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Sedação Paliativa

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Prescrição Hospitalar

Orientações ao Prescritor

  • O tratamento medicamentoso deve ser proporcional e individualizado;
  • Discutir o caso com uma equipe especializada de cuidados paliativos pode ajudar a identificar alternativas terapêuticas antes de se definir início da sedação paliativa;
  • A sedação profunda e rápida é indicada somente para situações catastróficas (ex.: hemorragia maciça, asfixia, dispneia terminal grave, etc.);
  • A sedação profunda e contínua é mais bem indicada nas últimas horas/ dias de vida;
  • Em relação à dieta e à hidratação parenteral :
    • Se os efeitos adversos exacerbam o sofrimento do paciente, a redução ou a retirada deve ser considerada;
    • Não há benefício comprovado na sua manutenção na fase final de vida e e pode levar a intercorrências clínicas como broncoaspiração, hipersecretividade em vias aéreas e edema com rompimento da pele;
    • A passagem de SNE ou dispositivo de alimentação em fase final de vida, especialmente no processo ativo de morte, não traz benefícios e aumenta risco de sofrimento ao paciente.
  • Os opioides devem ser mantidos mesmo com sintomas bem controlados, visto que a redução do nível de consciência pode impossibilitar a avaliação correta da dor. As doses devem ser reduzidas, somente se observados sinais de intoxicação;
  • Doses menores devem ser consideradas para com disfunção renal ou caquexia avançada;
  • Doses maiores podem ser necessárias em usuários crônicos de drogas psicoativas (psicotrópicos, álcool e drogas ilícitas);
  • Drogas de escolha:
    • 1ª linha: Benzodiazepínico de uso parenteral - Midazolam;
    • 1ª linha para delirium : Antipsicóticos parenterais (Clorpormazina ou Levomepromazina) em monoterapia ou associados ao Midazolam. Exceto delirium devido a abstinência de álcool ou sedativo-hipnótico, nos quais a 1ª escolha é o benzodiazepínico;
    • Sintoma refratário a associação de benzodiazepínico e antipsicótico ou 3ª linha: Fenobarbital;
    • Refratariedade aos demais: Propofol.
  • Atenção! O uso de Midazolam como monoterapia pode precipitar o delirium e mascarar dor, ocasionando estado arresponsivo sem controle adequado desses sintomas;
  • Se o paciente tem delirium hiperativo , prescrever um antipsicótico associado ou não ao Midazolam:
    • Nesse caso, a Clorpromazina é preferida devido a efeito sedativo desejado.

Passo a Passo Sugerido para a Sedação Paliativa

      1. Avaliar indicação:
    • Paciente em fase avançada ou terminal de doença incurável;
    • Presença de sintomas refratários não controlados por medidas convencionais otimizadas;
    • Avaliação e decisão de equipe multiprofissional, documentada em prontuário.
      2. Processo de tomada de decisão:
    • Decisão compartilhada: Paciente (se capaz), familiares e equipe devem participar. Mais de um profissional deve estar presente como testemunha;
    • Fornecer informações claras sobre diagnóstico, prognóstico, riscos e objetivos da sedação;
    • Respeitar Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV), se houver (Resolução CFM nº 1.995/2012);
    • Na ausência de consenso → encaminhar ao comitê de bioética/ética médica.
      3. Planejamento da sedação:
    • Avaliar nível de consciência antes do início (ex.: escala de Ramsay ou Richmond Agitation-Sedation Scale);
    • Suspender fármacos e profilaxias que não trarão benefício no controle do sintoma;
    • Estabelecer plano de monitorização clínica (ex.: conforto objetivado, sinais de sofrimento);
    • Alinhar suspensão de coleta de sinais de vitais de rotina e glicemia capilar. É esperado que se alterem, podem gerar confusão e angústia nos familiares. Lembrar do foco principal: o conforto do paciente;
    • Ajustar dieta e hidratação;
      • Definir o tipo de sedação:
      • Intermitente/proporcional: Ajustada conforme necessidade;
      • Contínua: Em casos de sintomas muito graves e persistentes.
      4. Definição do fármaco:
    • Avaliar qual a via de administração disponível (EV, IM, SC, VO);
    • Realizar dose de ataque e observar se a sedação foi obtida;
    • Prescrever infusão lenta da sedação (droga, dose, concentração, diluição e velocidade/tempo de infusão).
      5. Registro em prontuário:
    • Indicação clínica clara;
    • Sintomas refratários documentados;
    • Registro da decisão compartilhada e consentimento;
    • Fármacos, doses, ajustes e resposta clínica;
    • Comunicação com a família a cada etapa.
      6. Revisão contínua:
    • Reavaliar periodicamente a necessidade da sedação;
    • Ajustar o nível da sedação;
    • Oferecer apoio psicológico, espiritual e social à família;
    • Se desconforto em vigência de sedação, antes de ajustar a dose, verifique os seguintes pontos:
      • Permeabilidade do acesso venoso e funcionamento da bomba de infusão;
      • Medicações e doses;
      • Algum incômodo do paciente (objetos no leito, fralda molhada, posicionamento, dor, evacuação);
      • Suspensão de medicações que possam causar abstinência (ex.: opioides, corticoides e nicotina);
      • Retenção urinária (bexigoma);
    • Situações em que pode ser suspensa ou reduzida:
      • Melhora dos sintomas refratários;
      • Se o sintoma se torna controlável com medidas convencionais;
      • Objetivo específico alcançado;
      • Em sedação intermitente, quando o paciente já passou por procedimento ou crise sintomática que justificava a sedação;
      • Efeitos adversos desproporcionais;
      • Suspeita de sedação ineficaz, sem alívio do sofrimento (reavaliar fármaco e/ou dose);
      • Desejo do paciente: Se expressa desejo de parar ou foi programada pausa após um período de dias ou horas;
      • A família não está mais de acordo ou solicita a redução (ainda que temporária). Sempre realinhar valores, o que motivou a sedação paliativa e os desejos do paciente (quando acordados previamente) antes da redução ou desligamento da sedação;
      • Se indicada: Suspender/reduzir de forma lenta.
    • Situações em que não deve ser suspensa:
      • Quando o paciente ainda apresenta sofrimento intenso e refratário;
      • Quando a suspensão causaria retorno imediato de sofrimento grave;
      • Fase final da vida com sintomas incontroláveis.
    Cuidados com a Clorpromazina:
  • Preferível quando não há disponibilidade de bomba de infusão contínua ou como adjuvante ao Midazolam (se doses > 20 mg/hora);
  • Priorizar infusão EV. A administração IM é mais desconfortável;
  • A administração por hipodermóclise (SC) é off label. Quando optar pelo uso SC:
    • Dilua em 100 mL de SF 0,9% para infundir em 1 hora;
    • Observe sinais de hiperemia, dor, endurecimento e necrose no local de punção;
    • Avalie trocar sítio de punção ou suspender a droga, se efeitos adversos locais.
    Cuidados com o Fenobarbital:
  • 3ª linha;
  • Se optar por iniciar, suspender demais sedações como Midazolam ou Clorpromazina;
  • Via de administração: SC por hipodermóclise (acesso exclusivo para a droga) ou EV lento.
    Cuidados com o Propofol:
  • Indicado para sedações profundas em ambiente hospitalar;
  • Efeitos Adversos: Hipotensão, bradicardia, depressão respiratória e reações alérgicas raras. Pode causar dor no local de aplicação da veia. A infusão pode ser diluída para reduzir esse efeito.

Dieta e Hidratação

  1. Dieta: Escolha uma das opções:
    • Paciente com despertar intermitente: Dieta de conforto (preferencialmente assistida); [cms-watermark]
    • Paciente com sedação profunda contínua: Jejum + cuidados com a boca. [cms-watermark]
  2. Hidratação: Conforme a necessidade do paciente:
    • Pacientes em processo ativo de morte: Manter soluções com volumes mínimos necessários apenas para a diluição das medicações. [cms-watermark]

Tratamento Farmacológico

Escolha um dos esquemas:

    Esquema A: Droga de 1ª linha:
  • Midazolam posologia variável conforme momento do tratamento: [cms-watermark]
    • Dose de ataque: 2-5 mg EV ou SC em bólus. Repetir a cada 15-30 minutos, se necessário; [cms-watermark]
    • Manutenção: Infusão contínua SC ou EV entre 10-60 mg/24 horas diluído em SF 0,9% ou SG 5%. Dose máxima: 120 mg/24 horas (5 mg/hora); [cms-watermark]
    • Sugestão: Inicie a dose em 1 mg/hora e faça a dose de ataque. Reavalie o paciente a 30 minutos e caso desconfortável, repita a dose de ataque e aumente 0,5 mg/hora na bomba de infusão. Repita o processo até atingir o conforto do paciente; [cms-watermark]
    • Doses acima de 20 mg/24 horas considerar associar antipsicótico (Clorpormazina);
    • Sugestão de diluição (concentração 1 mg/mL): [cms-watermark]
      • Midazolam (ampola de 50 mg/10 mL): Diluir 2 ampolas (100 mg) em 80 mL de SF 0,9% (solução final: 100 mL em 100 mg de Midazolam); [cms-watermark]
      • Midazolam (ampola de 15 mg/3 mL): Diluir 4 ampolas (60 mg) em 48 mL de SF 0,9% (solução final: 60 mL em 60 mg de Midazolam). [cms-watermark]

    Esquema B: D rogas de 2ª linha, mas 1ª linha para delirium : Escolha uma das opções:
  • Clorpromazina [cms-watermark] posologia variável conforme momento do tratamento:
    • Dose de ataque: 12,5-25 mg em bólus; [cms-watermark]
    • Dose de manutenção: Repetir 12,5-50 mg a cada 8-12 horas ou infusão continua SC/EV de 37,5-150 mg/24 horas. Dose máxima sugerida: 300 mg/24 horas; [cms-watermark]
    • Sugestão: Iniciar com 12,5 mg de 8/8 horas e avaliar conforto em 4 horas. Se persistir desconforto, aumentar para 25 mg de 8/8 horas e repetir o processo até dose máxima de 50 mg de 8/8 horas. Após isso, considerar associar outro fármaco;
    • Pode ser feita por via EV ou IM (uso SC por hipodermóclise off label desde que diluída em 100 mL de SF0,9% e correr em 1 hora).

    Esquema C: Droga de 3ª linha:
  • Fenobarbital posologia variável conforme momento do tratamento:
    • Dose de ataque: 12,5-25 mg (IM: 1 mL da ampola, EV: diluir em 10 mL de água destilada ou SF 0,9% e aplicar em 2 minutos) a cada 30 minutos até sedação (dose máxima 1-3 mg/kg);
    • Doses de manutenção: Fenobarbital EV/IM: 12,5-25 mg até de 6/6 horas. Podendo titular dose até 3 mg/kg/dia;
    • Dose de manutenção: 260-1.250 mg de 8/8 horas;
    • Na infusão contínua: Iniciar com 0,5 mg/kg/hora com ajustes de 20-100 mg/hora;
    • Dose máxima: 3 mg/kg/dia;
    • Dada a natureza irritante, a preferência de administração é EV, exclusiva e podendo ser por infusão contínua;
    • No caso de falha com Fenobarbital, considerar uso de Propofol.

    Esquema D: Refratariedade absoluta:
  • Propofol:
    • Dose de ataque: 1-2 mg/kg EV, de forma lenta. Doses adicionais de 10-20 mg administradas a intervalos de 30 segundos até atingir o nível desejado de sedação;
    • Dose de manutenção: 1-4 mg/kg/hora EV, ajustando conforme o nível de sedação requerido.

Tratamento Não Farmacológico

  1. Umidificação e cuidados rigorosos com a boca e olhos.
  2. Mobilização regular no leito.
  3. Hidratação da pele para prevenção de feridas.
  4. Uso de coxins entre as proeminências ósseas.
  5. Monitorização regular de recidiva de sintomas e/ou surgimento de novos sintomas.
  6. Vigilância com ocorrência de bexigoma e retenção fecal.