Definição: O parto prematuro é aquele que ocorre entre a 22 a e a 36 a semana e 6 dias de gestação.
O aumento da contratilidade uterina e o remodelamento cervical, associados à degradação da matriz extracelular por processos inflamatórios, ambos mediados por prostaglandinas, constituem a via comum para a ativação do trabalho de parto.
São três as principais causas de partos pré-termo: o trabalho de parto prematuro, a rotura prematura pré-termo das membranas ovulares e a prematuridade terapêutica (quando alguma condição mórbida materna e/ou fetal ocasiona a antecipação do parto).
Apesar do melhor conhecimento dos fatores envolvidos na parturição prematura e dos recursos para bloquear o trabalho de parto pré-termo, a incidência de partos prematuros não tem declinado nas últimas décadas; no mundo, é estimada em torno de 5% a 18%, proporcionando o nascimento de aproximadamente 15 milhões de conceptos pré-termo por ano. No Brasil, recentes publicações indicam a incidência oscilando de 6,4% a 15,2%.
Alguns fatores preditivos de parto prematuro podem ser identificados no pré-natal, e medidas preventivas devem ser adotadas.
Antecedente de parto pré-termo espontâneo:
É um fator de grande importância na identificação de risco em uma gestação subsequente, sendo essa informação essencial no pré-natal.
Colo uterino encurtado:
Observado na ultrassonografia transvaginal. Admite-se que a medida do colo pode ser realizada a partir de 16 semanas nos casos considerados de maior risco; essa aferição, nos demais casos, quando disponível, pode ser feita entre 19 e 24 semanas, no momento da ultrassonografia morfológica de segundo trimestre. O comprimento do canal cervical ≤ 25 mm indica maior risco de parto pré-termo, e, quanto mais curto o colo do útero, maior o risco.
Outras condições específicas são citadas na literatura como associadas a maior risco, como:
Quadro clínico: Confirmação da idade gestacional.
Metrossístoles: Contrações uterinas documentadas (4/20 minutos ou 8/60 minutos), com mudanças progressivas no colo uterino.
Exame especular: Investigar amniorrexe prematura.
O diagnóstico da ameaça de parto prematuro é realizado a partir da observação clínica de contrações uterinas regulares associadas a dilatação e/ou apagamento cervical com menos de 37 semanas de idade gestacional.
Cardiotocografia , ultrassonografia obstétrica e Doppler: Quando indicados, para avaliação da vitalidade fetal.
Falso trabalho de parto:
Contrações uterinas regulares que não levam à modificação cervical são frequentes e não devem ser alvo de tratamento.
Indicações de alta: A alta hospitalar pode ser considerada para as pacientes que, 24 horas após a conclusão da corticoterapia e da suspensão da tocólise, tiveram o trabalho de parto interrompido (metrossístoles ausentes, sem progressão da dilatação cervical), contanto que não tenha ocorrido amniorrexe e o processo infeccioso tenha sido descartado ou tratado.
Geralmente é efetiva por 48 horas, sendo indicada para postergar o parto até a ação da corticoterapia.
Corticoterapia antenatal em gestação entre 24 e 34 semanas e índice de tocólise entre 5 e 10.
Contraindicações à tocólise: Após 48 horas, a terapia de manutenção não se mostrou efetiva na prevenção de parto prematuro nem na melhora dos desfechos neonatais, portanto não é recomendada.
Não deve ser empregada antes da viabilidade neonatal.
Sulfato de magnésio: não é aconselhável a associação de agente tocolíticos.
Indicada para gestantes entre 24-34 semanas com risco de parto prematuro dentro de 7 dias.
A administração de corticoide mostrou-se efetiva em reduzir a morbidade e a mortalidade neonatais, com diminuição da frequência e da gravidade de síndrome de angústia respiratória, hemorragia intracraniana e enterocolite necrotizante.
O pico de efeito do tratamento se dá 24 horas após a administração da última dose de medicação.
Em geral, deve-se empregar um único curso de corticoide.
Em alguns casos selecionados, quando a medicação foi administrada há mais de 14 dias e o risco de parto com menos de 34 semanas permanece, pode-se considerar um segundo curso de resgate (ciclo completo).
A administração de mais do que dois cursos da medicação, entretanto,
não é recomendada.
Indicado a gestações entre 24-32 semanas e parto iminente, com o intuito de neuroproteção fetal, mostrou-se efetivo em reduzir a frequência e a gravidade de paralisia cerebral.
Se o parto prematuro for eletivo (por indicação materna ou fetal), deve-se administrar a medicação por 4 horas antes do parto e suspendê-la imediatamente após a extração fetal. Duração máxima de 24 horas.
Dose de ataque:
4 g EV em 30 minutos (8 mL de Sulfato de magnésio a 50% + 12 mL de SG 5% ou AD).
Dose de manutenção:
2 g/hora EV até o parto (4 ampolas de 10 mL a 50% + 460 mL de SG 5% a 50 mL/hora).
Indicada para o trabalho de parto com < 37 semanas, exceto quando houver cultura de swab vaginal negativa recente (colhida há < 5 semanas).
O início da ação se dá 30 minutos após sua administração, e a medicação deve ser empregada até o momento do parto, idealmente por um período mínimo de 4 horas.
A recomendação é que, nesse caso, o atendimento seja sempre presencial.
Autoria principal: Mariana Ferraz (Ginecologia).
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