Conteúdo copiado com sucesso!

Linfogranuloma Venéreo

Voltar

Definição: O linfogranuloma venéreo (LGV) é uma infecção sexualmente transmissível (IST) manifestada caracteristicamente como úlcera genital e bubões nas regiões inguinais, sendo causada pela Chlamydia trachomatis , sorotipos L1, L2 e L3. Esses sorotipos cursam com quadros mais intensos do que os sorotipos responsáveis pelas endocervicites e uretrites.

Consiste em uma doença do tecido linfático com indução de reação linfoproliferativa com drenagem para linfonodos, produzindo linfangite, áreas de necrose ao redor dos nódulos e formação de abscesso, os bubões.

As partículas infectantes da clamídia (corpos elementares) penetram na célula do hospedeiro, passando para corpos reticulares metabolicamente ativos. [cms-watermark]

A divisão dentro da célula possibilita que os corpos reticulares se transformem em múltiplos corpos elementares que, por sua vez, são liberados por exocitose, promovendo a infecção. [cms-watermark]

Acomete ambos os sexos, mas os surtos são mais frequentes entre homossexuais masculinos (causando proctite), aumentando o risco de infecção pelo HIV e outras ISTs. [cms-watermark]

Anamnese

    Quadro clínico: A evolução do LGV consiste em três estágios:
  • Fase de inoculação – infecção primária:
    • Caracterizada por pápula, pústula, úlcera genital ou inflamação reacional no sítio de inoculação;
    • As úlceras são pequenas e pouco sintomáticas;
    • No homem, localiza-se geralmente no sulco coronal, frênulo e prepúcio; e, na mulher, na parede vaginal posterior, no colo uterino, na fúrcula e em outras partes da genitália externa;
    • O período de incubação varia de 3 dias a 6 semanas e as pápulas iniciais rapidamente cicatrizam sem deixar marcas; frequentemente, esse estágio da doença é esquecido devido ao pequeno tamanho da úlcera e sua localização, além da ausência de sintomas associados;
  • Fase de disseminação linfática regional – infecção secundária:
    • Observa-se, geralmente em 2-6 semanas, um aumento progressivo dos linfonodos inguinais e femorais, o que os torna dolorosos;
    • Por vezes, podem fundir-se, formando o bubão. Tais lesões ocorrem por extensão direta da infecção local para os linfonodos regionais;
    • A febre pode preceder a fistulização do linfonodo;
    • Em mulheres, é comum a presença de infecção sistêmica concomitante ao LGV;
    • A vagina e os linfonodos cervicais drenam predominantemente para os linfonodos retroperitoneais, o que pode explicar a relativa raridade da síndrome inguinal nas mulheres;
    • A síndrome inguinal ocorre, geralmente, em homens e consiste em inflamação nos nódulos superficiais e profundos inguinais;
    • A síndrome anorretal pode também ocorrer, resultando em inflamação em forma de massa no reto e no retroperitônio com sintomas de proctocolite (diarreia, dor anal, constipação, febre e/ou tenesmo);
    • As complicações incluem fístulas colorretais, vaginais e vesicais, além de estenoses. [cms-watermark]
  • Fase de sequelas – LGV tardio:
    • O paciente apresenta prurido retal e descarga mucoide por meio das úlceras retais;
    • Caso as úlceras estejam infectadas, a descarga é purulenta;
    • Essa apresentação é resultado da obstrução linfática sucessora da linfangite, que pode resultar em elefantíase da genitália externa (estiomene) e fibrose do reto;
    • Por vezes, o paciente relata sangramento retal, cólicas e dores abdominais com distensão abdominal, dor no reto e febre;
    • Existem relatos de peritonite em consequência de perfuração intestinal, estenose da uretra e da vagina e infertilidade. [cms-watermark]
    Fatores de risco:
  • Múltiplas parcerias sexuais;
  • Relação sexual anal desprotegida;
  • Grupos socioeconômicos desfavorecidos;
  • Infecção pelo HIV ou outras ISTs prévias;
  • Outra doença ulcerativa concomitante.

O diagnóstico de LGV deve ser considerado nos casos de adenite inguinal, elefantíase genital e estenose uretral ou retal.

    O LGV pode ser diagnosticado por:
  1. Teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT): Atualmente considerado o padrão ouro, consiste na amplificação de sequências de DNA ou RNA de Chlamydia trachomatis geralmente usando PCR, sendo a amplificação mediada por transcrição (TMA) ou por deslocamento de fita (SDA). Apresenta altas sensibilidade e especificidade. O custo, anteriormente alto, tem se tornado acessível, o que facilita sua realização e interpretação; no entanto ainda não se encontra disponível na rede pública. [cms-watermark]
  2. Citopatológico: Raramente positivo (ver inclusões citoplasmáticas características). [cms-watermark]
  3. Método ELISA: Identifica anticorpos contra o antígeno do grupo, e não dos diferentes sorotipos. A sorologia, no entanto, [cms-watermark] tem baixa acurácia. Sua negatividade não exclui o diagnóstico e a positividade pode representar infecção de outro sítio por outros sorotipos de clamídia.
  4. Cultura com células de McCoy: Tem grande especificidade, tornando-se positiva em 3 dias; contudo é feita em poucos lugares e exige profissional experiente. Menor sensibilidade que a dos testes moleculares. [cms-watermark]
  5. Sorologia para Chlamydia trachomatis : F ixação do complemento com títulos > 1:64 ou microimunofluorescência com títulos > 1:256. Amostras obtidas nos linfonodos por esfregaço ou aspiração. Suporta o diagnóstico do LGV em contexto clínico apropriado. A microimunofluorescência é o método mais sensível para o diagnóstico da doença, sendo capaz de detectar anticorpos específicos dos diferentes sorotipos.
  • Gonorreia;
  • Sífilis primária;
  • Herpes genital;
  • Cancro mole;
  • Doença inflamatória intestinal.

Deve ter início precoce, antes mesmo da confirmação laboratorial, a fim de minimizar eventuais sequelas.

Doxiciclina é a medicação de primeira escolha. O fármaco de segunda linha é a Azitromicina, com uso preferencial nas gestantes. A Eritromicina também pode ser utilizada em caso de impossibilidade dos medicamentos descritos.

Se a parceria sexual for assintomática, recomenda-se um dos tratamentos a seguir: Azitromicina ou Doxiciclina.

Os parceiros sexuais dos últimos 60 dias devem ser testados para infecção uretral ou cervical. [cms-watermark]

Os antibióticos não revertem sequelas como estenose retal ou elefantíase genital. [cms-watermark]

Os bubões devem ser aspirados com agulha grossa e nunca drenados ou excisados, pois, além de retardarem a cicatrização, esses procedimentos podem disseminar a doença e propiciar o aparecimento de elefantíase.

Toda pessoa que foi tratada para LGV deve ser retestada para clamídia 3 meses após o tratamento. E para ela também deverá ser oferecido o rastreio de outras infecções sexualmente transmissíveis.

Linfogranuloma Venéreo: qual o tratamento recomendado pelo CDC 2021 e PCDT 2022?

Autoria principal: Camilla Luna (Ginecologia e Obstetrícia pela UERJ e FEBRASGO, especialista em Reprodução Humana pela AMB).

Revisão: Caroline Oliveira (Ginecologia, com doutorado em Ciências Médicas pela UFF).

Giraldo PC, Amaral RL, Eleutério Júnior J, et al. Úlceras genitais. Protocolos Febrasgo. Ginecologia, n o 1. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2018.

Mungati M, Machiha A, Mugurungi O, et al. The etiology of genital ulcer disease and coinfections with Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae in Zimbabwe: results from the Zimbabwe STI etiology study. Sex Transm Dis. 2018; 45(1):61-8.

Oud EV, Vrieze NHN, Meij A, et al. Pitfalls in the diagnosis and management of inguinal lymphogranuloma venereum: important lessons from a case series. Sex Transm Infect. 2014; 90(4):279-82.

Marangoni A, Foschi C, Tartari F, et al. Lymphogranuloma venereum genovariants in men having sex with men in Italy. Sex Transm Infect. 2021; 97(6):441-5.

Blanco JL, Fuertes I, Bosch J, et al. Effective Treatment of Lymphogranuloma venereum Proctitis With Azithromycin. Clin Infect Dis. 2021; 73(4):614-20.

Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021; 70(4):1-187.

Seadi CF, Oravec R, von Poser B, et al. Laboratory diagnosis of Chlamydia trachomatis infection: advantages and disadvantages of the tests. J Bras Patol Med Lab. 2022; 38(2):125-33.

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)/Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2022. 248 p.

Saunders NA, Welch KC, Haefner HK, et al. Vulvar Ulcers: An Algorithm to Assist With Diagnosis and Treatment. J Low Genit Tract Dis. 2024 Jan 1;28(1):73-75.