Orientações ao Prescritor
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Pela classificação de Atlanta, define-se pancreatite grave como aquela em que ocorre falência orgânica (definida pelos critérios de Marshall modificado) com duração superior a 48 horas;
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PCR ≥ 150 mg/dL;
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Todos os pacientes devem ser admitidos em ambiente hospitalar. No caso de pancreatite grave, geralmente, é necessário tratamento em unidade de terapia intensiva;
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A velocidade de infusão de cristaloides varia conforme as diferentes diretrizes. No entanto, é importante manter o paciente euvolêmico;
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O controle álgico é essencial, sendo tratado de acordo com a sua intensidade, utilizando-se desde analgésicos não narcóticos até os derivados opioides, conforme recomendação da OMS;
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Antibioticoterapia é restrita aos casos de infecção, que se entende por:
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Necrose pancreática ou extrapancreática que evolua com piora do estado geral e/ou critérios infecciosos laboratoriais;
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Tomografia de abdome com presença de gás em área necrótica.
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A reintrodução da dieta oral branda se inicia após a estabilização hemodinâmica e tolerância do paciente, independentemente dos valores de lipase/amilase;
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Na impossibilidade da via oral, preferir a dieta via enteral por cateter nasoenteral em posição gástrica;
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A nutrição parenteral deve ser de exceção ou suplementar à enteral, sendo pouco indicada nos quadros leves a moderados;
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Indicações de via parenteral:
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Má tolerância à via enteral, seja por dor ou piora dos marcadores inflamatórios;
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Incapacidade de obtenção da meta nutricional com a terapia enteral exclusiva dentro de 48-72 horas;
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Contraindicações da via enteral:
Íleo importante ou vômitos repetidos;
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Coleções com efeito de massa impedindo o adequado trânsito gastrointestinal;
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Presença de abscesso pancreático ou fístula pancreática;
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Síndrome de hipertensão intra-abdominal ou pressão intra-abdominal > 20 mmHg.
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Terapia nutricional:
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Oferta energética quantificada por calorimetria indireta (padrão-ouro), equação de Harris-Benedict ou a fórmula de bolso (25-30 kcal/kg/dia), com 50% representando os carboidratos;
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Teor proteico de 1,5-2 g/kg/dia (hiperproteico);
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Oferta lipídica < 30%-35% do total de calorias (0,8-1,5 g/kg/dia), podendo ser excluída no caso de hipertrigliceridemia (> 500 mg/dL);
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A maioria dos pacientes tolera dieta polimérica; L-glutamina (0,2 g/kg/dia) é indicada como suplemento à dieta parenteral para imunomodulação em casos selecionados nos quais há contraindicação/intolerância à dieta enteral;
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Suplementação de enzimas pancreáticas não está indicada, exceto em casos de clara insuficiência pancreática exócrina.
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Dieta e Hidratação
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Dieta zero
nas primeiras 48 horas, ajustando para dieta oral, enteral +/- parenteral conforme evolução (seguir recomendações acima).
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SF 0,9%
ou
Ringer lactato
1,5 mL/kg/hora EV precedido de 10 mL/kg em bólus se paciente hipovolêmico. Ajuste posterior conforme resposta clínica, visando à euvolemia.
Antibioticoterapia Empírica
Escolha um dos esquemas a seguir:
Esquema A: Tratamento empírico com monoterapia:
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1
a
linha: Piperacilina + Tazobactam
(4,5 g/20 mL) 4,5 g EV de 6/6 horas, por 3-4 semanas.
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1
a
linha: Meropeném
(1 g/10 mL) 1g EV de 8/8 horas, por 3-4 semanas;
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1
a
linha: Imipeném + Cilastatin
a
(500 mg/100 mL) 500 mg a 1 g EV de 8/8 horas, por 3-4 semanas.
Esquema B: Tratamento empírico com associação:
I.
Cefepima
(1.000-2.000 mg/ampola)
1-2 g EV de 8/8 horas, por 3-4 semanas.
+
II.
Metronidazol
(500 mg/100 mL)
500 mg EV de 8/8 horas, por 3-4 semanas.
Esquema C: Tratamento empírico com associação:
I.
Ciprofloxacino
(400 mg/200 mL)
400 mg EV de 12/12 horas, por 3-4 semanas.
+
II.
Metronidazol
(500 mg/100 mL) 500 mg EV de 8/8 horas, por 3-4 semanas.
Profiláticos e Sintomáticos
1.
Analgésico e antitérmico:
Se presença de dor ou febre ≥ 37,8 °C. Escolha uma das opções:
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Dipirona
(500 mg/mL)
1-2 g EV até de 4/4 horas;
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Dipirona
1 g VO até de 4/4 horas;
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Paracetamol
500-750 mg VO até de 6/6 horas.
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Nalbufina
(opioide) 10 mg EV de 8/8 horas;
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Tramadol
(opioide) 50-100 mg EV até de 6/6 horas;
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Morfina
(opioide) 2-5 mg EV até de 4/4 horas;
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Citrato de fentanila
(opioide)
50-100 microgramas IM/EV ataque. Pode ser realizada analgesia regular com bomba de infusão a 0,7-10 micrograma/kg/hora;
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Petidina
(opioide)
50-150 mg EV até de 4/4 horas (evitar uso).
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2.
Anti-inflamatórios não esteroidais:
Escolha uma das opções:
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Cetoprofeno
100 mg EV de 12/12 horas;
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Cetorolaco
10-30 mg EV de 6/6 horas (dose máxima diária: 90 mg).
3.
Antieméticos:
Se presença de náuseas e/ou vômitos. Escolha uma das opções:
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Metoclopramida
10 mg EV de 8/8 horas;
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Bromoprida
10 mg EV de 8/8 horas;
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Ondansetrona
4-8 mg EV de 8/8 horas.
4.
Tromboprofilaxia:
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Enoxaparina
(40 mg/0,4 mL) 40 mg SC 1x/dia.