Este conteúdo trata da condução dessa condição ainda sem investigação diagnóstica por endoscopia digestiva alta (EDA) na UBS, destacando o papel da estratégia de tratamentos empíricos conforme as recomendações.
Dispepsia funcional
é a causa mais comum de sintomas dispépticos, com uma frequência próxima a 50% dos casos. Ainda assim, é um diagnóstico de exclusão.
Tema de grande importância para o médico, visto que é na APS que, no geral, primeiramente chegam os pacientes com essas queixas, sendo importantes os esclarecimentos sobre indicação ou não indicação de exames complementares para a condução de cada caso.
O exame físico, que pode ser normal ou com dor à palpação de região epigástrica, é importante para afastar visceromegalias ou massas e tranquilizar o paciente no caso de não haver achados relevantes ao exame.
Na presença de sinais de alarme, afastar sinais clínicos que indiquem avaliação em cenário de urgência (ex.: possibilidade de abdome agudo perfurativo ou hipovolemia importante se vômitos ou sangramento gastrointestinal).
Diante do quadro de dispepsia, é importante avaliar, dentro do contexto geral dos sintomas, a
idade do paciente (ver adiante a observação neste tópico)
e a
presença de sinais de alarme,
descritos no tópico "Apresentação Clínica".
Paciente com idade ≥ 40 anos* e/ou presença de sinais de alarme:
Indicar, de imediato, abordagem complementar com EDA pelo risco aumentado de alteração orgânica e/ou malignidade.
Investigação em caso de EDA normal ou paciente com idade < 40 anos* e sem
sinais de alarme.
*
Observação!
A idade utilizada como limite para solicitar EDA pode variar de acordo com a referência, sendo 40 anos pelo IV Consenso Brasileiro para o HP, 55 anos pelos
NHS Guidelines
, Reino Unido, ou 60 anos pelo
American College of Gastroenterology
, EUA.
Para a
estratégia de testar e tratar para
H. pylori
, recomendam-se os testes não invasivos, sendo o método de escolha a pesquisa de ureia respiratória (com mais altas sensibilidade e especificidade).
Outras opções:
Teste de antígeno fecal para
H. pylori
ou s
orologia para
H. pylori
(IgG)
.
É recomendado
não usar IBP por 2 semanas nem antibióticos por 4 semanas antes desses testes.
Orientar:
Evitar:
Suspender o uso de AINEs.
Solicitar EDA em caso de sinais de alerta ou de ausência de melhora após tratamento com IBP e erradicação de H. pylori. Ver tópico de "Abordagem Diagnóstica".
Lembrar que o tratamento com IBP (ex.: Omeprazol) não deve ser crônico e sempre merece ser reavaliado.
Atentar que é indicado o desmame de IBP ao final do tratamento, antes de sua suspensão, para evitar hipersecreção ácida de rebote, o que pode favorecer a recaída dos sintomas.
Tratamento não farmacológico: Suspender o uso de AINEs e orientar controle do peso e evitar:
Erradicação do
H. pylori
:
Para pacientes sem melhora após tratamento com IBP, dose plena e/ou dose dobrada, conforme já descrito, por 1-2 meses:
Tratamento tríplice de primeira linha:
I.
IBP:
Omeprazol
(geralmente disponível no SUS) 20 mg VO 2x/dia por 14 dias.
+
II.
Amoxicilina
(geralmente disponível no SUS) 1.000 mg VO 2x/dia por 14 dias.
+
III.
Claritromicina
(geralmente disponível no SUS) 500 mg VO 2x/dia por 14 dias.
Para mais informações sobre as medidas terapêuticas, acesse Guia de Prescrição.
Autoria principal: Renato Bergallo (Medicina de Família e Comunidade).
Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2022.
Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2019.
Stanghellini V, Chan FK, Hasler WL, et al. Gastroduodenal Disorders. Gastroenterology. 2016; 150(6):1380-92.
Chey WD, Leontiadis GI, Howden CW, et al. ACG Clinical Guideline: Treatment of Helicobacter pylori Infection. Am J Gastroenterol. 2017; 112(2):212-239.
Moayyedi P, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG Clinical Guideline: Management of Dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017; 112(7):988-1013.
Elliott N, Steel A, Leech B, et al. Design characteristics of comparative effectiveness trials for the relief of symptomatic dyspepsia: A systematic review. Integr Med Res. 2021; 10(2):100663.
National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Gastro-oesophageal reflux disease and dyspepsia in adults: investigation and management. Clinical guideline [CG184]. England: NICE; 2014.
Zagari, RM, Fuccio, et al. Investigating dyspepsia. BMJ. 2008; 337:1400.
Mounsey A, Barzin A, Rietz A. Functional Dyspepsia: Evaluation and Management. Am Fam Physician. 2020; 101(2):84-88.
Coelho LGV, Marinho JR, Genta R, et al. IV Consenso Brasileiro sobre a infecção por Helicobacter pylori. Núcleo Brasileiro para Estudo do Helicobacter pylori e Microbiota (NBEHPM) e Sociedade Brasileira de Gastroenterologia (SBG). Brasil; 2017.
Sena MLA, Reis TN, Mafessoni MBF, et al. Automedicação e úlcera péptica induzida por AINEs. Cuadernos de Educacion Y Desarrollo. 2024; 16(12);1-12.