Orientações ao Prescritor
Recomendações:
[cms-watermark]
-
Identificar a etiologia e potenciais fatores agravantes, sendo imperativo descartar o diagnóstico diferencial com hepatopatia crônica;
-
Classificar a cronologia da insuficiência hepática (O'Grady), com base no intervalo entre a percepção da icterícia e o início da encefalopatia hepática, em hiperaguda, aguda ou subaguda;
-
Alocação preferencial em unidade de terapia intensiva (UTI), preferencialmente em centro transplantador;
-
O manejo de suporte contempla a garantia de proteção de via aérea e suporte respiratório, com baixo limiar para intubação orotraqueal por rebaixamento do nível de consciência;
-
A amônia arterial é um importante parâmetro prognóstico, sendo a medida mais eficaz para o controle da hiperamonemia o suporte renal artificial na modalidade contínua;
-
Almejar euvolemia e pressão arterial média > 65 a 75 mmHg;
-
Monitorizar coagulopatia, evitar correção profilática de coagulação, exceto no caso de procedimentos invasivos, como derivação ventrículo-encefálica. Guiar intervenção preferencialmente por tromboelastografia;
-
Baixo limiar para início de antibioticoterapia se sinais de infecção ou deterioração clínica;
-
Monitorar sinais de encefalopatia hepática e hipertensão intracraniana – recomenda-se a utilização de escalas padronizadas:
West-Haven, Glasgow, Glasgow-Pupilas e FOUR;
-
Se indicada, preferir sedação contínua com Propofol. Evitar benzodiazepínicos. A droga de eleição na crise convulsiva é a Fenitoína;
-
Monitorar glicemia a cada 2 horas, almejar níveis entre 110 e 180 mg/dL. Há alto risco de hipoglicemia;
-
Evitar uso de Paracetamol, anti-inflamatórios não esteroidais e agentes potencialmente hepatotóxicos;
-
Manter hemoglobina > 7 g/dL;
-
Avaliar necessidade de transplante hepático de urgência (atenção aos critérios do
King's College
e o escore MELD) – inscrever paciente em fila de transplante nacional. Transferir para hospital com recursos apropriados o quanto antes.
Dieta, Hidratação e Profilaxia de Úlcera de Estresse
1. Dieta VO suspensa, com posterior reavaliação.
2. SF 0,9% 500 mL + SG 50% 40 mL EV 1 mL/kg/hora com reavaliação seriada se dieta zero.
3. Considerar dieta por via enteral ou parenteral caso paciente não tolere dieta oral em até 5-7 dias. A hiperamonemia pode se agravar por ocasião da introdução da dieta enteral, mas a restrição proteica agressiva deve ser evitada, tendo-se por meta a ingestão diária de 60 g/dia de proteínas.
4. Profilaxia de lesão aguda de mucosa gastroduodenal (úlcera de estresse) é recomendada com o emprego de IBP (Omeprazol 40 mg EV 1x/dia).
Tratamento Farmacológico Específico
1.
I
nfecção por hepatite B:
Para mais informações, acesse Hepatite por Vírus B.
2.
Intoxicação por Paracetamol
:
Para mais informações, acesse Paracetamol.
3.
Hepatite autoimune:
Para mais informações, acesse Hepatite autoimune.
4.
Doença de Wilson:
Plasmaférese e avaliação imediata de transplante hepático pelo escore modificado de Nazer. Para mais informações, acesse Doença de Wilson.
[cms-watermark]
[cms-watermark]
[cms-watermark]
5.
Síndrome de Budd-Chiari
: Para mais informações, acesse Síndrome de Budd-Chiari.
Tratamento ‒
Intoxicação por
Amanita phalloides
(cicuta verde)
[cms-watermark]
1.
Penicilina G cristalina
(1.000.000 unidades/frasco) 300.000-1.000.000 unidades/kg/dia EV, em infusão contínua (dose máxima: 40.000.000 unidades/dia), até melhora clínica e laboratorial.
[cms-watermark]
2.
Silimarina
(70 mg/cápsula) 20-50 mg/kg/dia fracionadas de 6/6 horas, por 48-96 horas após a ingestão do cogumelo.
[cms-watermark]
3.
Carvão ativado
0,5 g/kg (dose máxima: 50 g) de 4/4 horas, por até 4 dias após o consumo do cogumelo.
[cms-watermark]
Tratamento Farmacológico Adjuvante
1.
N-acetilcisteína:
A recomendação é utilizá-la de forma universal na insuficiência hepática aguda. O racional é que nem sempre o histórico de intoxicação por Paracetamol está claro e que doses terapêuticas (4 g/dia) podem desencadear a síndrome em etilistas. Além disso, é provável que melhore os desfechos em etiologias não Paracetamol, sem incorrer em insegurança.
2.
Hipoglicemia:
G
licose hipertônica 50% 40 mL EV, se glicemia < 70, preferencialmente com suplementação de Tiamina.
[cms-watermark]
3.
Distúrbios hidroeletrolíticos:
Correção ativa de hipocalemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia.
4.
Encefalopatia hepática:
Instituir terapia renal dialítica na modalidade contínua de maneira precoce. Alternativas adjuvantes por via oral, como a Lactulose, Rifaximina e L-ornitina-L-aspartato são controversas na insuficiência hepática aguda (abaixo)
:
-
Lactulose
(667 mg/mL) 20-40 mL VO/SNE de 8/8 horas; ajustar para 2-3 evacuações ao dia. Caso paciente esteja comatoso, pode ser realizado enema retal de Lactulose 120 mL + 380 mL de glicerina 12%.
A medicação não melhora desfechos e induz distensão de alças intestinais, podendo trazer dificuldades técnicas ao transplante
;
[cms-watermark]
-
Se paciente refratário:
R
ifaximina
(550 mg/comprimido) 550 mg VO/SNE de 12/12 horas.
5.
H
ipotensão refratária à expansão volêmica:
[cms-watermark]
-
Norepinefrina
(8 mg/4 mL)
20 mL + SG 5% 80 mL (concentração: 200 microgramas/mL). Administrar 0,05-0,1 micrograma/kg/minuto (0,015-0,030 mL/kg/hora) EV em BI. Titular pela resposta para PAM de 65-75 mmHg;
[cms-watermark]
-
Vasopressina
(20 UI/mL – 1 mL/ampola). Diluição padrão: 200 mL de SG 5%. Concentração (20 UI/200 mL = 0,1 UI/mL). Posologia: 0,01 a 0,04 UI/minuto. Indicação: choque refratário, com hipotensão e má perfusão persistentes a despeito de doses de noradrenalina > 0,25 micrograma/kg/minuto;
-
Hidrocortisona
(100 mg/2 mL). Diluição: 20 mL SF 0,9%. Administrar 100 mg de 12/12 ou 8/8 horas ou 200-300 mg/dia em BIC por 5-7 dias.
6
.
Se sinais de hipertensão intracraniana:
Além da terapia dialítica contínua precoce, como manejo agudo, e
scolha uma das opções:
[cms-watermark]
-
Solução salina hipertônica
3% 200 mL EV em bólus (meta de natremia: 145-150 mEq/L);
[cms-watermark]
-
Solução salina hipertônica
30% 20 mL EV em bólus;
[cms-watermark]
-
Manitol
20% 0,5-1 g/kg EV em 20 minutos;
-
Monitorização de pressão intracraniana:
É uma medida controversa, pois não há demonstração de impacto na sobrevida, sendo pouco utilizada no Brasil. O procedimento pode se associar a infecções e sangramentos em sistema nervoso central. Alguns autores a recomendam na presença de alto risco de hipertensão intracraniana. Quando empregada, o alvo é de pressão de perfusão cerebral > 50-60 mmHg e pressão intracraniana < 20-25 mmHg;
-
Coma barbitúrico:
U
ma opção a ser considerada na refratariedade da hipertensão intracraniana.
Profiláticos e Sintomáticos
1.
Analgésico e antitérmico:
Se presença de dor ou febre ≥ 37,8°C. Escolha uma das opções (preferencialmente, deve-se tentar reduzir a temperatura com compressas frias antes de utilizar medicamentos):
-
Dipirona sódica
(500 mg/mL) 1-2 g EV até de 4/4 horas (dose máxima: 5 g em 24 horas);
-
Dipirona sódica
gotas
(500 mg/mL) 20-40 gotas VO até de 4/4 horas;
-
Dipirona sódica
500-1.000 mg VO até 4/4 horas.
2.
Antiemético:
Se presença de náuseas e/ou vômitos.
Escolha uma das opções:
-
Metoclopramida
(10 mg/2 mL) 10 mg EV, diluídos em água destilada, até de 8/8 horas;
-
Metoclopramida
(4 mg/mL) 50 gotas VO de 8/8 horas;
-
Metoclopramida
(10 mg/comprimido)
10 mg VO de 8/8 horas;
-
Bromoprida
(10 mg/2 mL) 10 mg EV de 8/8 horas;
-
Bromoprida
(4 mg/mL) 1-3 gotas/kg VO de 8/8 horas.
3.
Proteção gástrica:
Escolha uma das opções:
-
Omeprazol
(40 mg/10 mL) 40 mg VO/EV de 24/24 horas, pela manhã;
-
Pantoprazol sódico
(40 mg/10 mL) 40 mg EV de 24/24 horas.
Cuidados
1. Cabeça centralizada e cabeceira elevada entre 30 e 45º. Evitar angulação do pescoço. Minimizar ruídos, estímulos e aspiração de vias aéreas.
[cms-watermark]
2. Glicemia capilar de 2/2 horas.
[cms-watermark]
3. Glicose hipertônica 50% 40 mL EV, se glicemia < 70 mg/dL.
4. Atenção a sinais de resposta inflamatória sistêmica, sepse, sinais localizatórios de infecção, oligoanúria e sangramentos.