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Molusco Contagioso

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Prescrição Ambulatorial

Orientações ao Prescritor

    Recomendações:
  • Em crianças, a doença tende a ser autolimitada, com involução espontânea. No entanto, a escolha pelo não tratamento pode levar à autoinoculação, estresse psicossocial e transmissão para outras pessoas;
  • O tratamento é indicado, principalmente, em casos de lesões extensas, com complicações (ex.: infecção bacteriana, dermatite do molusco, conjuntivite), em pacientes com medo de disseminação (para reduzir o risco de autoinoculação e de transmissão), para aliviar o desconforto e em situações de queixa estética e estigma social;
  • Existem diversas opções de tratamento disponíveis no Brasil, mas nenhuma delas é aprovada pela Food and Drug Administration (FDA);
  • Não há consenso sobre os tratamentos mais efetivos;
  • O tratamento depende do número e da localização das lesões, dos efeitos adversos, da experiência do médico, do custo e da melhor opção para os pais e cuidadores;
  • Envolve métodos de remoção física, medicações tópicas (de uso domiciliar ou em consultório) e medicações sistêmicas;
  • Os tratamentos podem ser classificados em físicos, químicos, imunomoduladores e antivirais;
  • Em pacientes com HIV, a terapia antirretroviral (TARV) é o melhor tratamento para o molusco;
  • Entre as medicações tópicas de uso pelo médico no consultório, além das listadas em Esquema B, estão os antígenos, como o antígeno da cândida ou candidina (imunoterapia), administrados via intralesional ou subcutânea, com dose e posologia conforme orientação do fabricante:
    • Vantagem de produzir resposta generalizada, provocando resolução de lesões à distância não tratadas diretamente [cms-watermark] . Poucos efeitos adversos. [cms-watermark]
  • Cidofovir pode ser usado em pacientes imunodeficientes, mas pode causar nefrotoxicidade e neutropenia se administrado por via intravenosa, além de ter alto custo. É indicado para molusco extenso, recalcitrante e resistente a outros tratamentos.

Tratamento Farmacológico

Escolha um dos esquemas.

    Esquema A: Medicações tópicas de uso domiciliar. Escolha uma das opções:
  • Hidróxido de potássio – manipulado (5% solução aquosa). Aplicar sobre as lesões com cotonete durante 30 segundos, 1x/dia à noite, e enxaguar pela manhã. Usar até ocorrer inflamação, tratando por grupos de lesão:
    • Indicado principalmente quando há grande número de lesões, lesões no tronco ou extremidades, ou em crianças que não colaboram com a imobilização; [cms-watermark]
    • Pode causar pinicação, queimação e discromia.
  • Peróxido de benzoíla (10% gel). Aplicar nas lesões 1-2x/dia até resolução clínica;
  • Peróxido de hidrogênio – manipulado (1% creme). Aplicar nas lesões, com ou sem oclusão, 2x/dia por 7-21 dias;
  • Imiquimode (5% creme). Aplicar nas lesões 5x/semana à noite, deixando agir por 8 horas e retirando com água pela manhã, por 15 semanas; ou aplicar 1x/dia até o surgimento de reação inflamatória, podendo-se repetir o ciclo caso as lesões persistam após melhora da inflamação:
    • Podem ocorrer eritema, prurido, dor, queimação, bolha, cicatriz e pigmentação residual; [cms-watermark]
    • Pode ser usado em lesões faciais, anogenitais e em áreas extensas;
    • Em áreas extensas, tratar sequencialmente por regiões, não ultrapassando dois sachês por dia.
  • Tretinoína (0,05% creme). Aplicar nas lesões 1x/dia à noite até resolução clínica;
  • Ácido salicílico + ácido lático (147,7 mg/mL + 130 mg/mL, solução). Aplicar nas lesões 1x/dia até resolução clínica;
  • Cidofovir (1-3% creme ou gel). Aplicar nas lesões 5x/semana por 8 semanas:
    • Preferido em molusco extenso, recalcitrante e resistente a outros tratamentos. [cms-watermark]

    Esquema B: Medicações tópicas de uso em consultório pelo médico. Escolha uma das opções:
  • Ácido tricloroacético (20 ou 35% solução). Aplicar com haste de algodão no centro das lesões até frosting (branqueamento das lesões), a cada 1-2 semanas, até resolução clínica;
  • Nitrato de prata (5% solução). Aplicar com haste de algodão no centro das lesões. Podem ser necessárias de 1 a 3 aplicações até o surgimento e posterior descolamento da crosta, o que ocorre entre 10 e 14 dias após a primeira aplicação:
    • Procedimento indolor, simples e de baixo custo, mas pode provocar dor, queimação, eritema, queimadura química e hiperpigmentação residual. [cms-watermark]
  • Cantaridina (0,7-0,9% solução). Aplicar nas lesões, com ou sem oclusão, deixar por 2-4 horas e lavar com água e sabão. Repetir a cada 2-4 semanas até resolução clínica. Bolha sob a lesão é um efeito esperado:
    • Evitar uso em lesões na face e região anogenital devido ao risco de inflamação e linfangite; [cms-watermark]
    • Contraindicada em área de mucosa ou próximas a mucosas;
    • Utilizada em crianças > 2 anos.

    Esquema C: Medicações sistêmicas (casos refratários/recorrentes ou extensos): Escolha uma das opções:
  • Cimetidina (200 ou 400 mg/comprimido) 40 mg/kg/dia VO 1x/dia, por 2 meses:
    • Tratamento alternativo para molusco facial, generalizado e recorrente em crianças imunocompetentes. [cms-watermark]

Tratamento Não Farmacológico

    Remoção física: M ais utilizada na prática diária:
  1. Curetagem:
    • Uma a três sessões são necessárias, sendo uma das terapias mais eficazes;
    • Dolorosa, pode ser necessária anestesia;
    • Pode causar sangramento e cicatriz;
    • Em caso de múltiplas lesões em crianças, pode ser necessária exérese por cirurgião pediátrico, em centro cirúrgico;
    • Mais usada em crianças maiores, adultos, além de ser uma opção para gestantes.
  2. Crioterapia (com nitrogênio líquido):
    • Um ou dois ciclos de 10-20 segundos, com intervalo de 1-3 semanas;
    • Dolorosa (pouco tolerada por crianças muito pequenas), porém rápida e fácil. Pode-se usar anestésico tópico 1 hora antes;
    • Pode haver sangramento, bolha, cicatriz e pigmentação residual;
    • Opção para lesões anogenitais e em gestantes.
  3. Cautério:
    • Aplicar anestesia tópica previamente;
    • Opção para lesões anogenitais.
  4. Extração manual:
    • Remoção do núcleo umbilicado da lesão com bisturi, agulha de insulina, pinça ou com as próprias mãos (pressionando a lesão entre as unhas), resultando na eliminação de material branco ("corpo" do molusco);
    • Método fácil e rápido, mas doloroso [cms-watermark] com risco de cicatriz. Pode-se aplicar anestesia local 1 hora antes;
    • A extração manual pode ser ensinada aos pais e cuidadores para que a realizem no domicílio. Trata-se de um método econômico e efetivo, principalmente, em casos com poucas lesões.
  5. Laser :
    • CO 2 e pulsed dye laser (PDL) podem ser usados como segunda linha;
    • CO 2 : Risco de formação de queloide e cicatriz hipertrófica;
    • PDL: Útil em crianças com lesões recalcitrantes. Uma sessão é geralmente suficiente. Pode provocar dor, mal-estar, edema e alteração de pigmentação;
    • Opção segura para gestantes.

Orientações ao Paciente

    Recomendações:
  • Não compartilhar toalhas, esponjas e outros materiais de uso pessoal com outras pessoas;
  • Usar desinfetantes em fômites;
  • Evitar manipular as lesões, para não disseminá-las;
  • Manter a higiene local;
  • Cobrir as lesões sempre que possível, para evitar autoinoculação e transmissão.

Outras Informações

Autoria principal: Jaqueline Barbeito de Vasconcellos (Dermatologia).

    Revisão:
  • Renato Bergallo (Medicina de Família e Comunidade).
  • Marselle Codeço (Dermatologia).
  • Mariana Santino (Dermatologia).

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