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Transtorno Psicótico Compartilhado

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Prescrição Ambulatorial

Orientações ao Prescritor

  • Inicialmente, o médico deve estar atento aos diagnósticos diferenciais para o transtorno delirante no caso primário;
  • O princípio da abordagem envolve a separação cautelosa dos indivíduos com o transtorno;
  • Os pacientes podem se beneficiar de psicoterapia e, quando necessário, de farmacoterapia ou mesmo eletroconvulsoterapia (ECT):
    • A farmacoterapia está indicada na maior parte dos casos. As evidências mais recentes mostram que a separação dos casos é insuficiente para a remissão dos sintomas; [cms-watermark]
    • A eleição do fármaco deve ocorrer conforme a patologia psiquiátrica de suspeita (ex.: esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo ) e pode envolver classes farmacológicas distintas. Pela natureza do quadro é possível que o uso de antipsicóticos seja necessário. Todos os antipsicóticos são considerados igualmente eficazes e devem ser escolhidos pelo perfil de tolerabilidade e efeitos colaterais;
    • Contudo, a adesão ao tratamento dos pacientes com transtorno delirante pode ser desafiadora. Casos de má adesão podem ser abordados com medicação de depósito. A prescrição de fármacos de depósito deve ser precedida por um período de teste terapêutico da mesma medicação pela via oral a fim de checar tolerância à medicação e a presença de possíveis eventos adversos graves;
    • Sugere-se o encaminhamento à rede especializada em saúde mental em caso de refratariedade, má resposta ou má adesão ao tratamento.
  • Em alguns casos, a internação pode estar recomendada, como na presença de atos violentos (contra si ou outros) ou quando há importante comprometimento funcional:
    • Nesses casos, os envolvidos deveriam ser admitidos em alas ou hospitais diferentes para assegurar a separação. [cms-watermark]
  • Após a melhora, um trabalho multidisciplinar deve ser desenvolvido de forma a evitar a recorrência dos casos.

Tratamento Farmacológico

    1. Antipsicóticos: Escolha uma das opções a seguir:
  • Antipsicóticos atípicos:
    • Aripiprazol 10 mg/dia, VO (aguardar 2 semanas antes de avaliar reajuste da dose). Progredir dose conforme resposta até a remissão dos sintomas e com tolerância do paciente, sendo a dose máxima 30 mg/dia;
    • Olanzapina 5 mg/dia, VO e realizar aumentos de 5 mg/dia conforme resposta terapêutica até dose máxima de 20 mg/dia;
    • Quetiapina 25 mg 2x/dia e aumentar 25-50 mg 2x/dia a cada dia até a dose alvo de 300-400 mg, VO. Progredir dose conforme resposta até a remissão dos sintomas e com tolerância do paciente, sendo a dose máxima 800 mg/dia;
    • Risperidona 2 mg/dia, VO. Progredir dose conforme resposta até a remissão dos sintomas e com tolerância do paciente, sendo a dose máxima 6-8 mg/dia;
    • Ziprasidona 40 mg 2x/dia, VO, durante as refeições, sendo a dose máxima 80 mg/dia 2x/dia (160 mg/dia).
  • Antipsicóticos típicos de alta potência:
    • Haloperidol 0,5 -2 mg 2-3x/dia, VO. Progredir dose conforme resposta até a remissão dos sintomas e com tolerância do paciente, sendo a dose máxima 15 mg/dia.
  • Antipsicóticos injetáveis (considerar em casos de má adesão):
    • Haloperidol decanoato 10-20x dose oral (é necessário checar tolerância antes com uso oral). Doses > 100 mg IM precisam ser divididas em duas aplicações. Reaplicar a cada 4 semanas;
    • Palmitato de paliperidona checar tolerabilidade com Paliperidona ou Risperidona oral. 150 mg IM no primeiro dia de tratamento, seguido de 100 mg IM 1 semana após. Doses de manutenção entre 25-150 mg IM;
    • Decanoato de Zuclopentixol checar tolerabilidade com Zuclopentixol oral. 200-400 mg (1-2 mL) IM em intervalo de 2 a 4 semanas. Doses e intervalos ajustados conforme a tolerância e resposta do paciente.

Outras Informações

Autoria principal: Paula Benevenuto Hartmann (Psiquiatra pela UFF, Psiquiatra da Infância e Adolescência pela UFF, Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto).

Revisão: Tayne Miranda (Psiquiatra pela USP).

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