A deficiência de Biotina é uma alteração nutricional relativamente rara causada pela deficiência de biotina, uma vitamina hidrossolúvel do complexo B (vitamina B7). Também é conhecida como vitamina H, coenzima R, fator S etc.
A biotina é envolvida em importantes processos metabólicos, como:
A deficiência de biotina está associada ao desenvolvimento de:
Antes da implementação da suplementação rotineira, a deficiência de biotina foi inicialmente identificada em pacientes submetidos à nutrição parenteral prolongada. Após instituir-se a suplementação rotineira, a deficiência de biotina nesses pacientes atualmente é rara.
A biotina é facilmente encontrada na alimentação em quantidades suficientes, sendo suas fontes mais ricas: fígado, gema de ovo, soja e leveduras. O consumo excessivo de claras de ovos cruas pode reduzir os níveis de biotina devido à presença da avidina, uma substância que se liga à biotina e impede sua absorção; o uso de algumas medicações (anticonvulsivantes, antibioticoterapia prolongada) também pode ser responsável por reduzir seus níveis séricos e pode ser preciso revisá-las em caso de deficiência vitamínica.
Além disso, a deficiência secundária de biotina pode ocorrer devido à ausência de uma enzima específica (biotinidase), necessária para liberá-la das proteínas e torná-la disponível para o organismo.
O diagnóstico de deficiência de biotina é basicamente clínico, podendo ser feito com base em anamnese cuidadosa e exame físico detalhado.
Uma forma de confirmar a deficiência da biotina é a dosagem urinária do ácido 3-hidroxi-isovalérico, que se mostra aumentado na sua ausência, porém alguns estudos sugerem que o uso desse biomarcador apresenta limitações devido às variabilidades interindividuais e à dificuldade de se determinarem níveis acurados para diagnóstico da insuficiência de biotina.
Também é possível dosar níveis de amônia sérica, de cetonas na urina, níveis quantitativos de aminoácidos plasmáticos, de carnitina plasmática (tanto livres como totais) e bioquímica.
A dosagem sérica de biotina não é um bom marcador para a deficiência dessa vitamina.
O teste de triagem neonatal pode levantar a suspeita de deficiência de biotinidase.
O diagnóstico é confirmado pela dosagem sérica quantitativa da enzima biotinidase e, mais raramente na atualidade, em leucócitos de sangue periférico ou em cultura de fibroblastos obtidos por biópsia de pele.
Nos casos com acometimento neurológico, a ressonância magnética (RM) pode revelar miopatia e alterações de sistema nervoso.
Esses pacientes devem ser acompanhados por dermatologista, neurologista e geneticista experientes.
A abordagem terapêutica inclui o reconhecimento precoce da condição e a pronta instituição de terapia com quantidades adequadas de Biotina.
O paciente deve interromper o consumo de ovos crus.
Incluir biotina nas soluções de NPT, caso a terapia seja prevista para mais de 1 semana.
Se o anticonvulsivante é a causa da deficiência de biotina, ele pode ser reavaliado e substituído por outro fármaco que não interfira na absorção de biotina.
Se a causa da deficiência de biotina for o uso prolongado de antibiótico oral e se a terapia não puder ser suspensa, a quantidade de biotina deve ser ajustada para a necessidade individual do paciente e pode ser administrada por via EV, IM e VO.
Infecções fúngicas da pele devem ser tratadas com os agentes apropriados, e muitas vezes pode ser necessário corrigir a deficiência de biotina para que haja sucesso no tratamento.
Autoria principal: Ana Carolina Pomodoro (Pediatria pela UFF e SBP).
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