistema nervoso central (SNC).
Estabilização Hemodinâmica e Respiratória - Evitar Nova PCR
Garantir via aérea avançada;
Alvos de oxigenação:
Saturação 94-98% (pO2 68-105 mmHg).
pCO2 35-45 cm H2O (não existe benefício em manter hipercapnia nessa população).
Manter volume-minuto elevado até coleta de primeira gasometria arterial (impedir acidose).
Se paciente em coma: solicitar TC de crânio. Se transporte para setor de radiologia, realizar TC de tórax
e abdome
para descartar focos infecciosos e/ou outras patologias que podem causar PCR. Realizar eletroencefalograma
para descartar status epiléptico não convulsivo;
Raio-x de tórax
(se não for realizada TC de tórax);
Ecocardiograma transtorácico
(diagnóstico diferencial de causas de PCR);
Laboratório (hemograma
, troponina
, função renal e hepática, coagulograma, gasometria arterial
com lactato, Na, K, Mg, P, Cai);
Se suspeita de sepse: hemocultura e culturas de outros focos;
Se suspeita de intoxicação:
screening
toxicológico.
Prevenção de Lesão Secundária de SNC
Se paciente em coma:
Controle ativo de temperatura (TTM) por 24-48 horas (prevenir ativamente temperatura central > 37,5ºC).
Em seguida, prevenir temperatura > 37,7ºC por 72 horas.
Se hipertermia, podemos utilizar antitérmicos (ex.:
Dipirona
,
Paracetamol
) e dispositivos de resfriamento de superfície e/ou intravascular (não utilizar fluidos resfriados).
Utilizar sedação durante hipotermia. Uso de bloqueio neuromuscular somente se
shivering
refratário a antitérmicos, opioides e aumento da sedação.
Vigilância de crises convulsivas (avaliar videoeletroencefalograma contínuo se uso de sedação ou paciente em coma);
Aguardar pelo menos 72 horas para avaliação de prognóstico.
Prescrição (
FAST-HUG
)
Dieta:
Manter jejum até estabilização hemodinâmica inicial. Se uso de droga vasoativa, iniciar dieta enteral em dose baixa (6 kcal/kg/dia);
Analgesia:
Analgesia para todos pacientes em ventilação mecânica (ex.:
Fentanil
10-20 microgramas/hora ou
Cetamina
0,1 mg/kg/hora);
Sedação:
I
nicialmente manter paciente sem sedação para permitir avaliação neurológica seriada. Avaliar início de sedação somente se: crise convulsiva refratária, agitação perigosa ou necessidade de bloqueio neuromuscular. Sugestão de
Propofol
, ao invés de
Midazolam
, pela menor meia-vida;
Profilaxia de tromboembolismo venoso: Heparina não fracionada
(ex.: 5.000 unidades 12/12 horas),
Enoxaparina
(ex.: 40 mg/dia) ou compressor pneumático;
Inibidor de bomba de prótons em todos os pacientes para profilaxia de lesão aguda de mucosa (ex.:
Omeprazol
20 mg 1x/dia);
Alvo de controle glicêmico habitual para doentes críticos (glicemia 140-180 mg/dL).