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Deficiência de Biotina

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A deficiência de Biotina é uma alteração nutricional relativamente rara causada pela deficiência de biotina, uma vitamina hidrossolúvel do complexo B (vitamina B7). Também é conhecida como vitamina H, coenzima R, fator S etc.

A biotina é envolvida em importantes processos metabólicos, como: [cms-watermark]

  • Gliconeogênese;
  • Síntese de ácidos graxos;
  • Catabolismo de diversos aminoácidos de cadeia ramificada;
  • Síntese proteica;
  • Replicação celular. [cms-watermark]

A deficiência de biotina está associada ao desenvolvimento de:

  • Alopecia;
  • Dermatite ao redor dos olhos, nariz e boca;
  • Conjuntivite;
  • Náuseas;
  • Anorexia;
  • Mialgia;
  • Sintomas neurológicos, como parestesias, alucinações, letargia e alteração do estado mental. [cms-watermark]

Antes da implementação da suplementação rotineira, a deficiência de biotina foi inicialmente identificada em pacientes submetidos à nutrição parenteral prolongada. Após instituir-se a suplementação rotineira, a deficiência de biotina nesses pacientes atualmente é rara.

A biotina é facilmente encontrada na alimentação em quantidades suficientes, sendo suas fontes mais ricas: fígado, gema de ovo, soja e leveduras. O consumo excessivo de claras de ovos cruas pode reduzir os níveis de biotina devido à presença da avidina, uma substância que se liga à biotina e impede sua absorção; o uso de algumas medicações (anticonvulsivantes, antibioticoterapia prolongada) também pode ser responsável por reduzir seus níveis séricos e pode ser preciso revisá-las em caso de deficiência vitamínica.

Além disso, a deficiência secundária de biotina pode ocorrer devido à ausência de uma enzima específica (biotinidase), necessária para liberá-la das proteínas e torná-la disponível para o organismo. [cms-watermark]

Anamnese

  • É rara em pessoas saudáveis, já que a necessidade diária de biotina é baixa (8-12 microgramas/dia para crianças e 30 microgramas/dia para adultos) e quase todos os alimentos contêm quantidade significativa de biotina;
  • A microbiota intestinal sintetiza grande quantidade de biotina e uma fração significativa de biotina do corpo é reciclada;
  • Independentemente da etiologia, as manifestações clínicas são as mesmas, estando ligadas à pele, ao trato gastrintestinal, ao cabelo e aos sistemas nervosos central e periférico;
  • A deficiência de biotinidase, apesar de rara, é uma das principais causas. O consumo excessivo de clara de ovo crua também provoca importante quadro de deficiência de biotina devido à presença da avidina, substância que impede a absorção da biotina;
  • Os primeiros sintomas de deficiência de biotina estão associados à pele e ao cabelo;
  • Após 3-5 semanas de deficiência de biotina, os sintomas se desenvolvem, sendo os achados cutâneos os mais comuns:
    • Xerose cutânea;
    • Dermatite seborreica;
    • Infecções fúngicas;
    • Erupções cutâneas;
    • Cabelo fino e quebradiço;
    • Perda de cabelo ou alopecia total;
    • Conjuntivite;
    • Atrofia óptica;
    • Alterações neurológicas, como letargia;
    • Alucinações;
    • Parestesias;
    • Convulsões;
    • Deficiência auditiva; [cms-watermark]
  • Aproximadamente 1-2 semanas depois, os sintomas neurológicos começam a se desenvolver, sendo os achados neurológicos mais comuns:
    • Depressão leve, que pode progredir para fadiga importante e, eventualmente, para sonolência;
    • Mudanças no estado mental;
    • Mialgias;
    • Hiperestesia;
    • Parestesia; [cms-watermark]
  • Outras manifestações podem incluir mialgia, anorexia e náusea;
  • Os sintomas do trato intestinal também se desenvolvem e, em geral, incluem náuseas, ocasionalmente graves, vômito e anorexia;
  • Há relatos de convulsões sensíveis à biotina, à paraparesia espástica e à encefalopatia devida à deficiência de biotinidase;
  • Causas principais:
    • Consumo de clara de ovo crua em excesso;
    • Nutrição parenteral total sem suplementação de biotina;
    • Terapia anticonvulsivante (especialmente Fenitoína, Fenobarbital, Primidona e Carbamazepina);
    • Antibioticoterapia oral prolongada;
    • Tratamento com Isotretinoína;
    • Doença genéticas/erro inato do metabolismo (deficiência de biotinidase);
    • Dieta cetogênica. [cms-watermark]

O diagnóstico de deficiência de biotina é basicamente clínico, podendo ser feito com base em anamnese cuidadosa e exame físico detalhado.

Uma forma de confirmar a deficiência da biotina é a dosagem urinária do ácido 3-hidroxi-isovalérico, que se mostra aumentado na sua ausência, porém alguns estudos sugerem que o uso desse biomarcador apresenta limitações devido às variabilidades interindividuais e à dificuldade de se determinarem níveis acurados para diagnóstico da insuficiência de biotina.

Também é possível dosar níveis de amônia sérica, de cetonas na urina, níveis quantitativos de aminoácidos plasmáticos, de carnitina plasmática (tanto livres como totais) e bioquímica. [cms-watermark]

A dosagem sérica de biotina não é um bom marcador para a deficiência dessa vitamina.

O teste de triagem neonatal pode levantar a suspeita de deficiência de biotinidase.

O diagnóstico é confirmado pela dosagem sérica quantitativa da enzima biotinidase e, mais raramente na atualidade, em leucócitos de sangue periférico ou em cultura de fibroblastos obtidos por biópsia de pele. [cms-watermark]

Nos casos com acometimento neurológico, a ressonância magnética (RM) pode revelar miopatia e alterações de sistema nervoso.

  • Deficiência de biotinidase;
  • Deficiência de carnitina;
  • Acidemia metilmalônica;
  • Deficiência de propionil CoA carboxilase;
  • Deficiência de piruvato carboxilase;
  • Deficiência de holocarboxilase sintetase;
  • Deficiência das subclasses IgA e IgG;
  • Nutrição no paciente cirúrgico;
  • Síndrome de morte súbita infantil;
  • Nutrição parenteral sem suplementação de biotina.

Esses pacientes devem ser acompanhados por dermatologista, neurologista e geneticista experientes.

A abordagem terapêutica inclui o reconhecimento precoce da condição e a pronta instituição de terapia com quantidades adequadas de Biotina.

    A dose de biotina para o tratamento varia entre 5-20 mg/dia VO, independentemente da idade. A quantidade de biotina necessária decresce com o aumento da idade.

O paciente deve interromper o consumo de ovos crus.

Incluir biotina nas soluções de NPT, caso a terapia seja prevista para mais de 1 semana.

Se o anticonvulsivante é a causa da deficiência de biotina, ele pode ser reavaliado e substituído por outro fármaco que não interfira na absorção de biotina.

Se a causa da deficiência de biotina for o uso prolongado de antibiótico oral e se a terapia não puder ser suspensa, a quantidade de biotina deve ser ajustada para a necessidade individual do paciente e pode ser administrada por via EV, IM e VO.

Infecções fúngicas da pele devem ser tratadas com os agentes apropriados, e muitas vezes pode ser necessário corrigir a deficiência de biotina para que haja sucesso no tratamento.

Autoria principal: Ana Carolina Pomodoro (Pediatria pela UFF e SBP).

    Revisão:
  • Dolores Silva (Pediatria pela UERJ); [cms-watermark]
  • Gabriela Guimarães Moreira Balbi (Pediatria pela UFPR e Reumatologia Pediátrica pela UNIFESP/EPM). [cms-watermark]

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