Essa condição é mais frequentemente vista em países com invernos rigorosos ou em situações extremas (como em montanhistas). Como o Brasil é um país, de maneira geral, com invernos amenos, sua incidência é menor, mas pode ser vista em algumas situações, como moradores de rua em cidades frias ou pacientes que ficaram muito tempo em contato com água;
É importante evitar a mobilização desnecessária do paciente, pois existe grande predisposição à arritmias, que podem ocorrer com a mínima movimentação (ex.: exame físico);
Em pacientes com hipotermia moderada a grave (temperatura corporal < 32 °C), o reaquecimento deve ser iniciado pelo tronco, antes de se aquecer as extremidades;
A intubação orotraqueal (IOT)
deve ser realizada em pacientes com esforço ventilatório ou naqueles incapazes de manter patência das vias aéreas;
É muito frequente a ocorrência de hipotensão após início do reaquecimento. A PA deve ser inicialmente mantida com soluções cristaloides aquecidas (40-42 °C), através de dois acessos venosos periféricos calibrosos (14-16 G);
Em pacientes hipotérmicos, o acesso venoso periférico pode ser difícil. Nesses casos, o acesso intraósseo é seguro e eficaz;
Se for necessário acesso venoso central, preferir acesso femoral temporário (isso evita que um possível estímulo do átrio direito por um cateter inserido na jugular interna ou subclávia precipite uma arritmia);
A hipotermia é causa de parada cardiorrespiratória (PCR). Pupilas dilatadas e fixas ou rigidez mandibular (simulando rigor
mortis
) não são contraindicações para a realização de ressuscitação cardiopulmonar (RCP);
Durante a avaliação de um paciente hipotérmico em possível PCR, alguns autores recomendam que não se apliquem compressões torácicas em AESP, pois pode se tratar de um ritmo de reperfusão, que pode ser perdido com as compressões torácicas:
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As compressões torácicas estariam indicadas em pacientes nos quais não se identifica pulso por mais de um minuto;
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Esses mesmos autores recomendam que as compressões não sejam iniciadas, inclusive, se batimentos cardíacos forem identificados em ecocardiograma
point-of-care
ou se for identificado pulso no Doppler.
Em caso de fibrilação ventricular, tentar desfibrilar uma única vez com carga máxima. Em caso de insucesso, opta-se por continuar o reaquecimento e fazer nova tentativa apenas após alcançar temperatura > 30 °C ou infusão de antiarrítmicos;
Em locais sem segurança para a equipe, o paciente em PCR pode ser removido para um lugar mais seguro dentro do período de 10 minutos;
A duração da RCP pode ser prolongada, pois há relatos de pacientes que apresentaram bom prognóstico neurológico, devido ao papel neuroprotetor da hipotermia. A RCP deve ser mantida, pelo menos, até que o paciente atinja a temperatura corporal de 32-35 °C.
Dieta e Hidratação
Dieta oral zero.
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Hidratação:
Ringer lactato
ou
SF
0,9%
30 mL/kg EV, aquecido a 38-42 °C:
Instituir a reposição volêmica até que se alcance a estabilidade hemodinâmica e a temperatura corporal de 37 °C;
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Avaliar etapas rápidas de hidratação
venosa.
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Tratamento Farmacológico
1.
Em caso de refratariedade à expansão volêmica:
Dopamina
5 ampolas em 200 mL de SG 5% EV em BIC, conforme PA, caso haja hipotensão refratária.
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Tratamento Não Farmacológico — Controle da Temperatura Corporal
Reaquecimento:
Reaquecimento passivo;
Reaquecimento externo ativo: cobertores com aquecimento, calor radiante, ambiente aquecido;
Reaquecimento interno ativo: irrigação peritoenal ou pleural com cristaloides aquecidos, aquecimento sanguíneo externo.
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Roupas secas.
Ambiente aquecido: O aquecimento externo ativo deve começar pelo tronco.
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Procedimentos — Casos Extremos
1.
Irrigação peritoneal com SF 0,9% aquecido a 42 °C:
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Infunde-se 10-20 mL/kg intraperitoneal por 20 minutos, para então remover essa solução e infundir novamente soro aquecido;
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Em média, utiliza-se uma troca de 6 L/hora. Essa troca é realizada de forma mais fácil utilizando dois cateteres peritoneais, um para infusão e outro para drenagem;
A técnica de punção é a mesma utilizada para lavado peritoneal diagnóstico.
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2.
Irrigação pleural com SF 0,9% aquecido a 42 °C também pode ser utilizada:
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Necessita de dois drenos torácicos em cada pleura. Um dreno posicionado mais alto e anterior, e outro mais baixo e posterior.
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3.
Outros dispositivos:
Há dispositivos de aquecimento ativo que podem ser utilizados para a correção da hipotermia:
Mantas térmicas que funcionam com ar aquecido, podem ser utilizadas;
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Recentemente foi desenvolvido um dispositivo de contato chamado
Arctic Sun
, seu funcionamento se baseia em placas que são coladas na pele do paciente e um sistema microprocessado que controla a temperatura das placas, assim como a corporal;
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Esse dispositivo permite a elevação da temperatura com mais precisão que os outros métodos. A pouca disponibilidade e o custo elevado dificultam seu uso.
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Profiláticos e Sintomáticos
1.
Antiemético:
Se presença de náuseas e/ou vômitos.
Escolha uma das opções:
Metoclopramida
(10 mg/2 mL) 10 mg EV, diluído em água destilada, até de 8/8 horas;
Metoclopramida
(4 mg/mL) 50 gotas VO de 8/8 horas;
Metoclopramida
10 mg VO de 8/8 horas;
Bromoprida
(10 mg/2 mL) 10 mg EV de 8/8 horas;
Bromoprida
(4 mg/mL) 1-3 gotas/kg VO de 8/8 horas.
2.
Proteção gástrica:
Escolha uma das opções:
Omeprazol
(40 mg/10 mL) 20-40 mg VO/EV de 24/24 horas, pela manhã;
Pantoprazol Sódico
20-40 mg VO de 24/24 horas, em jejum;
Pantoprazol Sódico
(40 mg/10 mL) 40 mg EV de 24/24 horas.
Cuidados
Oximetria de pulso não é fidedigna.
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Macronebulização com oxigênio aquecido a 41 °C, se desconforto ventilatório (atentar para sinais de esforço e necessidade de IOT precoce).
Glicemia capilar periódica (ex.: a cada 2 horas, a cada 6 horas).
Glicose hipertônica 50% 40 mL EV se HGT < 70.
Acessos venosos periféricos calibrosos (14-16 G) salinizados. Em caso de impossibilidade de acesso venoso periférico, acesso intraósseo ou acesso venoso central (preferir veia femoral).